CARREIRA: RICARDO CANELLA – NA TRILHA DA REALIZAÇÃO

Do mercado editorial, passando pela criação de marcas próprias até chegar na sua realização pessoa com a música. A trajetória de sucesso do empreendedor e músico Ricardo Canella que caiu em campo para realizar seu sonho pessoal de ser cantor deixando o mundo corporativo em segundo plano.

Ricardo, pouca gente sabe, mas você veio do mercado editorial em uma época em que o mercado de revistas era bem movimentado. Como foi esse período para você? Eu tive a felicidade de trabalhar como alto executivo em vários segmentos e isso me deu uma experiência riquíssima. Fui convidado para ser diretor de publicidade da Editora Abril, onde pude comercializar todas as revistas e para anunciantes bastante representativos. Eles procuravam um diretor que trouxesse para dentro da empresa a cultura de produto, que já estivesse estado do lado do anunciante. Eu estava vivendo uma fase muito legal na Heineken, como gerente de grupo de produtos. Participei do lançamento da Heineken no Brasil e nosso planejamento de marketing envolveu ações que ficaram na historia da marca no Brasil. O Heineken concerts, por exemplo, foi um super evento musical que reuniu grandes nomes da musica nacional e internacional num modelo nunca antes visto. Investimos fortemente em eventos premium, tais como golfe, hipismo, regatas entre outros. A comunicação para um publico premium casava muito bem com a mídia impressa. Voltando para a Editora Abril, a mídia impressa estava em alta. Uma página de Veja custava uma fortuna. Não se podia imaginar um plano de mídia sem revistas e principalmente da Abril. Eu liderava uma equipe de gerentes para cada grupo de revistas masculinas e femininas, tais como, Veja, Exame, Arquitetura e decoração entre outras. Que fase legal! Muitos projetos especiais eram desenvolvidos, especialmente para os clientes da área de grandes contas que implementei na empresa. A Abril era uma potência e brigava, inclusive, pelas verbas que antes eram destinadas apenas para a TV. A variedade de ótimas revistas nos permitia ter uma audiência espetacular. Saudades dessa fase.

Antes você chegou a trabalhar na empresa do seu pai. É isso? Como foi esse início? Quando percebeu que precisava voar com as próprias asas? Me formei em Engenharia influenciado por meu pai e fui trabalhar numa empresa americana de bombas e compressores, na qual ele havia sido diretor. Percebi que estava seguindo o roteiro dele e não o meu. Ficou claro para mim nesse período que, a minha paixão era marketing e gestão de negócios e não aquele “emprego” que estava me corroendo por dentro. Resolvi sair da zona de conforto. Aqui começou a guinada para me especializar na área que me brilhava os olhos. Posicionamento, novos produtos, liderança, gestão de pessoas, planejamento estratégico. Ai, minha carreira entrou no trilho certo.

Qual sua especialização? Me formei em Engenharia Mecânica sem gostar, por influência de meu pai e depois, fiz pós graduação em administração e marketing e vários cursos em comunicação, gestão de negócios, posicionamento de produtos e empresas, vendas, entre outros.

Seguindo sua trilha, você empreendeu na área educacional fundando o Colégio Motivo em Recife que, tempos depois se tornaria um grande sucesso. Qual, ou quais, as razões desse sucesso? Quando percebeu que estava no caminho certo? Eu sempre fui muito irrequieto, focado, devorava conteúdos que me levassem a outros níveis. Eu tinha meu plano de carreira e se a empresa não me desse oportunidade para eu me desenvolver, eu simplesmente buscava uma nova posição em outra empresa, adequada ao meu prosseguimento de carreira.  Geralmente os headhunters me procuravam. A maioria das pessoas se aposenta na mesma empresa, mesmo odiando, com medo de mudanças.

Quando cheguei ao cargo máximo, como CEO de uma empresa, percebi que o próximo passo seria empreender. Eu estava em Recife após ter recebido um convite para dirigir uma das maiores confecções da America latina e surgiu a oportunidade de lançar um colégio de excelência. Percebemos que faltava, na região, um colégio diferenciado, bem estruturado, puxado, com princípios, mas que fizesse o aluno feliz e motivado em estar ali, por fazer parte desse grupo. Chegamos a ter um quarteirão no bairro nobre de Boa Viagem. O crescimento foi exponencial. Treze anos depois, o vendemos com três mil alunos, referência na região e um dos líderes em aprovação nos maiores vestibulares nacionais. Aqui, eu pude colocar em prática todos os conceitos em que eu acreditava. O mundo corporativo em geral é muito chato e não estimula os talentos, priorizando, na maioria das vezes, os conflitos e os puxa-saco.

