ENTREVISTA: Marcelo Varzea, inquieto e talentoso do teatro à TV

Como Marcelo Varzea mesmo fala, ele é simplesmente um “contador de histórias”. Histórias que em muitas vezes são recheadas de dramas, tensão, mas acima de tudo, muitas risadas. Do teatro à TV, o importante é ter um bom personagem e uma história legal para contar para o público. Realizado e realizando novos projetos, Marcelo atualmente vive Lorenzo, seu personagem em Malhação, local onde está se sentindo tão bem acolhido e respeitado como se tivesse encenando um drama no Teatro Municipal. Seguindo a passos largos, Marcelo segue inquieto e intenso desbravando as relações humanas através de seus personagens e suas realizações. Férias? Isso é para os fracos! Siga os passos desse nosso entrevistado e conheça um pouco do seu universo.

Você começou cedo a carreira artística? Alguma influência? Olha, nem comecei tão cedo assim. Oficialmente, me formei aos 22 anos. Nenhuma influência. Pura paixão. Era doido por teatro. Assistia às peças e pensava: essa é a minha turma! Quero estar lá. Pensando bem, talvez, o fato dos meus pais serem, especialmente na minha infância e adolescência o famoso “público de teatro”, que assiste toda a programação, possa ter me influenciado, sim. Pra eles, ir ao teatro era sagrado. Lembro que se arrumavam com esmero. Existia um respeito em frenquentar uma sala de espetáculos. Eles viam tudo!

Você está fazendo trabalhos marcantes na Globo desde 1999. Como foi parar na TV Globo? Como foi teu início? Assim que me formei fiz uma participação numa minissérie chamada “Meu Marido”. Detestei a experiência. Era novo, despreparado, me senti engolido por tudo aquilo. Isso foi primordial pra minha decisão de ir morar em São Paulo, e viver de teatro. Impossível. Obvio. Aos poucos fui fazendo comerciais. Teve uma época que fiz muitos, quase duzentos no total. A Globo, então, me convidou pra um teste da Oficina de Atores e, logo depois, emendei “Chiquinha Gonzaga” com “Força de um Desejo”, meu primeiro contrato na Globo.

Atualmente você está em Malhação, vivendo os dramas da separação. Como está essa nova experiência em um produto voltado para público jovem? Estou adorando. Quase um ano no ar, muitas cenas, um personagem bem escrito, consistente, uns ótimos parceiros de cena e a boa direção de atores do Luiz Henrique Rios e sua equipe. Não consigo pensar que estou num produto teen. Estou contando uma história.

Mesmo envolvido com trabalhos na TV você não larga o teatro. Só pra citar seus últimos trabalhos, você esteve recentemente em “Estranho Casal” de Neil Simon adaptado por Gilberto Braga e depois de uma temporada carioca junto com Betty Gofman, Mouhamed Harfouch em “A Vingança do Espelho” peça sobre a atriz Zezé Macedo. Qual a importância desses últimos trabalhos no teatro? São trabalhos tão diferentes entre si e de todo o resto da minha carreira… Vou tentar achar pontos em comum: Em primeiro lugar, porque sempre fui protagonista e nestes trabalhos, não. Em segundo, porque eram produções cariocas e acho que ainda não finquei meus pés nestes palcos. Em terceiro, por ter sido dirigido por dois mestres do teatro brasileiro Amir Haddad e Celso Nunes. Em quarto, porque voltei às comédias depois de um longo tempo. Em quinto, porque, particularmente, tenho essas peças como um recomeço. E isso é bom. Tem frescor e muitas (risos) descobertas.

Voltando ao seu personagem em Malhação, ele vive uma fase de separação. E você, que na vida real já viveu isso. Viver isso na TV traz algum incomodo ou serve até como uma forma de terapia? Descobriu se existe uma forma menos dolorosa para a separação? Foi uma simples coincidência e eu tinha material emocional suficiente pra me dar suporte nessa empreitada. Diferente do caso de ter que fazer um assassino, por exemplo. Usar como terapia? Não é o caso, até mesmo porque é um assunto bem resolvido na minha vida. Mas de uma forma, ou de outra, dá pra dar uma exorcizada nuns fantasmas que, porventura, tenham ficado malocados. Bem como, dá pra rir de quão patético podemos ser nesse aprisionamento. E, o quando muitas questões são comuns a todos os casais separados, com filhos.

