CAPA: RENATO GÓES – DO MAR DO SERTÃO PARA NOSSA CAPA

Renato Góes, ou melhor, Renatinho Góes diante do carinho que temos por esse cabra bom que ele é. Conterrâneos de nascença, a MENSCH e Renato Góes têm uma relação que já vem de muito tempo. De sua primeira capa, em 2014, até os eventos em que Renato já nos prestigiou, os laços aqui são fortes e celebramos esse momento com uma bela matéria de capa num momento bem único da vida do nosso astro do momento. Agora, como pai do pequeno Francisco, fruto de seu relacionamento com a atriz Thaila Ayala, e também “pai” de seu primeiro vilão, Tertulinhos, da novela Mar do Sertão (Globo). E é com orgulho que trazemos Renato de volta a nossa capa, oito anos e muitos personagens depois, para celebrar sua trajetória como homem e artista.

Cá estamos nós de novo, oito anos depois. Vamos tentar não ser repetitivos, mas, em quase uma década, a gente pode mudar algumas coisas e visões de mundo, né? Bem-vindo novamente. Criança costuma ter sonhos “para quando crescer” ser ator estava entre os seus? Quais outros já realizou até aqui? Ser ator, na minha opinião é autodeclaracao. A trajetória natural do ator é tão dura e tão injusta (em relação à oferta e à demanda), que no instante em que você escolhe seguir a carreira, você já é um ator. Eu não sei em que momento isso foi um sonho na minha cabeça de criança, mas o realizei aos 15 anos quando decidi fazer curso de teatro. Eu fazia espetáculos no meu colégio, no meu prédio e até na casa dos outros. O teatro sempre esteve presente em minha vida, mas, foi na adolescência, que eu entendi o ofício como uma profissão de fato.

Houve um tempo lá atrás, cujo celeiro de atrizes e atores para produções nacionais se concentrava entre Rio e São Paulo. Alguns nordestinos foram verdadeiros desbravadores. Sua geração já encontrou um caminho aberto e até mesmo uma exaltação da arte e artistas do nordeste em geral. Ainda assim, sentiu alguma dificuldade, no começo, por ser de Recife? Sim, muita dificuldade. A geração de agora encontra um caminho aberto. A minha não. Tenho quase duas décadas na batalha e eu, de fato, cheguei num momento de ascensão do cinema nordestino e, em especial, da cena no cinema pernambucano com Céu de Suely, Cinema Aspirinas e Urubus, Amarelo Manga, O Cheiro do Ralo e alguns outros. Porém, os preconceitos e os rótulos eram grandes. O prestígio do cinema ainda não estava entranhado na teledramaturgia como está hoje. Então, eu ainda peguei um momento muito mais difícil para o ator nordestino. A depender dos meus primeiros feedbacks em testes, eu teria desistido da carreira. Em um único teste reclamaram do meu sotaque, da minha forma de vestir, da minha sobrancelha ser muito grossa e outras coisas. 

A Globo tem investido em produções e produtoras locais para conteúdos de streaming e TV aberta. É toda uma gente, de roteiristas a figurinistas, com oportunidade para ganhar mercado nacional. Como enxerga essa descentralização? Talvez o grande termo do século no Brasil seja ‘lugar de fala’. Pois ele trouxe uma consciência geral do que é a pluralidade, do que é a inclusão, a equidade. Não tem como você abordar o Brasil sem sair do Rio. Não tem como falar da região norte do país do alto de um prédio em São Paulo. Quando você abre, pra trazer propriedade e originalidade pra dramaturgia, você tá sendo fiel ao princípio da origem da arte, que é não somente entreter, mas sim, educar. O audiovisual brasileiro é muito rico e essa abertura das fronteiras e aumento das ofertas é mais do que justa, ela é oportuna e inteligentíssima também por parte dos players(canais de TVs, streamings e grandes estúdios). 

