CAPA: NO RITMO DE FERRUGEM

Domingo é um dia que pede um bom sambinha. E não por acaso nossa capa hoje é com o cantor Ferrugem. Trazendo na bagagem referências de grandes sambistas como Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho e Jovelina, Ferrugem logo cedo despertou para a música e aos 14 anos já participava de rodas de samba com gente grande. Porém a visibilidade nacional de Ferrugem só veio após o lançamento do seu primeiro DVD “Prazer, eu sou Ferrugem”, lançado em 2018. O álbum lhe rendeu uma indicação ao Grammy Latino na categoria Melhor Disco de Samba e Pagode. No ano seguinte veio seu segundo DVD, “Chão de Estrelas”, e em breve vem o “Ferrugem Em Casa” para breve. Simpático, brincalhão, querido por todos, Ferrugem é puro alto astral, seja como artista, amigo ou no papel de pai de três meninas. Conheça um pouco mais dessa cara nota 10 e vire fã de carteirinha.

Ferrugem, como nasceu o Ferrugem? Bom, o apelido veio de um amigo meu, e acabou pegando. Virou praticamente o meu nome… E aí, a carreira foi andando e eu entendi que “Ferrugem” poderia combinar com o que eu faço. É carismático, combina com o ambiente de samba e pagode. Comprei a ideia e adotei esse nome artístico.

Esse tal preconceito por ser um ruivo na roda de samba serviu de combustível para você se superar e mostrar que não estava ali de brincadeira? Vários veículos já disseram que houve um preconceito por eu ser ruivo. Isso é uma coisa que não existiu… e é bom que fique explicado, porque eu nunca vi em país nenhum um ruivo sofrer preconceito. Eu sei bem quem sofre preconceito no nosso país, qual é a cor da pele e como é o cabelo dessa pessoa. Mas, assim, eu era muito questionado por conta da minha idade. Eu era muito novo… eu era criança. Imagina, você com doze anos, chegar numa roda de samba, querendo cantar, e a galera te dar espaço… é difícil. E não foi preconceito, foi uma desconfiança, do tipo: “o que esse molequinho vai chegar aqui e vai fazer?”, e a gente mostrava na prática. Onde tinha espaço eu ia lá, cantava o meu samba, e convencia a galera. Mas, assim, o fato de ser ruivo e ter preconceito seria completamente incoerente da minha parte. E se alguém disse isso, um dia, por mim, desconsiderem. Considerem apenas o que eu digo.

A volta dos shows e festas faz você voltar a correria de antes. Preparado? Como está esse momento? Sempre preparado. Amo o meu trabalho. E é muito bom poder voltar, principalmente em segurança, com as pessoas vacinadas. Saber que as coisas estão caminhando para a normalidade que a gente tanto sonhou nesses últimos tempos. Então estou bastante motivado para encontrar os fãs, os público e mostrar tudo o que venho produzindo. É único poder sentir aquele friozinho na barriga, gostoso, de ansiedade, que acontece antes de cada apresentação… é um sinal que finalmente começamos a deixar todo aquele pesadelo para trás.

E quando a música surgiu na sua vida? Alguma influência? Quais as primeiras referências? Ganhei um tantan aos treze anos, aprendi a tocar e fui atrás do meu sonho. Tocava percussão e só depois comecei a cantar. Frequentava muitas rodas de samba em Campo Grande e em outros lugares também, sempre escutando Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Jovelina… essas são algumas das minhas referências, mas têm outras também, como os grupos de pagode dos anos 90. No fundo, a gente está sempre sendo influenciado e tirando referências de outros artistas e trabalhos. É positivo manter essa roda sempre girando.

O que é sucesso pra você e como ele te toca? Sucesso, para mim, é poder fazer o que eu amo, trabalhar, levar a minha música para as pessoas e saber que elas curtem o que eu faço, o que eu canto, toco e escrevo. O carinho do público é impagável, então, considero sucesso essa junção de fazer o que eu sei e ter o prestígio das pessoas que torcem por mim.

