
Depois de encarar diversos personagens marcantes na TV e se desafiar com projetos no cinema e teatro, Mateus Solano agora está nos palcos com seu primeiro monólogo. E tem mais, assinando o texto juntamente com Miguel Thiré e Isabel Teixeira. Mesmo para um ator tão experiente e tarimbado, isso chega a ser um belo desafio em tantos anos de carreira. Segundo Mateus, estar sozinho no palco tem proporcionado um crescimento nunca antes sentido para ele como ator. Além de talentosíssimo, Mateus é um cidadão consciente dos seus direitos e deveres. Atento aos direitos de uso de imagem, assim como os cuidados com o planeta ele segue sua luta fora dos estúdios e longe das câmeras por um mercado mais justo e um planeta mais saudável. Nesta entrevista exclusiva para a MENSCH (que bom tê-lo de volta na nossa capa) ele abre o jogo e nos conta com seu jeito atencioso e gentil de sempre como andam as coisas.
Mateus Solano está viajando pelo país com seu primeiro monólogo O Figurante. Por que fazer uma peça solo após tantos anos de carreira? E como tem sido essa experiência de estar sozinho num palco? Resolvi fazer um monólogo porque me senti preparado para tal. No momento de carreira em que eu saía de um contrato longo com a Rede Globo, resolvi entender como artista o que eu queria colocar em cena. E tem sido muito rica essa troca com o público, por todo o país. Estar sozinho no palco tem me feito crescer como nunca antes na minha profissão.



Além de atuar em O Figurante, você é um dos autores do texto, ao lado de Miguel Thiré e Isabel Teixeira. De onde veio a ideia para o texto? Pensa em fazer novos projetos como autor? A construção da peça O Figurante foi a partir do processo de Escrita na Cena da Isabel Teixeira, que consiste em transcrever grandes improvisos e fluxos narrativos que eu ia enviando para ela. Depois de muita discussão junto com Miguel, a peça foi se construindo. É um processo muito especial, que parte de um lugar inconsciente. Portanto, sigo aprendendo com a peça mesmo – e talvez principalmente – por ela ter saído de dentro de mim.
Aliás, O Figurante vem sendo indicada a vários prêmios importantes de teatro. Como é ver um projeto de sua autoria sendo reconhecido? E como tem sido o retorno do público que tem assistido a essa peça? A minha maior alegria é ver que questões que me são caras, que me tocam enquanto ser humano, tocam também a quem tem ido assistir. A peça é uma comédia, mas também tem tristeza e toca em pontos muito importantes… De alguma forma, ela atira para todos os lados e acaba acertando, inevitavelmente, em algum lugar, o espectador. Tem sido muito gratificante esse retorno do público e também da crítica teatral.

Em 2026, você vai levar a peça para uma temporada em Portugal. Pensa em uma carreira artística internacional? Nunca pensei em fazer uma carreira artística internacional, mas já levei duas peças para fora do país. E gosto muito de ver o carinho que as pessoas têm por meu trabalho lá fora. Claro que eu adoraria fazer teatro em muitos outros lugares, mas dizer que eu penso em uma carreira artística internacional não seria verdade.
Você está rodando o filme Ataque ao Metrô e acabou de fazer o curta Estrelas Fluorescentes. Como você enxerga esse momento do cinema nacional depois que algumas produções nossas passaram a ser premiadas pelo mundo? Não saberia dizer como anda o momento do cinema nacional. Se por um lado temos o reconhecimento internacional – que parece que é o único momento em que nos damos valor. Por outro lado, temos a questão dos streamings entrando com força total e levando 100% do que lucram aqui. E tem a questão da inteligência artificial, que vai invadindo nosso espaço. Portanto, têm os dois lados bem fortes nessa história.
Você está envolvido em uma campanha em prol da regulamentação dos direitos autorais dos artistas. Em que pé está essa batalha? E como você enxerga o uso de IA no audiovisual? É uma batalha muito difícil, como todas as batalhas que se travam hoje em dia com os poderosos por detrás das big techs. Eu enxergo a inteligência artificial com muito, muito medo, pois ela serve ao mundo da pós-verdade em que estamos vivendo. E, portanto, é extremamente perigosa.


Há anos, Mateus Solano também é bastante engajado nas questões ambientais. Como você acha que as pessoas estão vendo atualmente a emergência de se cuidar do planeta? Percebe alguma mudança de atitude nas pessoas desde que você passou a falar do assunto? Infelizmente, me parece que a humanidade só evolui na questão ambiental com a corda no pescoço. Seria preciso um despertar e ele só se dá através de tragédia e desastre climático. E ainda assim muito devagar. Os poderosos, que poderiam fazer muito, estão blindados e vivendo em Nárnia enquanto a humanidade vive a realidade do aquecimento global. Portanto, vamos sendo empurrados para a única solução para a nossa sobrevivência que é sermos mais sustentáveis, mas não sei o que vai sobrar para nossos netos. Seremos justamente culpabilizados num futuro próximo.
Em entrevistas, você chegou a comentar sobre a recusa de fazer trabalhos para empresas que não se preocupam com o meio ambiente. E pesquisas mostram que muita gente pelo mundo tem adotado essa prática, chamada de climate quitting. Como isso já impactou sua carreira? Se por um lado deixei de ganhar muito dinheiro, por outro lado creio que tenho cada vez mais solidificada a imagem de um defensor do meio ambiente e já pude também ser chamado para trabalhos como tal. É de fato uma escolha. Precisamos abraçar inteiramente nossas escolhas, não é?


Em 2026, Mateus Solano festeja 30 anos de dedicação à vida artística. E como avalia essa sua trajetória? O que teria feito de diferente? Caramba, 30 anos… Tenho muito orgulho da minha trajetória e nunca pensei que gostaria de ter feito algo diferente. Todos os erros e acertos me levaram a ser quem eu sou hoje. Estou muito satisfeito.
Com tanto tempo de carreira, o que Mateus Solano ainda não realizou profissionalmente? Creio que a vida vem sendo bastante generosa em me oferecer desafios profissionais instigantes a cada passo que dou na carreira. No momento, eu gostaria de voltar para a escola e cursar talvez uma pós-graduação ou mesmo cursos de teatro pelo Brasil e pelo exterior. Quero seguir me desenvolvendo sempre, que o trabalho do ator só acaba quando ele se vai e as cortinas se fecham.

Fotos e styling @marifranca_
Arte @flaviaespiritosanto
Beleza @josef
Assistente fotografia e tratamento de imagem @brenodosreis78
Assistente de styling @famagalhaess
Assessoria @anekilesseassessoria
Fotos realizadas no @estudio_divina
Assessoria @natashasteincomunicacao
Agenciamento @am_company


