CAPA: A VOLTA INSPIRADA DE MARCOS VERAS

O ator Marcos Veras já é prata da casa, aliás, ouro! Talento e simpatia têm de sobra aí. Tanto que nessa 4ª capa da MENSCH, que celebra o retorno de Veras à TV com o papel de um galanteador trapaceiro na novela Além da Ilusão (Globo). Se você der uma olhada nos últimos trabalhos dele, vai perceber o quanto esse cara é versátil. Do drama ao humor (que o consagrou), é só um detalhe. Afinal ele tira de letra. Mas é no papel de pai que nosso homem da capa se supera, e se derrete, ao falar do pequeno Davi chegou em meio a pandemia, e revelou atributos que nem Veras sabia que tinha. Mas tudo faz parte do processo evolutivo. “Um cara feliz, maduro, melhor, realizado e que continua sonhando e querendo mais como ser humano e profissional”, conclui Marcos Veras no final do nosso papo.

Primeiro agradecer e dizer que é um prazer tê-lo de volta. E agora de volta à TV com o galanteador e trapaceiro Enrico Prata em Além da Ilusão. Como está sendo essa volta às novelas depois de uma pausa? Eu que agradeço o carinho de vocês comigo sempre. Está sendo muito bom voltar à vida quase que normal, ainda que a pandemia não tenha chegado ao fim. A queda dos números nos permitiu voltar ao trabalho presencial, olhar nos olhos das pessoas, voltar a abraçar um amigo. Estava com saudade dos estúdios, da câmera, da equipe, desse ambiente do set de filmagem. É emocionante o reencontro com as pessoas e com ambiente de trabalho. 

Aliás, entre Verão 90 (sua última novela) até Além da Ilusão, você passou pelo cinema (Um Casal Inseparável), série (Filhas de Eva) e a Escolinha. Como foi isso? Três personagens bem diferentes em três propostas também bem diferentes. Sim! Verão 90 em 2019 foi minha última novela. Em 2020, dias antes do COVID chegar ao Brasil, finalizamos as filmagens de Um Casal Inseparável, uma comédia romântica deliciosa filmada num Rio de Janeiro solar, feliz e sem virus. Paralelamente, estava gravando também a série Filhas de Eva para o GloboPlay e já disponível e que em breve será exibida também na TV Globo. É uma série incrível que fala da força feminina. Eu faço um jornalista tímido que fica entre a profissão e uma paixão. Ainda em 2020, também já com a pandemia instalada no Brasil, conseguimos gravar uma temporada inédita da Escolinha do Professor Raimundo seguindo um rígido protocolo de saúde e segurança. E deu certo. Lá, eu faço o João Canabrava personagem imortalizado por Tom Cavalcante. Era uma farra gravar a Escolinha. E são três trabalhos completamente diferentes e que me deixam muito feliz quando vejo o resultado. Essa versatilidade nos trabalhos é o que mais me interessa na profissão. 

Voltando a Enrico Prata… Como está sendo fazer esse cara cheio de enroladas? E o que podemos esperar dele? Enrico é um malandro aproveitador de corações carentes. Um cara que gosta do bom e do melhor, mas não tem onde cair morto. E usa do charme e da conquista pra conseguir o que quer. Gosta de luxo, de dinheiro, da noite e de mulheres. Acho que ele pode despertar no público amor, raiva, risos, choros, tudo junto. Ele tem o caráter duvidoso, mas também tem o seu valor. 

E para o visual novo, um belo bigodinho… Como foi a preparação até chegar no perfil ideal para Enrico? A novela se passa nos anos 40 e visualmente era uma época muita rica. Os homens andavam em sua grande maioria sempre elegantes, com ternos, chapéus. E o bigode traz pra mim, automaticamente, um ar de canalhice com simpatia. Dividi a ideia com a equipe de caracterização e direção que toparam na hora. Além de eu estar a cara do meu falecido pai, então, acabou sendo uma homenagem também. 

Por sinal seu personagem chega para trazer humor à trama das 18h. O humor te persegue ou você persegue o humor? (risos) Na verdade, ele não chega pra exatamente trazer humor porque acho que isso reduz a trama e o personagem a uma coisa só. E não é só isso. É isso também. Acho que a palavra pode ser leveza, alívio. Até porque ele vai aprontar algumas coisas nada engraçadas (risos). Acho que Enrico vai trazer um pouco de cada coisa. É um personagem múltiplo e as cenas são ótimas. Mas acho que a comédia é o meu cartão de visitas, sim. Embora venha, cada vez mais, fazendo trabalhos que não são ligados ao humor, tanto na TV, quanto no cinema. Humor é um gênero rico. Com ele você pode emocionar, criticar, fazer pensar e até fazer rir. Mas onde eu puder colocar humor, eu coloco, mesmo no drama. Nem sempre a história permite, mas sempre que dá, acho importante. Enriquece. Tenho muito orgulho de vir da comédia. 

No dia-a-dia você é um cara de bom humor? Você parece ser tranquilão. É isso ou disfarça bem? (risos) Acho que, no geral, sou muito bem humorado. Sou  um cara sério, disciplinado, mas de bem com a vida. Mas claro que tem dias que a gente não quer conversa. Na maioria do tempo, é o que mais gosto de fazer – é conversar. E estou sempre buscando ver a vida por um lado otimista. Não é fácil, é verdade. Mas é um exercício que me faz bem. 

