SAÚDE: SONO E OBESIDADE: A CONEXÃO SILENCIOSA

Desde cedo, ouvimos que dormir bem é essencial. Quando crianças, resistimos ao sono como se ele nos roubasse tempo de diversão. Já na vida adulta, a situação se inverte – queremos descansar, mas nos falta tempo ou qualidade. A vida moderna, com suas urgências ininterruptas, compromete o sono de maneira profunda. Estendemos o trabalho até tarde, carregamos para a cama o estresse do dia e, muitas vezes, sacrificamos as horas de sono como se fossem um luxo.

O número de pessoas com distúrbios do sono cresce continuamente e, paralelamente – os índices de obesidade também. Essa correlação não é coincidência. Há uma relação bem estabelecida entre a má qualidade do sono e o ganho de peso. Dormir pouco ou mal — com sono fragmentado, inquieto ou superficial altera, profundamente, o metabolismo. É o chamado sono não reparador – aquele que permite ao corpo repousar, mas não o suficiente para se renovar e se reestabelecer.

MAS POR QUE ISSO ACONTECE?

Durante o sono, há uma regulação refinada de hormônios e substâncias que impactam diretamente o metabolismo. A privação e a má qualidade do sono desorganizam esse equilíbrio. Pessoas que dormem mal, tendem a ter menos energia no dia seguinte, o que leva a um estilo de vida mais sedentário. Além disso, há um aumento significativo do apetite — estudos apontam que, após uma noite mal dormida, o consumo calórico pode ser até 500 calorias maior no dia seguinte, com preferência por alimentos ricos em carboidratos. Essa resposta tem explicação hormonal: a leptina — hormônio da saciedade é reduzida, enquanto a grelina — que estimula a fome, aumenta. Ou seja, mais fome e menos saciedade.

A má qualidade do sono também interfere nos níveis de cortisol (hormônio do estresse), reduz a secreção de GH (hormônio do crescimento), eleva a glicose circulante e diminui a sensibilidade à insulina. O resultado é um terreno fértil para o acúmulo de gordura, pior – o cortisol em excesso ainda favorece a perda de massa muscular. Em outras palavras, dormir mal engorda e, ao mesmo tempo, enfraquece.

E será que o oposto também é verdadeiro? Será que dormir bem facilita o emagrecimento? A ciência ainda não demonstra evidências robustas de que dormir melhor, por si só, leve à perda de peso. No entanto, preservar um sono saudável é, no mínimo, uma forma de evitar um dos grandes sabotadores do emagrecimento.

Dormir bem exige mudanças de comportamento. O erro mais comum é recorrer diretamente a medicamentos — e muitos deles apenas “desligam” o cérebro, sem oferecer um sono verdadeiramente restaurador. Defendo que remédios, sejam o último recurso. Mesmo quem já faz uso de medicação precisa ajustar hábitos noturnos, corrigir erros e trabalhar para conquistar noites naturalmente melhores.

Afinal, não se trata apenas de dormir — mas de dormir bem.