ESTRELA: QUANTO MAIS KARINA DOHME MELHOR

O humor entrou na vida de Karina Dohme logo muito cedo. Aos 7 anos para sermos específicos. Veio através do teatro e isso mudou sua vida. Começava ali a desabrochar uma futura atriz que traz uma veia cômica muito bem afiada. A estreia para o grande público aconteceu no seriado Sandy & Junior, na TV Globo, e daí em diante não parou mais. “Acho que humor é a chave de tudo, o humor cura, melhora, faz você admirar pessoas”, comentou Karina ao longo desta entrevista exclusiva para a MENSCH. De volta ao vídeo, depois de passar por diversos programas humorísticos, atualmente interpretando a divertida Teca emQuanto Mais Vida Melhor, Karina mostra que pode ir muito mais longe do que apenas divertida.

Do teatro infantil para o humor na TV. Como foi esse início e como foi a chegada do humor em sua vida artística? O humor faz parte da minha trajetória como atriz desde o primeiro momento. Na verdade, foi no teatro infantil, com 7 anos, fazendo uma peça de Shakespeare, na minha primeira cena cômica – o teatro inteiro começou a rir e levantou para aplaudir. Eram 700 pessoas. A energia que eu senti vindo dali e a alegria e preenchimento que tomaram conta de mim por poder fazer as pessoas rirem, foi um divisor de águas. Eu era só uma criança, mas eu tive certeza que era aquilo que eu queria fazer e também que eu, de certa forma, tinha algum talento para isso.

Eu sempre fui uma pessoa muito solar, muito alegre, brincalhona, com tiradas rápidas, e acho que isso é algo natural que vem de mim mesma, da minha personalidade. Eu acredito que, para fazer humor você precisa ter uma espécie de dom, talvez algo que te conecta ali com essa habilidade que ou você tem ou não. Certamente que você pode se aprimorar, mas eu acredito que você tem que ter nascido com isso, que todas as pessoas que fazem humor já tem isso de forma nata.

Tudo na minha carreira sempre se encaminhou para o humor. Então, meus comerciais, quando eu era criança, tinham sempre um tom de humor – seriado Sandy e Júnior. Depois, quase todos os programas de humor dos quais eu fiz parte na TV Globo, no elenco ou como participação, o humor sempre esteve comigo e eu sempre honrei muito isso, eu nunca briguei com isso. Reneguei que eu fosse uma atriz de humor. É claro que eu sei que posso fazer drama também com muita competência mas eu sempre abracei o humor e ele me sorriu de volta.

Que espaço o humor teve e tem na sua vida até hoje? Diria que quanto mais humor melhor? Acho que humor é a chave de tudo, o humor cura, melhora, faz você admirar pessoas. Quer ver eu me encantar por alguém? É essa pessoa ter bom humor. A vida já é tão puxada, tão difícil, se a gente não tiver humor não sobra muita coisa. Quanto mais humor, melhor – sempre!

Como avalia sua trajetória profissional de Sandy & Junior até Quanto Mais Vida Melhor? Muitas pedras pelo caminho? Eu posso dizer que sou bem feliz e grata com minha carreira. Tive bons trabalhos ao longo de todos esses anos, dificilmente fiquei mais de meses sem trabalho. Fiz projetos muito legais, longos, com pessoas incríveis. Claro que nem tudo é um mar de rosas, mas poder viver de arte num país como o nosso é tão incrível e um privilegio tão grande, que acho que eu só posso agradecer.

Se sente realizada na profissão? O que ainda falta para isso? Eu posso dizer que me sinto realizada, mas não plenamente satisfeita no sentido de já ter feito tudo que eu gostaria. Eu quero muito fazer mais cinema, porque é uma linguagem absolutamente diferente. Quero sim fazer mais drama, apesar de amar e ser muito feliz na comédia. Seria importante mostrar meu lado artístico dramático e existem diretores incríveis com quem eu gostaria de trabalhar para me conduzir nesse processo. Eu entendo que nós atores temos sempre tanto pra mostrar e para estudar que, com certeza, eu gostaria, ainda, de dar vida para muitos outros personagens, de preferência o mais distantes possíveis da Karina para que o desafio seja ainda maior.

