CRÔNICAS & INDAGAÇÕES: Muitos outros tons de cinza

Estou terminando a terceira edição do badalado “Cinquenta Tons de Cinza”, uma trilogia que virou febre e leitura obrigatória por parte do público feminino. A princípio, fiquei reticente em embarcar nessa aventura literária, por diversos motivos. O principal, confesso, foi de que seria uma abordagem pornográfica com fortes narrativas de sadomasoquismo. Como o livro veio parar em minha mão, de forma tão natural, resolvi apertar os cintos e decolar sem medo.

De cara, fiquei interessada com Anastásia Steele e Christian Grey e as nuances desse romance. A complexidade da relação, os traumas, os medos, as duvidas, me envolveram completamente. O sexo é um detalhe, uma cereja nesse bolo, que recheia os cinquenta tons e faz dele um livro gostoso e de fácil absorção. A autora é hábil em nos manter vivos e interessados e de forma direta, clara e verdadeira nos apresenta uma história muito interessante. Esse livro tem feito comigo o mesmo efeito, de tudo aquilo que observo, busco e acabo encontrando nas minhas peregrinações culturais e humanas. A busca sem hipocrisia, pela verdade.

A narrativa é atrevida e objetiva e envolve um homem encantadoramente pervertido e uma jovem inexperiente e apaixonada. Essa mistura se apresenta de forma benéfica, e vem me fazendo transitar por diversos porões. Venho refletindo sobre os parâmetros do que é a verdade e a linha tênue que a separa da privacidade, do que é nosso, do que é íntimo e pessoal e do que deveria ser dividido e compartilhado.

Somos educados para sermos sinceros e verdadeiros, para nunca enganarmos ou mentirmos em hipótese alguma. Há uma sala muito secreta em cada um de nós, um quarto escuro que abriga milhares de segredos e que não somos obrigados a compartilhar. Temos sonhos, traumas, medos, desejos, muitas vezes tão obscuros que ficam ali, armazenados em nosso closet emocional, anos e anos a fio. O que nos possibilita abrir esse armário tão secreto é justamente o encontro, o confronto com o novo, com a alma que te reconhece que te obriga, que te desafia, que desperta na gente o inimaginável, o imponderável até então. Isso é a abertura de nossa caixa preta e para mim, esse livro fala disso, de surpresa, de troca, de paixão e acima de tudo de libertação.

Quando encontramos em alguém a chave para possibilitar a revelação, a verdade vem à tona e os caminhos que surgem depois daí, são maravilhosos. Falamos tanto do que é ser leal e não há nada mais precioso do que poder compartilhar isso. Erramos sem parar nessa vida e seria tão saudável, poder reparar danos cometidos com o exercício da lealdade. Quantas enfermidades seriam curadas, evitadas em função da exoneração da culpa. Seríamos sem duvida, menos doentes e aflitos.

Temos direito aos nossos segredos, nossos códigos emocionais, nossas senhas afetivas. Isso é nosso! Mas há algo que poderíamos dividir mais, se o ser humano estivesse de fato, mais preparado. A verdade muitas vezes nos aprisiona, por pura falta de eco e respaldo em ser aceito ou ser entendido. Observo tantas almas vagando por aí, ruborizadas socialmente e intimamente, por pura falta de habilidade e ausência de amor ou de um belo encontro. Encontrar alguém que te aceite, que te instigue, que te revele e acima de tudo que te faça vibrar e que desperte nossa “deusa interior” – figura muito mencionada no livro pela personagem Ana, esse é o caminho.

Todos esses tons de cinza inseridos no maravilhoso Grey, também colorem muito as nossas histórias. Aos homens que ainda não leram, aconselho que procurem saber a razão de tanto interesse por parte das mulheres.

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