CAPA: Gabriel Stauffer conquista o público enfrentando o preconceito em “A Força do Querer”

 

Talvez, para o grande público, o ator Gabriel Stauffer, que atualmente está interpretando o personagem Claudio em “A Força do Querer”, esteja no início de carreira, mas o que muita gente não sabe é que ele traz uma grande bagagem que vai muito além de interpretar um personagem. A escola de Gabriel foi o circo, que além de trazer uma grande experiência, ainda acrescenta uma desenvoltura extra. Para se ter ideia, ele faz malabares, piruetas e ainda anda na corda bamba. Aliás, “andar na corda bamba” é algo bem presente na vida dos atores que, a cada personagem, enfrentam e superam um novo desafio. Apesar disso, Gabriel parece estar tirando de letra a trama de seu personagem Claudio e a relação com Ivana (Carol Duarte) na novela das 21h. Enquanto eles seguem com sua história, confira um pouco da trajetória de Gabriel Stauffer.

Do “Grande Circo Místico” para a novela das 9h na Globo. Um salto sem rede de proteção! Como foi isso? Conta pra gente. Sim, nosso trabalho é estar sempre na beira do precipício, prontos pra pular. Na verdade, do Grande Circo, em 2014, para a novela, em 2017, muita coisa aconteceu. Foram mais de 6 musicais, 2 peças e um longa-metragem. Todos saltos difíceis e desafiadores. Em cada um, aprendi algo novo. Os desafios de cada trabalho, cada equipe e cada veículo me instigam a continuar. Isso que é incrível na nossa profissão, sempre irá ter algo novo e um frio na barriga diferente.

Aliás, você veio do circo…tem experiência com malabares, piruetas, corda bamba… Como entrou no circo e que importância tem para você? Sim, entrei para as aulas de circo ainda quando morava em Curitiba. Participava de um grupo de arte de rua chamado Oxigênio. Ele existe até hoje e continua fazendo um trabalho muito bonito. Foi ali, no Oxigênio, que tive o primeiro contato com Circo, Pirofagia, Teatro, Stomp (fazer sons com objetos comuns como vassoura, lixo, etc). Foi de extrema importância pra mim. O material do ator é o corpo. Com o circo entendo e trabalho o meu corpo. Ele me ajuda na capacidade motora, na respiração, na força, agilidade e prontidão.

 

Isso te deixou mais maleável para encarar as câmeras de TV? O que aprendeu lá que coloca em prática hoje em dia? Meu corpo carrega tudo o que aprendi. O mais importante que levo até hoje do teatro e do circo é estar disponível para o jogo. Saber jogar e ouvir tudo o que está acontecendo em cena: os companheiros, o espaço, a câmera… A ansiedade, por exemplo, pode até atrapalhar essa prontidão para o ouvir, mas, ao meu ver, é de fundamental importância para que a cena aconteça.

Você chegou a cursar Publicidade & Propaganda e largou para ser ator. Quando percebeu que era hora de mudar? Acho que a vontade estava sempre presente. Às vezes, me pegava pensando: “Será que não era outra coisa que eu tinha que fazer”? (Risos) Não que eu fosse infeliz no curso de Publicidade, mas achava que tinha outros dons que estavam adormecidos e com vontade de acordar. Em certo momento, tudo confluiu para que a mudança acontecesse. Foi aí que tranquei a faculdade, peguei minha trouxinha de roupa e me mudei para o Rio. É preciso coragem para grandes mudanças que, em alguns momentos, podem ser doídas, mas as recompensas são maravilhosas.

