CAPA: Saulo Meneghetti, revelação em “Escrava Mãe” é uma das novas descobertas da TV atualmente

Obstinado e sem medos de encarar novos desafios, o ator Saulo Meneghetti sempre respirou e transpirou arte de várias formas. Das artes plásticas à atuação como ator, Saulo atualmente tem se destacado por seu personagem Charles em “Escrava Mãe”, da Record. Conheça um pouco mais desse talentoso ator que está dando o que falar.

Pelo seu histórico você sempre gostou de artes, o que ela te desperta e o que você quer passar com ela? Seja nas artes plásticas ou como ator. A arte sempre esteve presente na minha vida, ela contribui ao meu ver, para uma melhoria constante e espiritualização do homem, ligando o pensamento, com os sentimento e a imaginação. Vejo nas artes um mecanismo regulador entre as comunicações internas sutis e contrastantes. Procuro despertar com as imagens, ao transportar para o campo de ação da humanidade, os desejos intensificados no mundo das ideias. A arte é o instrumento que uso para enfrentar os desequilíbrios da vida, procuro demonstrar com ela que, o ponto de partida para qualquer coisa sempre será a manifestação exterior do que se pensa.

Quando sentiu que ser ator era o que queria para você? Qual a lembrança mais positiva do início como ator? Essa vontade sempre foi perceptível, desde muito pequeno sempre disse que seria ator, gostava mais de assistir programas de bastidores de filmagens do que desenhos animados, ainda na infância montei o primeiro grupo de teatro da escola, me engajava bastante com esse universo. São muitas lembranças boas que trago desde o início, era o começo de um sonho, uma delas, foi com a primeira companhia de teatro que integrei, viajávamos com turnê de um espetáculo pelo interior de SC e uma das apresentações foi na cidade onde meus avós maternos moravam, foi uma alegria saber que estavam na plateia orgulhosos, hoje ambos já são falecidos.

 

 

Você já tem bons trabalhos no seu currículo, mas acredito que a grande chance tenha vindo agora com o personagem Charles de Alencastro de “Escrava Mãe” (na Record). Como você vê isso? Sem dúvidas esse é um dos trabalhos de maior destaque da minha carreira como ator, até o momento, fiquei imensamente feliz com o convite da emissora para dar vida ao Charles de Alencastro. Ele é um personagem a frente do seu tempo, seu modo de enxergar o mundo o colocará em meio a uma batalha com a sociedade escravista da Vila de São Salvador, essas batalhas farão com que o público se depare com questões discutidas em 1808 e que ainda apresentam resquícios em nossa sociedade contemporânea.

Seu personagem é revolucionário e tem grande peso na história. Como você encara esse trabalho e o que tem te trazido de gratificante? É gratificante dar vida a um personagem que, mesmo em uma novela que se passa em 1808, levanta questões atuais, é também uma forma de contribuir com as lutas pelos direitos humanos. Fazendo uma análise da época que se passa a novela em relação aos dias de hoje percebo que algumas coisas não mudaram, infelizmente ainda é presente em nossa sociedade a desigualdade social, a desigualdade em relação aos direitos da mulher, a discriminação racial e até casos de trabalho em regime de escravidão.

Fazer um trabalho de época é mais difícil? Que desafios tem trazido? Novela de época tem outra linguagem, fazemos uma verdadeira viagem ao tempo. A Record nos possibilitou um aprofundamento nas questões e costumes do século XIX, tivemos um preparo com acompanhamento de historiadores, palestrantes e pesquisadores especialistas sobre o tema central da novela e uma fonoaudióloga que nos orientou quanto ao linguajar utilizado na época, além disso, por meu personagem ser um abolicionista procurei me aprofundar em estudos relacionados a escravidão e o processo de abolição da escravatura.

 

No início da sua carreira você trabalhou como modelo. Foi algo que você procurou ou aconteceu por acaso? Que experiências positivas te trouxe? Foi algo que aconteceu bem por acaso, eu já era ator em Santa Catarina, mas quando cheguei em São Paulo ainda não tinha contatos nesse meio, o plano era conseguir um emprego em qualquer área enquanto estudava e me dedicava as artes cênicas, comecei receber convites para modelar e aceitei, no início foi a maneira de me manter na Capital. Ainda no Sul, antes da mudança pra SP, venci um concurso de beleza que também não planejei participar, fui inscrito por amigos e participei por pressão deles, não esperava isso.

Como bom catarinense que mora entre São Paulo e Rio, que manias traz para seu cotidiano? Acho que trago muitas características da região onde nasci, que fazem parte da minha criação. Talvez a mania mais forte que trago, quase que uma herança dos meus pais e avós, é o de tomar o bom e velho chimarrão, levo comigo onde vou, e acompanhado ou não, não fico sem, até nos bastidores das gravações levo a cuia e tomo meu mate.