Acha que debater sobre o tema separação em um programa voltado para jovens pode de alguma forma servir de ajuda a esse público que passa por algo na vida real? Com certeza! Sou super tuiteiro, pesquiso a repercussão da trama e muitas, e muitas vezes, li adolescentes se comparando à Lia, ou à Tatá. A maioria delas querendo um pai como o Lorenzo. (risos)

Como é a relação com sua filha, que limites impõe? Malhação tem sido uma forma de “comunicação” entre vocês? A minha relação com a minha filha é muito bacana. Jogo limpo, papo reto, verdade. E, muito amor. Ela demorou pra embarcar na trama da Malhação. Não sei se por falta de interesse, ciúme ou identificação. Mas agora assiste diariamente, vai às gravações quando está no Rio, estuda comigo, me ajuda a decorar… Mas não sei o que pensa a respeito de Lorenzo/Raquel/Marcela e Cia. Não pergunto.

Você já fez dos Normais à série JK. Drama ou comédia? O que tem mais a ver com você, a pessoa e não o ator? E que tipo de comédia te faz rir? Putz! O que tem mais a ver? Sou muito palhaço, muito bem humorado, mas também sou mega dramático, melancólico. Sou um apaixonado, pilhado e intenso em todas as direções. O tipo de comédia que me faz rir é mais ligado à palavra.

Estamos realmente mais preparados para as críticas do que para os elogios? Sinceramente, acho que nenhum dos dois. Ser colocado na berlinda não é fácil.

A década de 80 foi uma das décadas de maior efervescência cultural. Alguma outra depois se compara? Quantos anos você tem? Pergunto isso porque, quando estávamos na década de 80, nossa geração foi esculhambada por ser alienada, por produzir alenas entretenimento, por não dizer a que veio. Hoje em dia, temos no ar uma ode à essa década, mas na época não éramos bem vistos, não. Nem mesmo Cazuza e Renato foram tidos, de cara, como poetas. No teatro viemos depois de Arena, Oficina, Opinião, Asdrúbal… Os anos 80 foram a consagração do besteirol. O cinema nacional estava falido, Collor, Embrafilme, pornochanchada… No finalzinho dos 80 começou o ciclo dos encenadores, no teatro. No início dos 90 o cinema nacional voltou com Carlota Joaquina… Tenho achado as coisas melhores agora. Bons autores nacionais, bons filmes, boa musica… A cultura virou bussiness, mas mantém um bom espaço de investigação de linguagem.

Você acha que a cultura está mais democrática hoje em dia com a informação mais próxima de todas as classes através da tecnologia? Acho. Com certeza. Resta saber o quanto a população se interessa por cultura. Temos um smartphone na mão, com o Google!!! Sou muito curioso a respeito de tudo! Estou com o mundo na palma da minha mão. O que será que eu escolho? Fico impressionado como os fãs, em geral, escrevem mal. Muito mal. Erros grosseiros! Absurdos… E, perguntam: “o que eu tenho que fazer pra ser famoso?”. Pelo amor de Deus!

O que curte ler, ver e ouvir? Biografias, alguns romances, bons cronistas. Gosto de ver jogo do São Paulo, noticiários e séries. Mas, em geral não consigo parar em frente a TV. Música? Todas! Faço tudo de MPB atual e antiquiquíssimas, rock, jazz…

Pelo jeito você vive sempre envolvido em vários projetos. Quando quer tirar férias, para onde vai? Não consegui até hoje me sentir de férias, por que normalmente emendo trabalhos. Quando não aconteceu, não me senti de férias e sim, desempregado. Sou ligado no 220 w. (risos)

E como é a vida fora das telas e palcos? O que o diverte, emociona e o deixa indignado? Diverte? Um bom papo. Emociona? Solidariedade e relações sinceras. Indignado? Abuso.

Seus próximos passos serão… Muitos e largos!

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