Antes de encarar o personagem Claudio em “A Força do Querer” você já tinha feito participações na TV. Como foi essa trajetória até o Claudio e como surgiu o convite? Sim. Acho que foi em 2012 que fiz minha primeira participação na TV Globo. Foi coisa de um capítulo, um dia. Apesar de ter sido tudo muito rápido, considero que foi uma baita experiência na época. Depois, já em 2016, fiz uma participação um pouco maior na minissérie “Nada Será Como Antes” onde participava mais, tinha mais cenas e relações. Meu personagem interferia na trama. Foi muito importante também. Não demorou muito e veio o Cláudio, um personagem de uma novela das 21h. Nesse meio tempo, volta e meia, fazia testes para novelas da casa e, na maioria das vezes, o “sim” não vinha. Nessa profissão convivemos muito com o “não” e temos que saber lidar com ele. O ator é testado o tempo todo. Importante é perseverar, continuar estudando e acreditando. Em “A Força do Querer”, por exemplo, recebi convite para fazer o teste de outro personagem, o Ruy. De uma certa forma, foi um “não” que acabou se transformando em “sim”. Não peguei o Ruy, mas veio o Cláudio. Um presente!

 

É um personagem com uma certa complexidade pois ele se apaixona por uma garota que não se identifica com seu gênero e passará por uma transição ao descobrir que, na verdade, é um homem no corpo de mulher. Teve algum preparo especial para o personagem? Como encarou isso? Está preparado para possíveis “críticas” do público em geral? Encarei com muita alegria. Acho que o papel do ator e, nesse caso, também o da novela é, além de entreter e divertir, o de levantar questionamentos e mostrar à sociedade suas diversas faces. A trama da Ivana é excelente por esse motivo e fiquei muito feliz quando soube que faria parte dela. A Glória é uma autora audaciosa, no melhor sentido da palavra, e tem criado a história de uma maneira muito inteligente, de um modo que as pessoas entendam toda a trajetória de quem vive isso na vida real e, de certo modo, de quem se identifica com ela. Pra fazer o personagem, pesquisei muito, vi muitas coisas, séries, filmes e depoimentos. Como todo o papel que faço, acho importante conhecer a atmosfera que ronda o personagem.

Um ator é movido a desafios. Quais os seus maiores desafios. Ainda possui algum tabu que precisa ser quebrado internamente? Com certeza. Se falasse que não tenho nenhum, estaria mentindo, mas, pensando agora, não me vem nenhum à cabeça. Todos nós somos cheios de tabus e medos e eles aparecem quando menos esperamos. O importante é sabermos lidar com eles, com coragem e respeito aos nossos próprios limites.

Um curitibano no Rio de Janeiro. Como foi a adaptação e o que levou de suas raízes para o Rio? Sou de lá, mas meus pais são cariocas. Sempre tive família aqui, avós, tios… Meu pai e minha mãe se casaram e foram construir a vida juntos em Curitiba, mas sempre vinham passar as férias aqui no Rio. Quando vinha, tinha casa pra ficar, já conhecia o clima da cidade e já gostava. Todos da família me ajudaram na adaptação.

 

Você fez muitos musicais no teatro…que peso a música tem em sua vida? O que curte ouvir? A música é fundamental na minha vida. Desde pequeno que via meus pais ouvirem muita música em casa e, sempre que estamos juntos, cantamos. A música tem um poder muito grande, de agregar, de tocar as pessoas. Eu gosto de muita coisa, de Bach à Radiohead, de Cartola à Tropkillaz, de Gorillaz à Dona Onete (risos). Acho que depende da fase da vida e da ocasião. Ultimamente tenho escutado muito MPB, Chico, Milton, Elis e Caetano.

Quando está de folga o que curte fazer? Que programas fazem sua cabeça? Sou uma pessoa que gosto de estar com outras pessoas. O que mais curto é juntar pessoas que gosto de conversar e ficarmos juntos para dividirmos a mesa, a bebida, a comida, os dramas e as risadas.

Como a vaidade se revela em você? Talvez no fato de gostar de me vestir bem, de ser reconhecido pelo meu trabalho e de, volta e meia, quando passo por um espelho, dar uma olhadinha para ver se o cabelo está no lugar. (risos)

O que te atrai nas mulheres? Gosto de mulheres fortes, que sabem o que são, que tem opinião, que eu possa conversar por horas, com senso de humor e com iniciativa.

Como se vê daqui há 20 anos? Me vejo sendo desafiado ainda mais no meu trabalho. Sendo reconhecido pelo o que eu faço e cercado por aqueles que eu amo.