O que a exposição da tv tem te trazido de bom e de ruim? De fato ficamos bastante expostos por conta da visibilidade do trabalho na TV, o bom é que isso abre novas portas profissionais, surgindo assim convites para outros trabalhos, se está no teatro a bilheteria aumenta, e assim por diante. Sem dúvidas, para o ator isso é importante. A parte ruim é quando a superexposição tenta invadir a vida pessoal, no entanto lido bem com isso, estou tranquilo e tenho minhas reservas bem definidas quando se trata desse assunto. Não faço a linha “intimidade na jacuzzi”.

O assédio aumentou de certa forma? O que te faria prestar mais atenção e querer conhecer a pessoa? Aumentou bastante, vejo o assédio como uma demonstração de carinho do público, reconhecimento pelo trabalho que desenvolvo, isso para mim é um estimulo. Procuro ser o mais próximo possível de meus fãs, faço questão, na medida do possível, de responder as mensagens que recebo. Educação e inteligência são caracterizas que me atraem, seja para qualquer tipo de relação, isso desperta minha atenção e a vontade de conversar e conhecer melhor o outro.

Quando não está gravando o que curte para se distrair? Tenho hábitos simples, sou muito ligado a minha família, embora estejam todos em SC, sempre que tenho uma folga na agenda procuro ir para o Sul, curtir a presença deles. Já em SP gosto de curtir minha casa, sou bastante caseiro, tenho me animado em experimentos na cozinha, descobri que sei cozinhar, em casa tenho meu atelier onde também divido os momentos de folgas com minha pintura, com a escrita e estudos. Gosto de receber os amigos e programações mais tranquilas.

 

Sabemos que você é bem engajado em campanhas solidárias e participa de uma instituição que cuida de crianças com câncer. Fala um pouco da importância disso tudo para você? Algumas pessoas costumam achar que as visitas e a atenção que disponibilizamos para, por exemplo as crianças em tratamento contra o câncer, é uma boa ação feita, discordo disso, vejo como uma troca, você da amor e recebe amor de volta, de forma genuína. Ver a luta das crianças pela vida, alguns tão novinhos que nem entendem direito o que está acontecendo, ver a garra das mães dessas crianças, sem dúvidas é uma injeção de estímulo à vida, faz pensar, mudar a postura sobre as coisas, reclamar menos, dar menos importância a coisas banais.

Fora a realização profissional, o que te faz ter mais satisfação? Sinto-me bem na presença de pessoas que amo e admiro, o convívio com minha família e meus amigos me traz enorme satisfação, por vezes até ficar só, gosto bastante da minha companhia e da possibilidade de refletir sobre mim e os outros. Gosto de ficar em contato com a natureza, passar um tempo no campo ou no litoral, esses são os refúgios que me revigoram e me satisfazem.

A época de modelo te deixou mais vaidoso do que a fama como ator? Como lida com vaidade? Existem vários tipos de vaidades. A vaidade física, ligada a aparência, nunca tive, na época que trabalhei como modelo isso sempre foi um problema pra mim, não tinha muita paciência, sou tranquilo com minha imagem, embora o ator também tenha seu corpo como material de trabalho, acredito que o modelo se prenda muito mais a preocupações desse tipo. Faço uso de recursos estéticos, mas com intuito de facilitar meu dia-dia, por exemplo, já fiz algumas sessões de aplicações de Laser, com isso não perco horas fazendo a barba. Vejo como praticidade. Minha vaidade é mais voltada ao resultado dos meus trabalhos, sou bastante crítico, gosto de ver um bom resultado no que faço, seja para emocionar o público, alegrar, fazer sentirem raiva ou fazer pensar. A vaidade de provocar sensações.

Até onde pretende que a arte de atuar te leve? Para o ator é gratificante ter o merecido reconhecimento por um trabalho bem feito, além do reconhecimento, acredito que uma das maiores vontades de todo o artista é nunca perder a oportunidade de se expressar, seja da maneira que for, atuando, pintando, cantando, dançando e esse é meu desejo, continuar meu caminho sendo o mais honesto que puder comigo mesmo e seguir vivendo de minha arte.

 

Fotos Nilo Lima / Direção criativa Marco Antonio Ferraz / Make up Marina Aletto
Cabelo Katia Erbas / Modelo Anna Thereza Souza 

Saulo usa looks Flower Homme, Anéis (acervo pessoal)
Ela usa look Valentino, camisa e faixa Flower Homme, Acessórios Saara 

Agradecimentos especiais Mônica Andrade e Luciana Sposito