CAPA: MOUHAMED HARFOUCH CELEBRA 30 ANOS DE CARREIRA COM NOVOS PROJETOS

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Acompanhamos a trajetória de Mouhamed Harfouch desde muito cedo através das capas que fizemos com ele desde 2011 quando tivemos a primeira vez ele por aqui. Nesta quinta capa dele para MENSCH, celebramos seus 30 anos de carreira com novos projetos, como a série Rensga Hits, e debatendo sobre música, paternidade e futuro. Afinal, Mouhamed é um cara que sempre mira no futuro trazendo os aprendizados que sua trajetória lhe trás.

Mouhamed, que avaliação você faz desses 30 anos de trajetória artística? Como se vê nos próximos 30? Passa muito rápido. Nunca pensei muito no tempo de caminhada. Comecei muito novo fazendo teatro, viajando com o teatro, batalhando muito. Nada veio fácil. Foi muita ralação, dedicação e perseverança. Cada papel, do menor ao maior, sempre uma aventura, um salto no escuro e uma vontade de descobrir todas as possibilidades. Não é fácil, essa é a alegria da caminhada. Sou muito feliz e grato nesses 30 anos. Feliz de verdade! Foram muitos momentos que guardo com carinho no coração, muitas trocas, aprendizados, colegas inesquecíveis, personagens, histórias, realizações, sonhos e claro – frustrações também. Muitas e muitas dúvidas, momentos difíceis, vontade de parar, desistir, jogar a toalha… Mas agradeço a todos que me disseram sim e também aqueles que disseram não. Todas essas pessoas me fizeram chegar até aqui, todas foram parte da minha construção como artista. 

Falando em números, você está com 46 anos. A proximidade dos 50 já tem mexido com você de alguma forma? Evidente que mexe. Você se reavalia, faz reflexões, fica mais seletivo com seu tempo. A maturidade te traz isso. Não é mais sobre a quantidade do seu tempo, mas a qualidade dele o que realmente importa.  Às vezes, me pego refletindo, me olhando no espelho, vendo as mudanças. Teve um dia que estava vendo uma série, já tarde, e fui ao banheiro, quando acendi a luz e me dei de cara com o espelho, tomei um tempo ali. Me olhei e vi meu pai. Bem doido. (risos) 

Me pego pensando nos muitos papéis que gostaria de ter feito e que já não posso, mas também, em tantos outros que agora se abrem com a proximidade dos 50… Na minha carreira, tem uma coisa curiosa – muitos dos papéis que interpretei antes dos 30, eu poderia interpretar melhor agora. Isso porque, desde mais novo, acabava pegando papéis com mais idade do que realmente tinha.  Lembro que um dos primeiros testes que passei para a TV foi no programa Teca na TV, onde interpretei o Romeu, um pai de uma menina de 7 anos. Ou seja, hoje, seria perfeitamente cabível para mim. (risos) 

Atualmente, você pode ser visto vivendo Chico Buarque na série Betinho, no Globoplay. Considera esse o maior desafio da sua carreira, já que interpretou um personagem real ainda vivo? Recebeu algum retorno do artista sobre sua atuação? Uma tarefa dificílima, evidente. Mas nem pensei nisso, na hora minha alegria em contar a história deste brasileiro chamado Herbert de Sousa e na pele do seu grande amigo Chico Buarque, me trouxe uma alegria imensa. Desse tipo de alegria que te faz ter a certeza de que valeu persistir na caminhada. Era uma participação pequena, mas para mim, era o coração inteiro ali. Chico é um ícone, um dos maiores artistas do nosso país. Uma das escritas mais potentes da nossa MPB, e está aí. Então, o primeiro receio é “Caramba, o cara vai ver…meu Deus”. (risos)

Fui no camarim do seu show Que tal um Samba e estive frente a frente com ele, pela primeira vez. Tiramos uma foto juntos e ele disse “Veja lá o que você vai fazer comigo Mouhamed”! (risos) O que procurei fazer, de verdade, foi jogar uma bola bem redonda com o Julio Andrade em cena e, de futebol, o Chico entende e gosta muito! Durante as gravações o Júlio me perguntou: Mouhamed você toca e canta! Vamos gravar Brejo da Cruz no Memorial da América Latina e recriar o show que o Chico fez em apoio ao Betinho. Foi dos momentos que mais gostei do meu Chico, na série. Um desafio lindo e que amei ter topado! Bom, não soube se ele viu, muito menos se gostou, mas já fui parado algumas vezes por pessoas que me disseram coisas lindas… E como Chico é patrimônio nosso, fico muito feliz com esses retornos! 

