ESTRELA: ALINE BORGES BRILHANDO NA TV E NOS PALCOS

Já há alguns anos que Aline Borges está trilhando seu caminho pela dramaturgia, foram diversas novelas e programas de TV, algumas peças e prêmios, mas parece que agora, aos 50 anos, que o Brasil descobriu o talento dessa mulher incrível. Mas especificamente após sua Zuleica na novela Pantanal. Atualmente encarando dois trabalhos, na TV e no teatro, Aline tem se desdobrado, mas tem valido muito à pena. Com um currículo recheado de personagens fortes, ela agora vive sua, digamos primeira vilã. Sua Tânia, em “Dona de Mim” (Globo), é recheada de nuances e um prato cheio para uma boa atriz tomar conta e mostrar do que é capaz. Já no teatro ela vive personagens que sofrem com abusos, preconceitos e discriminação. Também um prato cheio para ela dominar o palco e emocionar a plateia que vai assistir “Migrantes”. Onde atua ao lado do marido e seu enteado. Aqui em entrevista para a MENSCH Aline se mostra como é, um pouco de várias dessas mulheres e um talento para muito mais.

Aline você atualmente vive um momento bem especial da sua carreira com novela e peça de teatro acontecendo ao mesmo tempo. Como administra o tempo e como encara esse desafio? Primeiro eu agradeço a Deus e aos Orixás. Não existe mágica, a colheita é fruto de muito trabalho, de anos de resistência fazendo arte, lidando com os altos e baixos da profissão, o medo e por vezes a calmaria de uma boa colheita. Então, eu administro bem. Firmando meu pezinho no chão, lembrando que é mais uma colheita. O desafio maior é se manter em continuidade.

Depois de participar de Pantanal você volta às novelas com uma personagem bem diferente da anterior. Sua primeira vilã na TV? Aliás, você considera a Tânia uma vilã? Eu tento abrir mão do rótulo pra não reduzir as possibilidades, ninguém é uma coisa só. A Tânia é uma mulher real, movida por desejos, frustrações e ambições, e isso pode soar cruel dependendo do ponto de vista. A Rosane escreveu Tânia como vilã, então eu vou honrar! (risos)… É minha primeira personagem com tons de vilania na TV, isso me instiga como atriz. Então eu tenho me divertido muito. Tive sorte, porque tô na equipe dos sonhos da TV Globo, conduzida por Allan Fiterman.

Perigosa, ciumenta e ardilosa. Como foi o processo de composição de Tânia? O processo ainda tá acontecendo. Tânia está sendo construída a cada nova cena que chega. É uma composição coletiva, que une o texto, o olhar da direção, preparação, figurino, caracterização, atuação… todo esse casamento faz com que uma personagem exista. E graças a isso, eu entro no estúdio sentindo essa personagem, cada vez mais viva em mim.

Alguma inspiração? Tem algumas referências que me inspiram, Carminha, Nazaré Tedesco, Lola, Bia Falcão. Mas as vilãs da vida real, do dia a dia, também me inspiram bastante.

Em geral na TV você vive mulheres fortes. Já no teatro, em “Migrantes”, você vive mulheres fragilizadas. Inclusive uma delas é sequestrada no banheiro do aeroporto e traficada para o exterior. Como isso te tocou? O monólogo de Migrantes fala desses pontos cegos nos aeroportos, onde pessoas desaparecem e ninguém sabe. Levar essa história ao palco me faz refletir sobre vulnerabilidade e impotência diante de uma situação dessas. O público também sai impactado. 

Falando da peça… Ela traz temas fortes e uma triste realidade falando de tráfico de pessoas, imigração e violência contra a mulher. Como está sendo levar esses dramas para o público e como ele está recebendo? O poder de reflexão que a arte provoca nas pessoas é o que me fascina na profissão! A adaptação que Rodrigo França faz do texto de Matei Visniec é cirúrgica. Fala sobre a crise migratória mundial, trazendo vivências de pessoas em refúgio pelo mundo e a falta de humanidade dos países que negam acolhimento. Mas é um paralelo sobre as mazelas que vivemos aqui no Brasil também. Onde vemos mães enterrando seus filhos todos os dias, vítimas do genocídio negro nas comunidades. O público se deixa atravessar e sai refletindo. É inevitável.

De tudo que se discute em “Migrantes”, o que mais te toca? O que mais te incomoda como cidadã e mulher? Acho que a desumanização de certos corpos, entender que as ditas minorias, seguem tendo seus direitos negados e quase ninguém se importa. É uma realidade revoltante.

E como é atuar ao lado do maridão num ambiente onde vocês se conheceram e se apaixonaram? O Alex é um dos maiores atores que conheço. Sua versatilidade, verdade e força cênica sempre me impressionaram. Então eu amo vê-lo atuar! Ta no palco junto dele depois de anos, e do meu enteado Tom Nader, é um presente lindo que Rodrigo nos deu!

Recentemente, citando os ataques de ciúmes da personagem Tânia, você comentou que não é ciumenta e que inclusive vive um casamento não monogâmico. Como equilibram isso com os desejos um do outro e o desejo em comum de estarem juntos? A gente se respeita. A única lei que existe entre nós é a do respeito mútuo, e não existe mistério nem segredo nisso! Cito aqui o poeta Raul Seixas, que traduz bem o tipo de relação que temos. “Faça o que tu queres, pois é tudo da lei.” E assim já são 16 anos vivendo bem, obrigada! (risos)

Qual o segredo, se é que ele existe, de um bom relacionamento? O que vocês praticam para isso acontecer? Não existe uma receita porque cada encontro é único. Mas acho que o respeito e a liberdade precisam caminhar juntos pra que uma relação siga saudável. É a gente saber que ninguém é de ninguém. Quanto mais livre pra voar, mas eu curto o gosto de querer ficar!

Falando em vaidade… como lida com isso como mulher e atriz? Sou vaidosa sem exageros e neuras. Na adolescência me achava bem feia. E hoje entendo que era uma busca pra alcançar um padrão que não me cabia. Isso gerava sofrimento. Hoje eu me acho bonita, independente de estar ou não no padrão. Eu me amo, e isso é muita coisa!

Muito se fala em etarismo hoje em dia… E no seu caso parece que a maturidade te abriu mais portas. Parece que você vive seu melhor momento como atriz. É isso? Como enxerga isso? Vivo um momento de vento bom sim! Talvez o mais próspero em 30 anos de profissão. Precisei fazer 50 pra que o sol firmasse o ponto. A maturidade facilita um pouco nossa vida, então as coisas ganham novos significados. A ansiedade atrapalha o fluxo da vida. Somos uma sociedade ansiosa, atrás de resultados imediatos, sem paciência, nem resiliência. Aprendi com a ancestralidade há respeitar o tempo. Tempo é Orixá. Quando a gente aprende isso, perde o medo da velhice. A riqueza de viver o melhor momento da carreira aos 50 anos, é que não cabe deslumbramento.

O que te encanta e conquista? Gente de bem. Com o coração bom. Gente de verdade. Gente simples, que olha no olho, que escuta. Gente que canta, que sabe perdoar e sorrir a vida.

Fotos Diego Baptista (@diegobaptista)

Beleza Diego Nardes (@diegonardes) e Lucas Tetteo (@lucastetteo)

Assistente de beleza Renata Terra (@terrarenataa)

Stylist Fernanda Brasil (@fernandah_brasil)