ENTREVISTA: Bruno Garcia, um homem sem fronteiras, um ator sem barreiras

Bruno Garcia é um típico pernambucano que “Fala para o Mundo”. Levado ao mundo das artes pelo pai aproveitou bem as oportunidades que sugiram no início de sua carreira e hoje brinda a todos com o seu talento e carisma. Sem esquecer suas origens e ainda fazendo uso de expressões bem pernambucanas como “pirangueiro” *, Bruno é antes de tudo um homem sem fronteiras, um ator sem barreiras e por isso neutraliza o sotaque para poder interpretar com maestria qualquer personagem que lhe caia. Amante dos amigos celebra-os como quem celebra um tesouro e encontra neles um porto-seguro. Tem tesão por mulheres cultas e admira as conterrâneas por sua inteligência e engajamento em questões sociais e humanitárias. Conheça um pouco mais desse brasileiro de Pernambuco.

Como foi seu início de carreira? Que dificuldades enfrentou e como venceu? Eu comecei no teatro profissional aos 11 anos de idade pelas mãos do meu pai, João Demilton, que também é ator e diretor, quando morávamos em Tucuruí, no Pará; onde ele era responsável pelo Setor de Lazer da hidroelétrica que estava sendo construída no local. Depois voltei pra Recife e não parei mais. Não tive dificuldades ao dar continuidade à minha carreira, pois era muito novo e na época não era muito comum que atores tão jovens estivessem disponíveis no mercado de trabalho, por isso haver muitas oportunidades. Porém, ficou cada vez mais difícil conciliar a vida profissional com a vida escolar e muitas vezes tive que compensar essa dificuldade estudando em dobro.

Você está fora de Pernambuco desde 91, quando volta sente saudade de alguma coisa da época em que morava na terrinha? Sinto falta de alguns lugares que não existem mais onde encontrava meus amigos.Diferente de outros atores nordestinos você faz papeis que não costumam “explorar” a sua origem, exceto Douglas de “Lisbela e o Prisioneiro” e Vincentão do “Auto da Compadecida”. Isso é fruto de uma busca sua em não se tornar um estereótipo? Acho que todo ator, independentemente de sua origem, deve manter seu sotaque neutro justamente para não limitar as possibilidades de atuação. A meu favor contou os anos em que morei no Pará, onde mantive contato com brasileiros de vários estados, além da experiência com comerciais de TV ainda em Recife, onde pude perceber a necessidade de neutralizar a prosódia e o sotaque da minha interpretação.

Trabalhar com pernambucanos como João Falcão, Ariano Suassuna e Guel Arraes dá um gostinho especial? Se sente mais “em casa”? Sem dúvida. O pernambucano tem uma identidade cultural muito forte e essa cumplicidade ajuda imensamente no poder de comunicação.Apesar de fazer parte do núcleo humorístico da novela “Aquele Beijo”, seu personagem, o Joselito, é acometido de uns mistérios e certa angústia. O que mais você pode falar dele pra gente? Joselito é um dos personagens mais complexos que já interpretei numa telenovela. E essa mistura de humor e lirismo ainda vai proporcionar momentos belíssimos para deleite do espectador.

Você participou do lançamento do livro de poemas de Michael Jackson “A dança dos sonhos”. Era fã do cantor? Nunca conheci ninguém da minha geração que não fosse fã do Michael Jackson.

Olindense, Pernambucano, nordestino, brasileiro…com todas essas raízes se considera um cidadão do mundo? Me sinto como aquela rádio do passado: PERNAMBUCO FALANDO PARA O MUNDO! (risos)!

Pitoco, tabacudo, pirraia, pirangueiro, mai teco…alguma dessas expressões tipicamente pernambucanas faz parte do seu vocabulário ainda hoje? Muito difícil manter no dia-a-dia palavras que as pessoas não entendem. É um saco ter que ficar explicando, mas pirangueiro é insubstituível, acho uma palavra perfeita. Essa eu uso, mesmo que tenha que “traduzir” depois.

 

O que é que a pernambucana tem que nenhuma outra tem? E não vale dizer o sotaque, hein?! (risos) Me atrai uma postura engajada que noto na maioria das pernambucanas. Interesse por assuntos como política, filosofia, artes deixam minhas conterrâneas ainda mais charmosas. Cultura dá tesão!Entre suas sobremesas favoritas estão o bolo de rolo e a cartola?Indubitavelmente…

Lembramos de você nos comerciais da Viana Leal com a também pernambucana Patrícia França. Publicidade é um caminho comum para quem quer ser ator? Não necessariamente. O que aconteceu comigo e com alguns outros atores é que vivíamos em um momento onde a única possibilidade de ter contato com a linguagem audiovisual era através da publicidade. Hoje isso mudou e o melhor caminho para ser ator voltou a ser, além de uma sólida formação teatral, o contato com a TV e com o Cinema. A publicidade, em geral, vem como uma consequência dessa trajetória.

 

No seriado “Sexo Frágil” você interpretou várias mulheres. Deu pra entender melhor a alma feminina ou só fez comprovar que é muito melhor ser homem? O que ficou de bom? Interpretar mulheres sempre será um imenso desafio. A oportunidade de poder fazer isso durante tanto tempo, trouxe muito conhecimento e bagagem pra entender ainda mais as diferenças que marcam esses gêneros e a os mistérios da alma humana.

O que é mais difícil de lidar com as mulheres? E o que as torna admiráveis? O mais difícil de lidar com as mulheres é entender as mudanças de direção de seus desejos. As mulheres são admiráveis pela capacidade que elas têm de agregar, dando muito mais sentido ao papel da Humanidade no mundo.

Você é um homem que cultiva os amigos. O que eles representam para você? O lugar onde se pode parar e esperar que uma chuva passe.

Como foi chegar aos 40 anos? Que peso tem a idade? Qual a melhor “tática” para enfrentar o tempo? Sempre gostei de todas as minhas idades. As coisas só têm peso se damos peso a elas. A melhor tática pra enfrentar o tempo é vivê-lo.

Você traz consigo algo de algum personagem que marcou sua vida? O quanto eles te ensinam? Interpretar um personagem é investigar as possibilidades da alma. Todos os personagens que fiz até hoje me fizeram descobrir algo novo em mim e me revelaram novos olhares em relação ao outro.Quem vive um bom momento atual, o cinema nacional, o teatro ou a TV? O que tem evoluído ao longo do tempo no seu ponto de vista? Quem vive um bom momento é o Brasil. Agora que finalmente nos estabilizamos economicamente, é tempo de fazer as reformas necessárias para não perdermos a oportunidade de nos transformarmos numa nação adulta. Enquanto não priorizarmos a Educação como a principal ferramenta para nosso crescimento, de nada adiantará o Cinema ou o Teatro ou a TV estarem bem, pois esse estado será sempre passageiro. Sem ter uma população solidamente educada, estaremos sempre vulneráveis a permanecer na condição de marginais no mundo.

Onde está a felicidade? Não existe caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.

O Dream Team da MENSCH em mais uma produção de sucesso.
Fotógrafo: Sérgio Santoian
Coordenação de Produção: Márcia Dornelles MD Produções www.mdproducoes.com
Styling: Rodrigo Coelho
Make up: G. JuniorBruno Garcia veste:Camisa listrada – Overend
Jaqueta de couro – Forum
Calça – CavaleraLocação: Espaço Cultural Lunático – Jardim Botânico/RJ