CAPA: DANIEL ROCHA E SEUS NOVOS DESAFIOS

Se arriscar e apostar no novo. Sair da zona de conforto e se descobrir mais firme no seu propósito. Tudo isso de uma forma ou de outra passou pela trajetória do ator Daniel Rocha, 29 anos, até aqui. Quando optou por não ter contrato fixo com alguma emissora Daniel viu a possibilidade de alçar novos voos, com uma certa insegurança, mas com a certeza que esse era o caminho. De cara ele enfrentou logo um grande desafio, perder 10kg para interpretar o atleta Popó, com a série “Irmãos Freitas” (Amazon). Seu primeiro protagonista e muitas lições tiradas de tudo isso. Na sequência mais filmes e séries. A mais recente ele estava gravando, “A Névoa” (título provisório), pela HBO quando tiveram que parar as filmagens por conta da pandemia de coronavírus. Mudança de rotina, Daniel se dedicou a estudar inglês, arrumar a casa, cuidar das suas cachorras e se dedicar ao violino. De quebra, se ver um pouco na TV matando saudades do seu personagem Rafael na novela “Totalmente Demais” (de 2014). E foi em casa que ele posou para sua 4ª capa na MENSCH e mostrou um pouco a intimidade em casa.

Em tempos de isolamento social como tem ocupado seu tempo? O que tem descoberto? Tenho visto muitos filmes, muitas séries, faço ginástica em casa mesmo, aproveito a companhia das minhas duas cachorras, Sansa e Olga, voltei a estudar inglês e me reencontrei com uma das minhas paixões de criança, o violino. Tenho estudado e tocado bastante. É uma terapia, me acalma, me traz paz e serenidade. E fora isso, redescobri minha casa também. Mudei o ano passado e por conta da rotina de viagens e gravações, não tinha conseguido deixar o apartamento do meu jeito. Então tenho me dedicado a isso também. Na semana passada, por exemplo, terminei de pendurar quadros que estavam há meses no chão.

E como foi posar para essas fotos via facetime? Qual a maior dificuldade? Nunca tinha feito um trabalho fotográfico dessa forma, e como estou sozinho neste período de isolamento não tinha quem me ajudasse em casa. Então foi bem trabalhoso. Eu usei um ring light para apoiar o celular e o Guilherme Lima (fotógrafo), que aliás foi muito paciente, me ajudou bastante e me orientou em como posicionar milimetricamente o celular. E fiquei surpreso com o resultado, não imaginei que fosse ficar tão bom.

Você estava gravando uma série para a HBO não foi isso? Como será seu personagem? Estava, mas as gravações foram interrompidas por conta da pandemia e estamos aguardando para saber quando retornamos. Nesta série, que tem o título provisório de “A Névoa”, eu interpreto Bento, um executivo do mercado financeiro que tira um ano sabático para se dedicar a uma antiga paixão: o violino.  Mas o que ele não sabe é que…o resto não posso contar. (risos)

Falando em trabalho você está de volta às novelas com reprise de “Totalmente Demais”. Tem acompanhado? Como é para você se rever em um trabalho de alguns anos atrás? Tenho acompanhado sempre que possível. E é uma experiência muito interessante porque o ator cresce com o tempo, amadurece, se modifica, aprende mais, amplia suas referências, sua visão de mundo. Então eu analiso o que fiz e acabo encontrando outras possibilidades de atuação se eu estivesse fazendo aquele personagem hoje.

Não ter contrato fixo na Globo te assusta um pouco ou te dá mais liberdade? Claro que em momentos como esse que estamos atravessando, um contrato fixo deixa qualquer profissional mais tranquilo. Mas eu vejo que este tipo de relação de trabalho está acabando e as emissoras estão acompanhando as mudanças. Sem contrato fixo, os atores podem trabalhar em projetos diversificados, têm mais oportunidades e autonomia para construir a sua trajetória. Eu fiz muitos trabalhos fantásticos, como “Irmãos Freitas”, que não teria feito sem essa liberdade de escolha.

Você foi um dos primeiros atores a optar por não ter longos contratos de exclusividade. Deu um frio na barriga no início? É como eu disse antes. Não me assustou porque assim que saí, surgiu o teste para interpretar Popó e logo depois já estava me preparando para o personagem.

Sem a visibilidade da TV aberta você sente alguma diferença no contato com o público e nas redes sociais? Sempre tem quem pergunte por onde eu ando, o que estou fazendo, porque não volto para as novelas. Mas a maneira de ver TV mudou completamente. Os canais pagos, e os streamings como Netflix e Amazon tem cada vez mais força e vem conquistando um grande público. Então confesso que não senti diferença. O carinho do público continua igual como antes.