Falando nisso, o que toca na sua playlist? É bem diversa, eu escuto muita coisa, de verdade. Ouço muito samba, pagode e MPB. Tem a galera do sertanejo, talentosíssima… Curto muito rap e trap, também. Cada hora está tocando algo novo e diferente. A playlist é boa e bombada, viu? (risos).

Que lições seus pais e a vida te deram que você procura passar para suas filhas? Acho que o respeito é fundamental, né. Respeitar as pessoas, tratar todo mundo bem, com carinho. Enfim, ser ser humano. Thaís e eu sempre procuramos passar isso para elas, como é importante elas cuidarem delas mesmas, serem unidas, amigas. E além disso, claro, seguirem sempre no caminho da honestidade, do amor, procurando sempre deixarem um pouco mais feliz qualquer ambiente em que elas estejam.

Você parece ser um cara alto astral. É isso mesmo? O que coloca um sorriso no rosto? Sou muito brincalhão e me considero um cara alto astral, sim. Quando mais jovem, eu era um pouco mais bravo (risos), mas hoje sou tranquilão. Faço o que amo, tenho uma família linda, amigos e pessoas maravilhosas ao meu lado. Então só tenho que agradecer a papai do céu pela minha trajetória.

Você já mudou corte e cor de cabelo várias vezes. Sempre cheio de estilo na hora de se vestir. Se considera um cara vaidoso? Do que não abre mão? Sou vaidoso, sim. Gosto de estar sempre bem arrumado, dentro do meu estilo, curto tatuagens e às vezes mudar o cabelo. É bacana, né… e quando se é casado, faz bem também, porque a companheira fica feliz. Se ela aprova, está tudo certo (risos).

“Prazer, Eu Sou Ferrugem” de fato foi um divisor de águas na sua carreira. Por que isso? O que tinha de especial esse trabalho e momento para ser esse sucesso todo? Bom, o “Prazer Eu Sou Ferrugem”, até hoje, sem dúvida alguma, é o disco de maior sucesso na minha carreira, e isso me deixa muito honrado porque foi naquele momento ali que a gente descobriu um norte, né, o que que o povo queria do Ferrugem. E a gente tem dado seguimento, não repetindo o que foi feito no “Prazer, eu sou Ferrugem”, porque não seria coerente da minha parte, já que eu digo tanto nas entrevistas que gosto de estar em mutação. Estou aqui, estou ali, faço uma coisa, faço outra. E eu acho que o grande lance, que deu esse sucesso do “Prazer, Eu Sou Ferrugem” foi essa mistura de tudo, que a gente conseguiu fazer um pagode, ali orquestrado, com violino, violoncelo, trio de metais. Acho que o lance da musicalidade foi bem interessante. A escolha do repertório, que foi com muito carinho… bem romântico, do jeito que o povão gosta, principalmente a galera aqui do Rio de Janeiro, que gosta muito de música romântica, e a gente gravou aqui no Rio de Janeiro. E o terninho rosa teve um lance diferente ali. Tanto que a gente passou uns dois anos só tocando de terno rosa… eu não aguentava mais usar esse terno (risos). Eu estava comentando aqui no escritório, esses dias, que eu fiquei uma semana sem conseguir lavar esse terno, porque era tanto show, tanto pedido de terno… mas foi uma época que marcou muito a minha vida, sem dúvidas, e me deixa feliz até hoje.

Na época você foi indicado ao Grammy Latino na categoria Samba e Pagode. Sentiu que a coisa era de verdade e que dali em diante era só subir? Bom, para mim, ser indicado para o Grammy Latino, já é uma coisa muito grande que de fato eu não imaginava, mas que é um demonstrativo que você está no caminho certo, é. Então, eu imaginei, sim, que dali para frente era só subir e realmente foi o que aconteceu, né. Dali surgiram diversas outras premiações, diversos outros convites estar em lugares que eu nunca imaginei nem entrar… Então, uma indicação para um prêmio tão grande, que é o Grammy Latino, ele dá uma chancela diferenciada para o nosso trabalho, e chama a atenção de outras pessoas, outros veículos. E subir é a única coisa que pode acontecer depois disso.