Nada costuma ser fácil, não é? Não há ganho sem esforço e a estrada costuma ser longa nos bastidores. Contudo, algumas pessoas que lhe viram na novela das 21h (Pantanal), vão lhe ver na nova das 18h (Mar do Sertão) e pensam, “esse teve sorte”. Qual o seu conceito de sorte e o que diria pra quem lhe assiste sonhando em ser ator ou atriz? Eles estarão corretíssimos. Eu tive muita sorte. A sorte me deu muitas oportunidades. Mas sem esforço, sem trabalho, sem determinação, não tem sorte que te segure. O que você faz com a sorte(as oportunidades que aparecem para você) é que é o grande segredo da longevidade no seu ofício. Mas com milhares de candidatos pra uma única vaga, se você creditar aos seus talentos e às  suas aptidões apenas e não a Deus ou a sua sorte, seria muita pretensão.

Na nossa primeira entrevista você disse não ter rituais na preparação de um personagem, mas considerava importante três coisas – ler muito, assistir a muitos filmes e ser observador. Algo mudou ou foi só acrescentado nesse tempo? Essas três coisas são de fato fundamentais. De lá pra cá, passei por diversas experiências em relação à preparação para um personagem e posso afirmar que, continuo não tendo um ritual meu. Cada personagem, me traz um novo e próprio ritual.

Um desafio seguido do outro. Participação da responsabilidade em Pantanal em um contexto pós-pandemia, um filho recém-chegado e depois, um vilão, Tertulinho, em Mar do Sertão (lançada em agosto). Como fica a adrenalina? Tudo a mil. Muitas emoções juntas, mas, sem dúvidas, meu filho foi a maior dela. Ele tem sido o sentimento que arrebata meu coração. Eu fui muito abençoado pela família que eu ganhei. Thaila e Francisco são o meu amor maior. 

O que o Pantanal deixou na sua vida e o que gostaria de compartilhar do que viveu por lá? Deixou muito. Foram 10 meses arrebatadores envolvido com o bioma e com a dramaturgia do Bruno. Eu olho a vida de outra forma. Aprendi com as pessoas e com o bioma. Aprendi com a poesia do texto. Aprendi com o amor na condução da direção. Aprendi na convivência com meus colegas de cena. Fomos / somos família. Pantanal, Zé Leôncio é uma história que nunca vai acabar, pois “os filhos, dos filhos, dos nossos filhos, verão!”

Já que falamos em Tertulinho, o que pode nos adiantar desse seu primeiro vilão na TV? Muito amor. O amor que Tertulinho tem pela vida, pelos pais e, principalmente, pela Candoca (Isadora Cruz), é que vai trazer sua ascensão e queda. Os excessos são o seu ponto fraco. Ele não tem medida. Não tem limite. 

O que você aprendeu com os seus personagens até aqui e que novos desafios Tertulinho tem lhe trazido? Não conseguiria listar aqui as mudanças. O que eu posso afirmar é que me transformo a cada personagem. Eu, literalmente, evoluo com eles. É uma troca, eu me dedico por muito tempo aos meus personagens, em contra-partida, eu exijo sempre uma melhoria como ser humano vindo através deles. Seja qual for a história, você tem sempre algo a aprender. 

Desde criança você participava de peças teatrais na escola. Depois vieram os comerciais e você se deu conta de que “quem falava” ganhava um cachê melhor. Então, foi atrás de saber como chegar naquele lugar. Veio o curso do Sesc e toda essa trajetória de entrega, esforço e reconhecimento. Poderíamos dizer que estudo, preparo, conhecimento, são caminhos para o sucesso? Sim. Com certeza. Desde muito cedo aprendi que você tem que estar preparado para o “próximo” passo. Tudo que acontece ao seu redor, vai te formar e formar seus personagens. Mas para além da observação, vem o conteúdo de pesquisa. Aquilo que vai te trazer o diferencial e não apenas o essencial. Isso serve pra tudo. Qualquer profissão. 

Você é engajado social e politicamente. A Internet amplia as vozes e também cobra o preço de quem se posiciona. Como lida com haters e possíveis danos por opinar sobre esses assuntos? Adoro o diálogo. Se o hater for cordial, tem grandes chances dele mudar opinião, ao agregar algo novo a opinião dele. Porque eu sempre debato. Só ignoro os bots e fake news que elegeram a vergonha atual. Mas estamos próximos de uma mudança. 