Você é um artista que já vimos interpretando os mais variados tipos (da comédia ao drama, passando por trabalhos musicais) em todos os meios (teatro, cinema, TV, streaming e shows). O que ainda falta pra Mouhamed fazer? Falta tanta coisa! Tantos papéis, tantas histórias, gosto do que está por vir… Na minha caminhada, nunca gostei de deixar passar um desafio. Isso nos alimenta, nos deixa vivo, nos coloca em risco e, para um artista, não há nada melhor. Agora, estou me aventurando em escrever e tenho gostado muito. Acabei de escrever o meu segundo monólogo, mas será o primeiro que realmente levarei aos palcos. O anterior, Homem de Lata só fiz online, na pandemia. Com certeza, quero levar esta nova história para os palcos este ano! 

Tradicionalmente, o Brasil é conhecido por grandes bilheterias de cinema com tramas de humor. Como é estar no elenco do filme Nosso lar 2, que já foi visto por quase dois milhões de pessoas? É muito potente! Estou tendo um retorno com o cinema que só pude experimentar na TV. Outro dia, estava no mercado e me gritaram “Oi Isidoro”!!! Recebo muitas mensagens e sou muito parado por pessoas emocionadas com o filme. Recebo mensagem de parentes que me reenviam mensagens que recebem de outras pessoas, falando do filme. Tudo isso é muito forte! Dois filmes nessa retomada do cinema foram os responsáveis por alavancarem as bilheterias do cinema nacional e reconectarem o público com as salas de cinema. A super comédia Minha irmã e eu e Nosso Lar 2 – os mensageiros. Não poderia estar mais feliz com esse retorno! 

Você tem feito shows, lançou clipes e músicas desde que fez o Popstar, em 2019. E, em Rensga Hits, podemos ver Mouhamed cantando e tocando violão. Como é poder mostrar essa sua vertente musical num projeto de audiovisual? Eu confesso que nunca imaginei que a música estaria tão presente e tão associada a minha carreira de ator. Claro que no teatro, esta relação já existia com os musicais que fiz. Mas, depois do PopStar, os shows passaram a ser muito frequentes na minha rotina e de quebra, também em nos meus trabalhos no audiovisual. Em Betinho, toco e canto interpretando Chico, em Rensga com o compositor Isaías, acabo sendo escolhido justamente por transitar nessas duas áreas. Nada de novo. Lá fora, essa escola já é desenvolvida há tempos. Cantar, dançar atuar, tudo isso faz parte da escola de um ator e aqui também. Cada vez mais vemos cantores atuando, atrizes e atores cantando, e ampliando o horizonte artístico. Acho extremante saudável e positivo. Somos artistas e é nossa sensibilidade e poesia sendo emprestada em diversas áreas. No fundo, sempre estamos contando histórias! 

Como lida com o título de galã? Nunca fui! (risos) Sou um galã torto, vai! Lembro de uma matéria nesse sentido no início da minha carreira, falando de mim e de outros atores que não eram galãs clássicos, mas agradavam… Lembro que morri de rir! 

Pelas suas redes sociais, vemos que você parece estar sempre trabalhando, produzindo, mas também sempre parece estar se dedicando de perto à sua família. Como faz para administrar seu tempo no meio de uma agenda tão cheia? Não é fácil. Tento ser o mais presente possível. Eles me acompanham em tudo e faço questão de estar presente nos círculos de amizades deles. Levo e busco na escola, na natação, na terapia… faço sempre que posso. E sei que eles são muito grudados comigo. Vão nos meus camarins do teatro. Meus  ensaios com a banda são na minha casa e eles também participam! O Bento pega um chocalho, pede música, dá sugestão no repertório.  Sei que a saudade, quando viajo, é grande e percebo quando começa a refletir neles de maneira mais sensível. Tento sempre voltar o mais rápido e evito muitas vezes fazer os meus programas, porque quero fazer o deles. Passa tudo muito rápido. Ana Flor já vai para 12 anos, e foi num pulo! O que mais me incomoda, de verdade, é quando estamos presente em casa, mas ausente com eles. Quando fico o pai sério, que educa, que reclama das coisas, que quer tudo certinho, viro a chave, e chamo pra brincar! Brincando, a gente se entende. 

O que a paternidade te trouxe? A paternidade é uma revolução. Vivê-la, é muito transformador. Me despertou para um amor tão profundo que até dói, e que, sem dúvidas, me transformou para melhor como artista, homem e ser humano. 

Você e Clarissa, sua esposa, estão juntos desde que estudaram juntos na faculdade, certo? Como é manter uma relação de tanto tempo? É maravilhoso! Claro que passamos por muitas dificuldades. Não é fácil conhecer o outro tão intimamente e tão bem. Mas é tão bom dividir, construir uma vida com alguém, amar alguém. Quando olho para trás e vejo nossa caminhada, o que construímos juntos sei que não foi brinquedo. Mas, foi divertido e com muito amor. 

Quais seus próximos projetos? Montar meu monólogo e seguir caminhando em busca de novas e boas histórias para contar. Isso é o que me faz vibrar!

Foto Sergio Baia

Styling Marlon Portugal

Assessoria Natasha Stein