E em que momento percebeu que precisava seguir em frente e desbravar novos negócios? Já não havia mais espaço em mim para ser executivo para terceiros, por salário nenhum. Depois do colégio, vieram novos empreendimentos. Tenho uma visão muito apurada para negócios e procuro planejar bastante antes de tirar qualquer projeto do papel.

Foi aí que chegou o Greenmix, trazendo uma proposta até então inédita em Recife com a proposta de ser um mercado de alimento saudável. Alimentação saudável é um grande negócio? Quando vendemos o colégio, nossa família tinha muita vontade de empreender na área da saudabilidade. Nossas duas filhas mais velhas da área de marketing e comunicação já pesquisavam bastante o segmento a nível mundial e eram usuárias de alimentação saudável e também sempre fomos ligados a atividades físicas. Eu cheguei a disputar o campeonato carioca de baskeballt e torneios nacionais de squash. Priorizo sempre empresas e produtos diferenciados e inéditos. Procuramos estar sempre à frente do tempo e da concorrência. A alimentação saudável é um caminho sem volta e vem crescendo exponencialmente. O mercado de alimentação saudável no Brasil atingiu R$ 100 bilhões, no ano passado. A Greenmix é a referência nacional no segmento.

Depois de um bom tempo à frente do Greenmix você passou o bastão para suas filhas. Era algo esperado? Em que momento percebeu que tinha chegado a hora de passar o comando para elas? Exato! Esse era o plano – passar o bastão do comando operacional e ficar à frente do conselho e focar nas melhores estratégias e novos negócios. Chegou o momento em que elas haviam conquistado a expertise e conhecimento do dia a dia do negócio que, não fazia mais sentido eu cuidar do operacional. Elas e meu genro, também sócio, estão mais áptos do que eu para essa função e esse era o objetivo. Mantemos contatos frequentes entre nós e os principais executivos, sempre que se faz necessário. Nossa gestão é muito ágil e participativa.

Foi o que você precisava para virar a chave e apostar em você e no seu desejo de se dedicar à música? Quando se descobriu cantor? Exatamente! Pela primeira vez pude tocar um projeto que estava guardado há bastante tempo. Havia chegado a hora de encontrar os profissionais para trilhar este caminho comigo. O meu produtor, baixista, dono do Estúdio Móbile e meu maior incentivador, foi o que faltava para eu realizar esse sonho. Ele se encantou com a ideia do projeto, que tem o seu planejamento, posicionamento e DNA bem definidos. Sugiro que dediquem aos seus sonhos o mesmo planejamento necessário para o sucesso de um empreendimento.

Em sua palestra Empreendendo Sonhos você motiva muita gente a perceber que você nunca tem uma idade para arriscar a realizar seus sonhos. De onde vem isso? Os sonhos existem para serem vividos. Por que não? Quem estipulou que só se vive sonhos até certa idade? Isso é uma insanidade. Não há como ser feliz vivendo sem sonhos ou os colocando para debaixo do tapete. Esse projeto lavou a minha alma. Já imaginou um show para 300 pessoas, após um ano me preparando? A sensação de estar no palco foi indescritível. Procuro sempre estimular as pessoas para que batalhem por seus sonhos. Isso é vida!

Que obstáculos você superou até chegar na sua realização pessoal? Eu nunca havia entrado num estúdio. Mas me senti em casa. Quais eram meus maiores desafios? Montar uma banda de extrema qualidade que me fizesse acreditar no projeto. Fazer novos arranjos para as musicas que me impactaram ao longo da minha vida, decorar as letras, desenvolver técnicas de canto, praticar, praticar, praticar. Precisava também viabilizar os shows sem ser conhecido como cantor.A vantagem é que quem me conhece sabe que eu não faria nada mais ou menos.  A minha autoconfiança e autoestima foram fundamentais para a viabilidade do projeto. Eu não aceito e não me imponho limites para realizar coisas positivas.

Como a música te toca e o que você quer passar com ela? A música está dentro de mim. Sinto e percebo cada nota de melodias de qualidade. Sinto prazer em vocalizar a emoção que a música me causa. Sinto prazer em ser um exemplo para que outras pessoas realizem seus sonhos. Quero ser um exemplo para minha família nunca desistir dos seus sonhos, de buscarem a felicidade. Dou o melhor de mim para que a minha interpretação toque as pessoas e eu consiga passar emoção. Nosso show foi criado para ser uma viagem pelo mundo da música, com clássicos que mexeram e ainda mexem com milhões de pessoas. Nossa proposta é de muita qualidade musical.

Olhando para trás mudaria algo da sua trajetória? E olhando para frente, o que almeja para seu futuro? Eu sempre teria mudanças a fazer na minha trajetória, mas os erros é que nos humanizam.

Fotos Victor Muzzi