Na TV você passou pelos humorísticos mais atuais. Acredita que da Turma do Didi até o Zorra e Tá no Ar: a TV na TV, o humor mudou muito? A inocência do passado, hoje é mais social? Mudou, completamente. Muito. O humor que fazíamos em Zorra Total é absolutamente diferente do humor de Tá no Ar. E que bom! Eu acho que estamos evoluindo enquanto humanidade (a passos lentos, mas acredito nisso) e acho fundamental que o humor acompanhe esse desenvolvimento e progresso. Piadas com a figura da mulher objetificada, com homossexuais, com pessoas obesas sendo foco pela forma física, realmente não pode ter mais espaço nos dias de hoje. Que bom que o humor pode perceber isso e entender que é possível fazer as pessoas rirem sem esses arquétipos. Foi uma forma de humor que funcionou muito, mas que ficou para trás, que não faz sentido hoje.

Ser loira, bonita, e, com todo respeito, gostosa, já é um prato cheio para um personagem estereotipado em humorísticos? Já passou por isso e você precisou mostrar que rende mais que o papel da loira engraçada? Acho que é um pouco sobre o que estava falando aqui acima, e essa sua pergunta tem um sentido enorme. Essa figura da mulher loira, bonita e engraçada porque é burra mas é gostosa, fez parte demais da minha vida nas escalações para meus trabalhos. Quantas e quantas vezes esse foi o tipo que eu interpretei, e fiz com muito amor e respeito porque acredito muito que trabalho é trabalho e nós atores temos que fazer bem, mas sim, tem uma hora que você cansa, que você quer mais, que você quer fugir disso. Encontrar o equilíbrio entre negar um trabalho para não sucumbir mais uma vez ao mesmo padrão, não é tarefa fácil. Eu acho que pude fazer isso no teatro, foi um escape pra mim. Na minha última peça, que eu fui coautora, eu fazia várias personagens diferentes e nenhuma delas tinha esse padrão – pelo contrário, eu fazia a ultra-religiosa, a drag, figuras que pude me libertar disso. Nesse sentido a Teca foi um presente para mim. Porque ela tem essa figura da gostosa, da mulher corpão, da Maria Chuteira, mas ela vem com toda uma composição por trás da personagem que mostra um mulher cheia de questões, de inveja, de mau-caratismo, de ressentimentos. Então, tudo bem que ela é gostosona também, mas ela é diferente porque ela sabe exatamente o que ela quer e ser gostosa, faz parte do preço que ela quer pagar para conseguir conquistar isso.

O humor é a melhor arma para se falar de assuntos sérios como preconceito e injustiça? Eu acho que ele é mais acessível. Humor é mais leve, mais democrático, a chance de você poder acessar mais pessoas para refletirem sobre questões tão importantes como preconceito, injustiça, desigualdade, com certeza são muito maiores através do humor. Você quase que faz a pessoa pensar “sem querer” nesses pontos. Existe uma massa de pessoas com uma camada necessária a se penetrar para trazer luz sobre questões importantes, mas que estão super fechadas para ouvir sobre elas num papo sério, num jornal, num programa que discuta sobre esses temas. A penetração através do humor é muito mais fácil e eficaz, por isso ele (o humor) é tão incrível e potente. Paulo Gustavo fez isso muito bem. Ele conseguiu fazer a família brasileira, no formato mais conservador, se apaixonar por dona Hermínia e pelo filho homossexual, veja o poder disso, de mudar o mindset através dessa representatividade.

Falando nisso, o que te tira do sério e o que te faz abrir um sorrisão? Me faz abrir um sorrisão gente de bem, sabe? Pessoas que fazem o bem, que tem caráter, que dão esperança à humanidade, que você olha, se inspira e pensa: temos salvação. Me tira do sério gente desonesta, que quer se dar bem a qualquer custo, que dá um “jeitinho”, que se acha esperta.

Atualmente, interpretando a Teca em Quanto Mais Vida Melhor, como foi/tem sido a experiência? Uma delícia, é uma personagem com um tom de vilania que eu nunca tinha feito na TV antes e que tem sido demais. Poder atuar nessa outra zona, num tom mais baixo, descobrindo as delícias de fazer uma personagem ruim mesmo, de essência, está sendo incrível.