Quem parece ser responsável por esse bom humor em casa, é o pequeno Davi… Ahhh! Meu coração derrete de amor só de pensar nele. Ele sim é um motivo diário de bom humor, de amor, de felicidade. É por ele que me levanto todos os dias pra viver. É a nossa alegria em casa

É seu melhor papel, ser pai? Como isso mudou o cara que você é hoje? Acho que sim! A paternidade é mágica. Me tornei um ser humano muito mais legal. Cheio de defeitos como qualquer um, mas ciente da minha responsabilidade em criar um ser humaninho. E mais, criar um menino. Educar  pra que ele não seja machista, preconceituoso, que seja um homem bacana, ciente. Isso é de uma força enorme. Eu aprendo muito com ele. Fora o amor que sinto que é algo inexplicável. 

Em que a paternidade te assustou (se é que assustou em algo)? Sempre quis ser pai. E acho que ter sido pai aos 40 foi importante pra mim, me senti mais maduro, mais estabelecido na profissão, me senti pronto. Então ser pai não me assustou, nem no início, quando tudo é mais delicado. Ele, eu, o puerpério, a amamentação, tudo isso é intenso e difícil. É tudo frágil e forte ao mesmo tempo. E posso dizer que eu e Rosanne nos saímos muito bem. Mas o que me assustou e muito, foi ser pai durante uma pandemia. Grande parte da gestação da Rosanne, foi no auge do vírus. Se sabia muito pouco sobre ele. Se pegava na mãe, se passava pro bebê na barriga, ou não. As idas aos exames de rotina na gravidez, eram tensas e caóticas. Pegar elevador, usar três máscaras. Esse cenário, sim, assustou. Mas no fim, deu certo. 

Como foi viver esse período de quarentena e pandemia com a chegada de Davi? Momentos tensos ou você e Rosanne tiraram de letra dentro do possível? Hoje, olhando pra trás, consigo ver que nos saímos bem. Mas foi tenso demais. Ficar longe da família e amigos num momento de compartilhar amor que é esse momento de ter um filho, foi muito difícil. Não tivemos chá de bebê, encontros, nada disso. Alguns familiares próximos só conhecerem Davi no aniversário de um ano e, ainda assim, isso foi cheio de restrições e cuidados. Nós dois nos viramos e fizemos  o quartinho dele – pintamos, decoramos, compramos tudo pela internet, até porque não podia receber ninguém. E isso tem um gostinho especial pra gente. Temos orgulho. Ficamos mais juntos, mais unidos. E não posso deixar de citar e agradecer as vovós. Minha mãe e minha sogra ajudaram bastante como puderam e foram superimportantes. 

E para o ator Marcos Veras, como foi ficar guardado em casa? Sem filmar, sem plateia… Como ocupou o tempo? Difícil né? Tenho total noção de que sou um privilegiado. Pude ficar em casa e me protegi o máximo que pude. Não é a realidade da grande maioria, infelizmente. Meu irmão, por exemplo, continuou trabalhando normalmente como muitos brasileiros. Mas me ocupei com o barrigão lindo da Rosanne. Vi muitos filmes e séries, fiz lives no Instagram pra falar com as pessoas, fiz um programa na web com a Rosanne sobre esses filhos da quarentena. Tive um quadro no Encontro com Fátima, mas tudo de forma virtual. Ainda bem que existe a Internet né, senão seria mais difícil ainda. Mas nada se compara ao contato físico real. Senti falta do aplauso. Fiz um evento online onde os microfones das pessoas ficavam fechados por causa do barulho, e no fim da apresentação, pedi pra abrirem os microfones e aplaudirem, rirem, gritarem, qualquer coisa que lembrasse o contato olho no olho.

O que te diverte e coloca um sorriso no rosto? Meu filho, minha família e meu trabalho. 

E o que te tira do sério? Muitas coisas, mas vou escolher. Desigualdade, que nesse período aumentou muito. Gente mal educada. Outro dia um carro na minha frente – em 5 minutos, as pessoas jogaram três copos de plástico pela janela na rua. Fiquei revoltado. Uma pena esse comportamento. E esse governo que despreza a vida e os reais problemas do Brasil.

Nas horas vagas o que tem lido, ouvido e assistido? Tenho lido muito pouco. Leio as notícias todos os dias pra me inteirar do mundo. Ouço música sempre, em casa, no carro. E no momento, além de Mundo Bita e Hora do Blec por causa do meu filho que pede sempre. Ouço samba e jazz. Mas o que ainda faço com frequência é ver séries e filmes. Vi recentemente Succession e After Life, séries incríveis e também os filmes do Oscar. 

Nossa primeira entrevista/capa foi em junho de 2014. De lá pra cá muitas evoluções e revoluções como pessoa e ator. Como definiria o Marcos Veras de hoje? Um cara feliz, maduro, melhor, realizado e que continua sonhando e querendo mais como ser humano e profissional.

Fotos Marcio Farias

Styling Samantha Szczerb

Agradecimentos: Atelier Marie Lafayette, Eduardo Guinle, Hugo Boss, Foxton e Vert