Como enxerga o jornalismo no pós-Internet e o crescimento vertiginoso das fake news? Fake news é um perigo e não pode ser confundido com jornalismo. O jornalismo atual sofreu uma mudança positiva que é a quantidade de canais e pontos de vistas diferentes aos quais você tem acesso. O que cada um tem que fazer, é buscar uma identificação com o canal o qual será sua fonte de informação. 

A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida, já dizia Vinícius de Moraes. Quais foram os grandes encontros de sua vida até aqui? Profissionalmente falando, eu tive muitos encontros importantes e transformadores. Seria difícil citar alguns aqui, sem ser injusto com outros. Portanto, citarei apenas dois nomes que são meus amigos e padrinhos de casamento que, por motivos diferentes, foram fundamentais na minha jornada – David Bosco e Sacha Bali. E sem dúvida, o grande encontro pessoal que eu tive na minha vida foi a minha mulher Thaila, que transformou e deixou tudo mais bonito na minha vida. 

Em suas postagens você costuma agradecer a Deus e a Nossa Senhora, entre outras divindades. Qual o papel da fé, religião e espiritualidade em sua vida? A fé me dá forças, faz com que a vida passe a fazer sentido quando nada mais te leva a crer. A fé jamais pode te prender, te acorrentar nem te afastar ou intolerar ninguém. Fé não traz discriminação. Pelo contrário, fé traz união e paz de espírito. Fé é fé – seja qual for a sua crença ou religião, é preciso ter fé.

Que pai você busca ser para o Francisco? Eu quero ser o pai que meu pai foi pra mim – alinhado com tudo que o mundo me ensinou sobre ser pai. Quero que meu filho tenha uma educação construtivista como a do colégio que minha mãe e meu pai me colocaram pra estudar. Quero aprender com ele e ser sempre ouvidos para o meu filho. Quero ser carinho e ouvidos pra ele. Quero que ele saiba a força e a segurança que ele tem na mãe dele e que o pai dele será sempre o amigo do herói protagonista, porque protagonista maior e heroína da vida toda do Francisco será sempre a mãe dele.

Amor, parceria, sintonia, o que mais poderia dizer sobre o seu casamento com a Thaila? Algum conselho pra quem tá em busca de um amor? Ouvir o outro. Se colocar no lugar. Querer uma adaptação saudável ao outro e não encaixar ou ser encaixado em moldes. Eu e Thaila somos a nossa melhor versão um para o outro. E seguiremos em constante evolução. 

Tem fama de bairrista e mania de grandeza, e cá pra nós, não dava pra ser diferente, né? (risos) Quais seus lugares encantados em Recife? A Ilha do Retiro lotada. Eu Acho é Pouco Lotado. Passear de barquinho e ver o Recife Antigo de dentro do rio. 

Falando em futebol… Pelo Sport tudo (risos)? …e quem não fala do Sport é mudo. #pst #vamosmeuleão  

Dizem pra gente nunca se esquecer de onde veio. Você concorda? Que importância isso tem pra você? Essa frase e essa reflexão vai sempre nos ajudar a manter os pés no chão. Ela fala mais do seu emocional e social do que da sua geolocalização. Amigos verdadeiros são fundamentais pra que você jamais esqueça disso.

O que gostaria de deixar registrado aqui para o pequeno Francisco ler um dia? E para a Thaila? Eu te amo meu filho. Eu e sua mãe seremos sempre seus melhores amigos. Te desejo asas e raízes.

Entrevista Nadezhda Bezerra    

Fotos André Nicolau

Slyling Samantha Szczerb

Vídeo Uriel Zanyor

Agradecimentos Mansão Santa Teresa

Renato usou: Boss, Eduardo Guinle, DTA, Edu Bogosian, Raphael Steffens

Assista vídeo com os bastidores do ensaio com Renato Góes: