MÚSICA: O homem e seus discos de vinil

O Long Play, ou LP, produzido com um material chamado vinil, surgiu na década de 40. A primeira gravadora a lançar discos neste formato foi a Columbia Records e na equipe responsável pelo desenvolvimento da tecnologia dois nomes se destacam Howard H. Scott e Peter Goldmark. Para muitos este formato de mídia pode estar ultrapassado, mas para os amantes de um bom “microssulcos”, arranhaduras espiraladas, que conduzem uma agulha por um aparelho chamado toca discos, como se estivesse bailando em um salão de dança de 30 cm diâmetro, esta não é a realidade. A gravação é analógica, em média 25 minutos de puro prazer e sensações auditivas únicas, o som é produzido pelo vibrar da agulha sobre os sulcos microscópicos produzindo sinais elétricos que uma vez amplificados transformam-se em sons. A relação de amor entre as pessoas com o vinil continua sendo um fenômeno, mesmo com a capacidade de armazenamento reduzida e alto valor. A experiência musical única segundo os fãs vale a pena e reaquece o mercado.

A morte anunciada na década de 90 por uma corrente defensora do Compact Disc (CD) não se confirmou e em pleno 2014 seus usuários cultuam cada vez mais seus achados fonográficos. O famoso “bolachão”, como também é carinhosamente conhecido, resistiu tornando-se um mercado promissor para artistas e bom negócio para os investidores antenados. Segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica, em 2012 a venda de vinis faturou uma média de 117 milhões de dólares. Em recente pesquisa realizada pela Nielsen SoundScan, (empresa responsável pelo levantamento de vendas dos mercados dos Estados Unidos e do Canadá) mostrou um crescimento de 33,5% nestes países e 78% no Reino Unido. Segundo a empresa Mercado Livre, o Brasil segue a tendência e a comercialização no portal já corresponde a 27% do volume de vendas no setor. A Polysom é a única fábrica de vinil da América Latina e está localizada no Rio de Janeiro.

Conversamos com China, músico, compositor, apresentador de TV, VJ, repórter e produtor que nasceu em Olinda e que atualmente mora em São Paulo sobre a volta do vinil. China declara: “Não acho que o vinil vai substituir o CD ou a música digital, mas fico feliz que tenha voltado ao mercado, pois é mais um produto a disposição do fã. Imagina o cara que é fã de Lenine, por exemplo, ele pode ter o CD e o LP, e todo cara que é fã mesmo quer ter todos os formatos possíveis da obra desse artista. Além disso, é bem mais lucrativo vender LPs, pois o fã paga o valor indicado já que sabe que aquela peça custou caro, e sabe também que aquilo é um item de colecionador”.

A história do cantor com LP é antiga, “Comecei a ouvir discos desde pequeno por causa dos meus pais e desde então gosto do bolachão. É mais charmoso que o CD, e tem um som melhor. Os músicos de jazz falam que o vinil tem uma onda sonora que é o suprassumo da música, e nunca vai existir essa onda num CD, pois o CD lê dígitos binários. O vinil também tem o lance da capa, que é bem maior do que o CD, e o ritual de virar o lado, né? Ou seja, num CD você pode dar um shuffle e tocar do jeito que quiser, e assim a sua atenção se perde um pouco, pois não precisa parar pra virar lado nem nada. No vinil tem o ritual de parar pra ouvir um som. É completamente diferente e muito mais atraente.” 


Segundo China, o lugar mais legal pra garimpar LPs são mesmo os sebos. “O primeiro disco que tive foi um do talking heads, aquele que tem o macaco na capa, sabe? Troquei com meu irmão por uma luva de goleiro. Já cometi muita loucura por causa dos LPs. Já cheguei a gastar 1.500 reais em disco numa loja. O primeiro cachê que ganhei na vida foi gasto na mesma hora em uma loja de discos e enquanto o resto da banda voltava pra recife com dinheiro no bolso, eu voltava com uma sacola cheia de discos. Tenho que me controlar, sei disso, mas fico pensando… se eu não comprar, outro vem e leva essa relíquia. A cena mais engraçada foi quando eu estava no centro do Recife com apenas um vale transporte pra voltar pra Olinda, onde morava, e achei num sebo um LP raro de Jorge Ben que estava muito barato. Troquei o vale transporte no disco e voltei andando pra casa, 2 horas de caminhada.”

Em 2012 China lançou o elogiado Moto Contínuo, e optou produzi-lo nos 2 formatos: CD e Vinil. Uma experiência tanto fonográfica quanto comercial. “Com a venda dos LPs eu consegui bancar a tiragem de CDs. É bem lucrativo o negócio, pois como falei acima, as pessoas sabem o valor e pagam por aquilo. Pretendo sim fazer tiragens em CD e LP do telemática, e quem sabe até relançar outros discos meus em LP. Ainda é caro produzir LPs no Brasil, só temos uma fábrica aqui, mas o esforço vale a pena.”