ENTREVISTA: Anderson Thives, corta e cola aspectos da vida fazendo arte‏

Anderson Thives é puro encantamento com sua arte de fazer arte. Há mais de 10 anos cria obras com a técnica de colagem tendo exposto no mundo inteiro. Ele não só corta e cola para fazer arte, ele corta e cola aspectos da vida que o tornam mais que um artista sensível. Anderson é uma pessoa inspiradora, que não se deslumbra mesmo sendo quem é, fazendo a arte que faz, tendo o sucesso que tem. Valores como família e amigos norteiam os recortes da sua personalidade e dão mais cores as suas obras. Com a alegria de uma criança que descobriu a tesoura, o papel, a cola e a traquinagem, Anderson dá forma à imaginação tendo como iluminação as coisas cotidianas muitas vezes. E o que ele espera do público? Um sorriso ou um franzir na testa, e é exatamente que vai acontecer quando você ler essa entrevista.

Como você se descobriu um artista? Foi muito natural. Desde muito criança já fazia as minhas artes. Adorava colar coisas na parede e nos trabalhos de escola, ao invés de desenhar e pintar optava pela colagem. Acredito que a gente não se “descobre” artista. Já nasce. O que acontece é ir lapidando-se ao longo da vida. Nunca estamos prontos. Estamos em constante aprendizado.Qual o conceito de arte para você? Qual a função dela? Não existe um conceito. Acredito no belo. Arte para mim tem que ser bonita, gostosa de ver. É óbvio que arte nos traz um novo conhecimento de mundo, mas isso não é um discurso lógico e racional, mas intuitivo. Acredito que a arte não tem obrigação de explicar nada logicamente, ou seja, por conceitos. Ela simplesmente nos faz sentir por meio de uma obra concreta, outras possibilidades criadas pelo artista. Nos faz refletir e compreender certos aspectos do mundo.

 

 

Por que a técnica do procurar, cortar e colar? Isso também não foi algo proposital. Aconteceu. E dessa forma agradeço a Deus pelo presente. Cada dia uma descoberta, uma nova forma de demonstrar e aperfeiçoar a técnica. Sendo mais direto, acho a forma da colagem mais atraente e ao mesmo tempo um trabalho que se forma através de uma brincadeira séria. Não é a toa que nos remete as lembranças de infância. Gosto muito do fato de reconstruir formas já pré-existentes e dessa forma, a colagem, para mim, além de trabalho é sim, uma grande brincadeira.

Você pensa a imagem primeiro e depois procura os recortes certos pra ela ou através dos recortes que dispõe pensa a imagem? Depende. Em alguns casos, tem que se pensar na imagem primeiramente. Em outros, o segredo está no que virá. E não existem recortes certos. Não é como a tinta, que se mistura daqui e de lá e consegue-se o tom desejado. Na colagem é mais difícil. Se quero um tom de azul para fazer um “céu”, tenho que procurar muito, pois em uma folha de revista há muito pouco da cor que preciso. Então são várias revistas e uma longa pesquisa de cores para se obter o resultado pretendido. Afinal, são quase cinco mil quadrados de papel por obra.

Que artistas você admira e de certa forma te influenciaram ou te estimularam a ser artista? Meu trabalho é “Pop-Contemporâneo”. Então minha maior fonte é sem dúvida, a Pop Art. Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Richard Hamilton, fora Picasso, entre outros. Além do fato de que nessa linguagem, a colagem era mais usada, minha identificação vem de como, ela era usada. Colorida, alegre, vibrante, sendo de certa forma a manifestação de uma atitude. A proposta da Pop Art, e a qual me identifico era tratar e ver o mundo com outro olhar para poder incorporá-lo à arte.

Quando você é o espectador que tipo de arte gosta de contemplar?Aquela que me faça esboçar um sorriso ou um franzir na testa.

 

É possível viver de arte no Brasil? Estamos aí, né? (risos)… Mas falando sério, é muito difícil. Aliado a muito trabalho, dei sorte em trabalhar com grandes galeristas na Europa, o que fez meu trabalho ser muito mais valorizado lá fora. Trabalho com uma das maiores galerias de lá, que fica na Holanda, e que é uma “distribuidora” de galerias. Ou seja, meu trabalho vai para lá, e de lá, para o resto do mundo. Vejo a importância que dão, cada vez que tenho que ir para Paris, Amsterdã ou outra cidade, para abrir uma determinada exposição. Eles fazem se baseando na agenda do artista e isso é incrível. Aqui fui aos poucos, conquistando território. O fato de abrir minha própria galeria no Rio de Janeiro foi como uma libertação e de certa forma ter meu próprio “play”, para assim que meu trabalho fosse terminado, sem críticas ou negativas, eu tivesse uma parede para expor. Não é fácil, mas quando se tem muito amor pelo que faz as pedras no caminho vão se tornando seu castelo.Quando a pessoa percebe que quer ser artista e fazer disso uma profissão, quais as maiores dificuldades que se pode enfrentar? E que dicas você daria? São muitas desde o início, não? Você percebe que tem dificuldade desde escolher seu objeto de trabalho, seu tema até onde expor, passando por diversos outros obstáculos que vão dos “nãos” das galerias, do fato de não vender,  e isso é desestimulante. Não existe um segredo. A realidade é focar. Fazer seu projeto de vida artístico e ir cumprindo as metas a curto, médio e longo prazo. Se existe paixão no que faz não desistir jamais!

