CRÔNICAS & INDAGAÇÕES: Pronto, falei! Escolhas e preferências devem ser respeitadas e ponto!

Ando com muita dificuldade em conviver com pessoas herméticas, aprisionadas e tensas. São seres que não se permitem a alegria de ser, de estar, de usufruir o simples e rico fato, de estarem vivos. Vivem censurando, criticando e focando suas existências em julgar e condenar tudo e todos. Entendo que certa crítica, seja inerente ao ser humano, mas pessoas assim, vivem na janela da vida, sem ao menos experimentar a delícia de evoluir, mudar, arriscar, entender ou respeitar as escolhas de cada um. O que mais me espanta nesse universo crítico é a gratuidade. A pessoa do nada e aparentemente sem nenhuma motivação lança flechas verbais em direção à outra, sem o menor filtro ou pudor emocional.

Isso com certeza é uma nova modalidade de violência. Uma agressividade, uma impetuosidade desnecessária que ativa ódio e ressentimento, sem a menor necessidade. Dentro desse panorama negativo, existem também, as modalidades mais brandas e rotineiras de se metralhar o próximo. E me questiono como fica a nossa liberdade de expressão, alvo de inveja, rancor e a mercê de juízes e paladinos da verdade. O que falta em leveza, se excede em prepotência e ausência de uma crítica maior: a auto-crítica. O que é bom para uma determinada pessoa, não se encaixa para outra e assim é a vida. Posicionar-se é uma coisa, agredir é outra bem diferente.

Posição devemos ter e adotar, até como fonte de atitude e de opinião. Escolhas e preferências devem ser respeitadas e ponto! É preciso viver como se estivéssemos sempre de mudança ou de partida. Não criar raiz nesse sentido, gera mais compreensão e mais entendimento. Bom ter sempre uma malinha por perto, para não fixar residência nas certezas. Não há incoerência em mudar, não há contradição em ser inteligente e popular ao mesmo tempo, por exemplo. Somos livres e interessantes o suficiente para mudarmos de opinião, termos outra visão. Que bom que isso acontece. Isso denota maturidade, aprendizado e vivência.

Essa semana causei um enorme espanto, por estar ouvindo e dançando uma musica popular. Havia nessa observação uma crítica à minha opção musical. Não fiz um pacto de fidelidade com o Jazz ou com a MPB, ao ponto de não sentir vontade de dançar ao som do Sorriso Maroto ou do Naldo. Não tenho um perfil monotemático, nem nunca me propus a isso. Hoje me sinto bem mais leve do que anos atrás, o peso do tempo não engordou a minha alma. Pelo contrario, vivo de dieta de produtos nocivos ao meu bem estar. Repaginei minhas musicas, meus livros, minhas prioridades. Adotei naturalmente um estilo mais prosaico de viver e de ver o mundo. Menos expectativa e mais aproveitamento. Sei dos problemas do mundo, da necessidade de se salvar o planeta, mas preciso da pitada da alegria no meu dia a dia pra sobreviver a toda essa responsabilidade que nos cerca. Há poesia sim no cotidiano, na rima boba, na melodia fácil. E se há contentamento, vale à pena.

Faço em meu universo as minhas escolhas, planto minhas arvores e faço o bem, sem ter a pretensão de mudar o mundo. Observo, me informo, mas não me conecto. Entendo, absorvo, mas não guardo. Já estou em uma fase em que arrumar os armários e desarquivar informações, só me acrescenta e revigora. Não quero ser a mais inteligente, a mais articulada, a mais culta. Escutei uma vez que pessoas que gostam de dançar, são as que menos cultivam o hábito da leitura. Que pensamento é esse, que afirma que pessoas que se movimentam são burras?

Esses arautos e filósofos de plantão estão sempre a nos patrulhar com suas farpas melancólicas. Talvez se dançassem de vez em quando, fossem mais doces. Estou de bem com o mundo, estou com a maré. Danço conforme a musica e me sinto bem assim. O que me importa se a TV que assisto é de direita, se ela me entretém e me dá prazer? O que me interessa se o compositor que curto, tem uma vida pessoal nada ortodoxa?

Essa gente que se apropria da cultura em favor de uma ideia e posse de uma verdade, são escravos e prisioneiros de uma ideologia que não vingou. Nem toda contestação é válida, nem todo luto é real. Há causas humanas e mais nobres para serem discutidas. Essas mesmas pessoas que execram ideias e ideais, se chocam quando um líder de uma seita religiosa avança em nossas direções atacando nossos valores mais preciosos. São tão diferentes assim? Há formas de se mostrar contrariedade e de se posicionar, com menos veemência. Exerça a sua opinião de forma mais sutil e delicada. Se ninguém perguntou a sua opinião, não dê. 

Críticos de plantão são pessoas frustradas. São reservatórios de mágoas e toda essa volúpia censora, não os satisfaz. São pessoas com semblantes tensos e com atitudes e gestos rigorosos. Não relaxam nunca. São uns chatos que se aposentam do prazer de viver cedo demais. Envelhecem ainda bem jovens. A vida tem que ser suave, a brincadeira tem que ser justa e sincera, o humor deve ser generoso e sutil. Até os humoristas estão se levando a sério demais, quando perdem o censo e o limite do respeito ao próximo. Estão se tornando tiranos e absolutos  em seus esquetes pretensiosos. Há certo autoritarismo disfarçado de arte e de protesto gritando por aí. Há fartura de soberba entre nós. Estamos sendo bombardeados por uma nova safra terrorista. O terror agora é moral, é ódio disfarçado de opinião.
Hoje entendo perfeitamente a alegria descompromissada de pessoas de classes mais populares. Elas são espontâneas em suas manifestações culturais. Amam o simples, veneram e elegem o descartável com tanta naturalidade e fazem suas escolhas sem buscar parâmetros ou aprovações. A novela ”Avenida Brasil” de forma muito hábil, retratou o subúrbio do Rio e sua riqueza no universo da naturalidade. Fez críticas sutis ao povo da Zona sul, onde a mesma naturalidade já não se faz presente. 

Conservemos nossos valores e essência, mas respeitemos aqueles que por alguma razão do destino, se renderam ao simples e doce estado de ser feliz. Excesso de senso crítico pode fazer muito mal a saúde. “Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa.” Disse com propriedade João Guimarães Rosa em “Grande Sertão Veredas”. Em um momento tão endurecido como esse que vivemos, talvez um pouco menos de “inteligência”, seja um grande sinal de perspicácia…

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