Com o sucesso vieram as cobranças. Quais as mais frequentes e como tirou de letra? Bom, com o sucesso sempre vem cobrança, porque eu acho que o sucesso traz uma responsabilidade muito grande. Mas eu nunca lidei com cobrança de uma maneira pesada, ou uma coisa que me deixasse atribulado… Não, diferente disso. A cobrança é daquelas pessoas que curtem o trabalho, que querem mais um disco bom, que querem que você continue se apresentando e tendo uma boa performance. Acho que o público merece isso, e essa cobrança sempre será válida para o meu trabalho, para os futuros trabalhos, para os feats. Eu me entrego 100% para que as pessoas continuem me cobrando, porque eu acho que quando você faz bonito, a galera quer mais, e é por isso que surge a cobrança.

Em meio a dezenas de shows e viagens, o corpo pediu atenção e você teve que dar um tempo para cuidar da saúde. Como foi esse período para você? O que foi mais difícil? Cuidar da saúde era uma coisa muito distante da minha vivência, do meu dia a dia. Não era uma coisa que me preocupava muito, assim… e o medo, mesmo, fez eu parar, me reavaliar, ressignificar algumas coisas, alguns costumes, que hoje já não fazem mais parte da minha… coisas que tiraram bastante da minha saúde naquela época, mas graças a Deus eu vi que eu poderia recuperar, e consegui recuperar. Hoje tenho a minha saúde 100%, e o mais difícil é mudar os hábitos, né, cara… Você ser acostumado a comer fast food, todo dia de noite, e isso não acontecer mais, ter que trocar isso por algo mais saudável… Acho que essa é a parte mais difícil, mas é muito recompensador, sem dúvida alguma.

No processo de emagrecimento foram velhos costumes e vários quilos embora. Conta pra gente (e para quem quer mudar seu estilo de vida) como foi isso e o que você fez? Mudei o meu estilo de vida. É importante estar atento à saúde, adotar práticas mais saudáveis… não falo só de dieta, porque é necessário ter uma alimentação mais equilibrada, só que o grande lance é adotar uma nova filosofia. Foi isso o que fiz, e é nisso que acredito. Mudar a concepção, e não somente estabelecer um objetivo com prazo de validade, digamos assim.

Ferrugem, como foi por um tempo ser pai solteiro? E como é Ferrugem pai de três filhas? O período em que eu fui “pai solteiro” ou “pai viúvo”, se a gente pode dizer assim, foi um período pesadinho, complicado, porque a gente fica meio perdido. A minha filha, tinha, de fato, perdido a mãe. Não tinha mais mãe… a mãe dela tinha falecido, e entender qual era a minha função, naquele momento, era complicado, porque eu vivia, como vivo até hoje, muito na estrada. Mas eu pude contar com o auxílio da minha mãe, do meu pai… Os meus pais foram fundamentais nesse momento, seguraram bem a onda para mim. E logo em seguida, um ano e pouco depois, eu tive a sorte, a benção, de encontrar a minha mulher, que é a Thaís, que é a minha mulher até hoje. E a Júlia tomou ela como mãe, para si. E toda aquela dificuldade desapareceu. Hoje tenho uma família completamente reestruturada e vivo muito feliz.

Pensando no futuro próximo e distante… O que vem por ai e como se vê daqui há 20 anos? O foco agora é no “Ferrugem Em Casa”, meu novo trabalho, que foi gravado no Rio de Janeiro, cheio de parcerias com grandes artistas, regravações e músicas inéditas também. O projeto tem duas partes. É um trabalho que tem muito a minha cara, a minha identidade, e eu espero que as pessoas curtam. Verão está chegando, estamos voltando a viver mais dentro da normalidade, e acho que esse trabalho tem tudo a ver com esse momento, porque é alto astral. Para o futuro, daqui a muitos anos, eu quero seguir bem, com saúde, produzindo, vendo as minhas filhas crescerem e ser sempre lembrado como um artista que contribuiu para a cultura brasileira, que é linda.

Fotos Márcio Farias

Styling Samantha Szczerb

Beleza Victor Fattori

Ferrugem veste Eduardo Guinle, Reserva e Gucci

Segheto (pulseiras e cordão)