Qual o ônus e o bônus da fama? O maior problema é que você fica muito exposto. Qualquer coisa que você faz pode gerar uma notícia que não é verdadeira. Se encontrei uma amiga numa festa, ela já vira namorada, se emagreci pra um personagem, estou doente. E não dá nem tempo de você desmentir porque aquilo já virou verdade pra muita gente. O lado legal é saber que tem muita gente que admira o seu trabalho, e que por ter te visto na TV, vai assistir você no cinema ou no teatro, o que talvez não fizesse se não te conhecesse.

Como aprendeu a lidar com ela? Eu consigo lidar bem com tudo isso e não tenho esse lance da fama mexer comigo. Quero fazer ótimos trabalhos, e é isso o que mais importa pra mim.

E com a vaidade, como lida com ela? Até onde vai sua vaidade? Nessa quarentena, nem sei mais o significado dessa palavra. Só ando de shorts e moleton, minha barba está comprida (e não posso tirá-la completamente por causa da série), meu cabelo também, e nem sei mais o que é uma roupa passada. Mas, na vida normal, gosto de barba e cabelo bem cortado e de me vestir bem (e sou monocromático, só gosto de branco, cinza e preto). E só.

Falando nisso você secou e trabalhou mais sua musculatura para viver Popó em “Irmãos Freitas”. Foi muito sacrifício? Valeu o esforço? Foi bem difícil sim. Tive que emagrecer 10,5K antes de começar a gravar, criei uma rotina de treinos intensos e fiz um regime bem cruel. E teve um episódio também durante as gravações que foi o meu maior sacrifício. Quando o Popó disputou o Cinturão Mundial em Cannes, ele teve que perder 5 quilos de um dia para o outro. E eu quis fazer igual, quis sentir o que ele sentiu pra poder dar maior veracidade à cena. E foi uma das cenas mais bonitas que gravei. E não me arrependo de nada, muito pelo contrário. Foi meu primeiro protagonista, o roteiro é incrível, trabalhei ao lado de atores sensacionais e fui dirigido por dois mestres do audiovisual, Sérgio Machado e Walter Salles. Valeu cada segundo de fome, cansaço e dor no corpo.

Aliás, interpretar um personagem da vida real dá mais trabalho do que um personagem fictício? Trocou muita informação com o próprio Popó? É muito desafiador porque no primeiro momento você se preocupa com as comparações. Mas desde o princípio a minha proposta foi a de criar o meu Popó. Não me preocupei com quem ele era fisicamente, seus gestos, seu jeito de falar, não queria imitar. Eu queria que ele nascesse dentro de mim, eu queria dar o meu olhar a ele. A única coisa que tentei fazer parecido foi o estilo dele boxear no ringue, que era único. É claro que pra isso, conversei muito com a preparadora de elenco, a direção e com o Popó. Inclusive, nos tornamos ótimos amigos.

No cinema esse ano com “A Queda” e “Quem Vai Ficar com Mário?”. O que podemos esperar desses trabalhos? Não sei se eles serão lançados ainda este ano por conta da pandemia. Mas foram trabalhos muito diferentes e muito gratificantes. Em “A Queda”, que é um drama com toques de suspense, trabalhei com um diretor e um diretor de fotografia que não moram no Brasil, então foi uma experiência nova para mim. E a história é muito bonita, que traz acima de tudo uma relação entre um neto e seu avô.

Já “Quem Vai Ficar com Mário?” é uma comédia deliciosa, baseado no filme italiano “O Primeiro Que Disse”. E a adaptação deixou a história com a cara brasileira, sabe, e tenho certeza que o público vai se divertir muito. O curioso é que assisti este filme há mais de dez anos e adorei e fui convidado para fazer o personagem que eu mais tinha gostado na história. O universo às vezes conspira mesmo, né?

O que você tem medo de perder? E o que ainda falta que não te completa? A minha vida hoje está focada no trabalho. Por isso, o meu maior medo é perder a minha capacidade de trabalhar. Eu sou um apaixonado pelo que faço. Estou sempre em busca de personagens e histórias que me desafiem e me realizem, pois isso faz eu me sentir completo.

E o que te inspira? A inspiração vem de muita coisa, e não de uma só. Vem na leitura de um roteiro extraordinário (como o do “Irmãos Freitas” que eu chorava só de ler), de um filme que eu assisto, um livro que eu leio, da música que toco no violino, de uma conversa, até o olhar das minhas cachorras me inspira. E quando a gente menos espera, uma palavra ou um pequeno detalhe qualquer podem ser fonte de inspiração.

O que vem por aí nesse resto de ano? Diante de tudo que vem acontecendo, só Deus sabe.

Passada essa quarentena o que mais deseja fazer? Voltar a trabalhar. Não vejo a hora de pisar num set, vestir o figurino do meu personagem, me maquiar, bater texto com os colegas, e ouvir a palavra mágica: gravando. E claro, poder estar perto de novo das pessoas que são importantes na minha vida.

Fotos Guilherme Lima / Styling Samantha Szczerb