Depois de passar um bom período sem atuar, como foi essa volta? Como surgiu o convite? Foi tudo perfeito, como tinha que ser. Eu precisava dessa pausa. Precisava organizar e levantar as empresas que estavam nascendo, precisava me recolher um tempo, precisava curtir a vida de recém-casada, as escolhas que fizemos de mudar nosso estilo de vida (eu e meu marido), sair da cidade grande e irmos para o interior. Foi uma fase absolutamente importante, necessária até para eu ressinificar meu trabalho como atriz. Em 2019, comecei a sentir muita falta de atuar e comecei a flertar com a possibilidade de uma volta, mas eu tinha planejado fazer isso pelo teatro. Muito preocupada ainda em como deixar as lojas, a operação o dia a dia. Em 2020, surgiu o convite para o teste da novela através do Gui Gobbi que já me conhecia de outros trabalhos (ele é produtor de elenco da Globo) e aí, poucos meses depois, recebi a notícia de que tinha sido aprovada. Não pensei duas vezes, não estava tudo tão organizado como eu queria, mas entendi que era um chamado e me joguei.

Soubemos que você e seu marido têm duas lojas de produtos saudáveis. Como é a Karina nessa área empreendedora e empresária? Como surgiu isso em sua vida?
Na verdaden o projeto é do Lucas, um sonho dele, que eu comecei para ajudar, apenas, escolhendo o nome e as cores já que a marca nasceu do zero. Fui dando um pitaco aqui outro ali, me apaixonando pelo projeto, começando a ajudar mais e quando vi, tínhamos virado sócios. Ele, cuidando de uma parte que ele faz muito bem e eu não domino, e eu cuidando de outras que ele não tinha tanta afinidade. Me descobri muito, atuando como empresária. Realmente, é um veia muito forte em mim que eu descobri que tenho tato e faço bem, tenho muita disciplina e sou muito workaholic. Então, consigo colocar toda essa energia para girar na gestão das lojas, de nossas equipes, etc…

Desde quando você apareceu na TV até hoje continua em forma. Como é sua rotina de treino e alimentação? Durante um bom tempo, da minha adolescência até meus vinte e poucos anos, eu briguei muito com meu corpo e com a balança, mas quando eu descobri a alimentação saudável, minha vida, literalmente, se transformou. Tudo começou a ficar mais fácil, eu estava mais disposta, naturalmente meu peso se estabilizou. Realmente, foi transformador descobrir o poder da alimentação. Isso foi e é, um dos motivos de eu ser absolutamente apaixonada pelo nosso negócio. Meu desejo é ajudar pessoas a descobrirem o quão incrível e poderoso é se alimentar bem. Então, hoje, a minha vida já é muito regradinha, não pela forma física propriamente, mas porque eu não consigo mais me alimentar de outra forma. Agora a minha rotina de treino é algo que me exige disciplina, porque eu não gosto de treinar e isso eu faço porque preciso, porque é saudável, porque a gente tá perto dos 40. Tem dias que não quero ir, que tô com preguiça, que quero sumir da academia, mas brigo comigo mesma, e vou. Depois saio com uma satisfação enorme. Eu faço musculação, beach tennis, e aeróbico, normalmente um spinnig, um cardio.

Esse período de quarentena que passamos te deixou mais atenta sobre o que comer para não perder a linha ou você se permitiu relaxar? Eu me permiti relaxar sim – vários dias, porque, afinal de contas, tudo que nos sobrou foi comer, (risos), mas como eu já como muito certinho e não consigo ser diferente porque meu corpo, meu humor, meu estômago sentem, não mudou muita coisa. Eu comecei a fazer receitas mais elaboradas mas ainda dentro do contexto do saudável que é o que eu realmente gosto. Tem anos que não sinto vontade de uma fritura, de algo junk. Pra tudo que me dá vontade eu crio uma versão saudável, tipo batata frita daqui de casa é feita na air fryer com páprica doce, cúrcuma, alecrim fresco, sem nada de óleo e é de comer rezando, infinitamente mais gostosa que a original feita no óleo.

Em momentos livres o que curte para relaxar?
Eu sou alucinada por música, então eu amo ouvir todo e qualquer tipo de música, sou super eclética. Adoro cozinhar, receber pessoas, sou super fanática por mesa posta. Então, escolher um bom vinho, preparar uma comida com calma, por uma boa mesa para estar com pessoas especiais são coisas que eu amo, que me relaxam e me fazem super bem. Meditar, estar em contato com a natureza e me exercitar também são hábitos que costumo cultivar no meu tempo livre ou brigo as vezes para achar tempo livre para poder praticar.

A que pecado você não resiste?
Acho que a preguiça nos poucos momentos em que eu posso. Eu amo dormir, eu amo ficar na cama jogada sem hora para nada. Por isso, domingos se tornaram meus dias favoritos, são os únicos dias que eu consigo fazer isso e é libertador.

Fotógrafa Aline Ferreira

Cabelo Alessandra Amorim

Make Claudia Batista

Style Celina Marcondes