Qual o maior reconhecimento do artista, o aval do público ou da crítica? Por quê? Os dois são importantes. Mas confesso que me preocupo mais com o público. Afinal, é o comprador final. Mas sou da premissa que se faz sucesso com o público, a crítica só não vai gostar se for burra. Nunca tive problemas com a crítica, nem quando fiz minha mostra Pornopoética em 2008, na qual cheguei a retratar Jesus Cristo feito de pornografia. Muito pelo contrário. Enquanto a igreja católica se manifestou contrária, a crítica me deu abertura e valorizou meu trabalho. Foi um divisor de águas. Acredito que minha arte é como uma peça de teatro, na qual cada quadrado de papel pode ser percebido individualmente, embora todos façam parte de um mesmo significado. Na minha cabeça, assim funciona crítica versus público.

O que faz para estimular sua criatividade? Poderia dizer várias coisas que faço realmente, como ler, viajar, ver filmes, peças, exposições, mas dormindo estimulo muito mais. Tenho idéias incríveis durante o sono. Acordo e anoto.
Qual foi sua primeira obra e como surgiu a idéia pra produzi-la? Foi durante o primeiro ano de faculdade. Em uma matéria que não lembro qual, foi lançado o desafio de fazer algo que nunca tínhamos feito antes. Eu sempre adorei Marilyn Monroe, e já a havia retratado de várias maneiras. Então decidi fazer uma colagem. Demorei muitos dias. O trabalho final ficou péssimo para mim, mas todo mundo adorou. Daí então nasceu um hobby, que dois anos depois virou profissão.

No seu site tem bastantes fotos com familiares e amigos. São a base de um vida feliz pra você? Tem né? Se não tivesse dava briga (risos). Mas com certeza eles são a base de tudo. Minha família sempre me deu todo o amor, carinho e educação que precisei. Meus amigos são a alegria de viver constante. E fundamental é a troca de energia com todas as pessoas. Tudo nessa vida, só nos acrescenta. Somos seres humanos em eterna evolução. E para essa vida ser cada vez mais feliz, essa troca é necessária, e com certeza refletida em meu trabalho.

Eike Batista no ano passado comprou uma obra sua e presenteou a cantora Madonna. Como você se sente tendo esse prestígio da rainha do pop mundial ter um quadro seu na parede? Muitas celebridades tem (risos). É engraçado quando me perguntam isso, por que não sou tão fã de Madonna. Quando falam: “Nossa, Madonna tem quadro seu!” Eu digo: “Mas Ivete tem três!” (risos) Porque sou mais ela. Mas falando bem a verdade, prestígio é qualquer cliente que já tenha, ou queira ter uma obra minha na parede. Sei o duro que alguns dão para economizar e ter uma obra. E é muita honra ter um trabalho desejado e muitas vezes comprado, por quem quer que seja!

Quem você gostaria que pintasse um quadro seu? Andy Warhol e Picasso. Já pensou? Imortalizado por eles!

A arte não tem limites? Algo dito como arte que você não considere arte? Quem sou eu pra dizer algo do tipo. Mas concordo que tem que se ter um certo cuidado ao se fazer arte, pois ela torna-se sensível ao efêmero e se compromete com a vida cotidiana. Existem artistas que no ato de criar como reflexão, sobre os valores da arte, se perdem sem dar maior precisão à sua revolta e mais lirismo a sua poética. Nesse caso, banaliza. Na minha arte, por mais simples e complexa que seja, tento associar os aspectos culturais, sociais, políticos e históricos da humanidade a uma visão colorida do que muitas vezes não passa de um preto e branco. Se uso personalidades, santos, cartoons e a própria vida cotidiana são porque essas, para mim, são as fontes mais inspiradoras. Tudo rico de significados.

Um desafio: a gente te entrega um exemplar impresso da MENSCH e você faz uma arte, topa? (risos) Desafio aceito! Um exemplar é pouco… Mas não é impossível!

Site oficial: www.andersonthives.com

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