CAPA: JUAN PAIVA CONQUISTA SEU “LUGAR AO SOL”

Aos 8 anos de idade Juan Paiva entrou para o projeto Nós do Morro para perder a timidez e ocupar a cabeça. Foi desse início totalmente despretensioso que nasceu um jovem talento, na verdade um dos mais promissores talentos da novíssima geração de atores. Com apenas 23 anos, Juan tem se mostrado muito maduro como ator e praticamente tomou o protagonismo na novela ‘Um Lugar ao Sol’, na Globo, com seu querido Ravi. O personagem conquistou público e crítica já em seus primeiros capítulos graças a uma atuação honesta e uma construção digna para um personagem puro e necessário. Mesmo com todo o sucesso no horário nobre, Juan Paiva segue com os pés no chão, maduro e responsável pelo ator e cidadão que é. Pai aos 17 anos, Juan logo cedo teve que amadurecer deixando de lado certas distrações típicas da idade para focar no que interessava. Seu futuro, sua família. E hoje ao perceber essa evolução de Juan, percebemos que o futuro ainda promete grandes surpresas e sucessos.

Juan, você imaginava esse sucesso todo do seu personagem Ravi em Um Lugar ao Sol? A que se deve isso? Não imaginava, mas tinha uma noção que ele poderia ser bem aceito pelo público porque é um personagem íntegro, um cara que age com o coração. Ele acredita na bondade das pessoas, na vida. Então, as chances de ele ser bem aceito eram grandes, mas eu não sabia que seria nessa proporção. Fico muito feliz com a repercussão do meu trabalho porque isso prova que está funcionando. Então, minha felicidade vem daí. Eu trabalhei em cima dessa personagem com a professora Fátima Domingues, do Nós do Morro, e também com toda a equipe da novela. Foi muito bom jogar com esses profissionais que estavam à frente e por trás das câmeras. E a vivência dessa personagem também parte muito daí, da relação com as outras pessoas, e estava todo mundo conectado, em sintonia. Eu acredito muito nessa troca, na energia positiva… Sou grato demais a Deus e às pessoas que sempre me deram apoio. Muito feliz por tudo isso!

Entre você e Ravi, há algo em comum? Nós dois somos pais, isso se assemelha. Mas, das características dele, posso dizer que sou sensível, sou um cara que prezo e amo a minha família, assim como tudo que a gente vem construindo juntos. Acho que essas são as características que a gente tem em comum, o cuidado com a família, com os filhos, a dedicação. Me identifico em alguns lugares ali, mas eu e Ravi temos personalidades diferentes.  

Essa é sua terceira novela e já encarou um ‘quase protagonista’ no horário das 21h. Imaginava essa evolução toda em sua carreira? Eu acredito num passo de cada vez, subo um degrau por vez. Aos poucos, a gente vai chegando lá. Isso é fruto de muita dedicação pela arte, e eu amo o que eu faço. A vontade de querer, de estar jogando, mantendo um corpo ativo o tempo todo, estudando texto, atuando… Isso tudo é uma busca. Pesquiso, estudo, erro e aprendo, isso tudo para que eu possa evoluir. Eu acredito em minha evolução também através do feedback das pessoas, pois se elas estão notando isso e curtindo, eu sou grato e tenho a sensação de que está valendo a pena toda essa entrega.

Você veio do projeto “Nós do Morro. Foi daí que veio sua base artística? Que aprendizados levou para a vida? Sim, entrei para o Nós do Morro aos oito anos para perder a timidez e para ocupar minha cabeça. Minha mãe me perguntou o que eu queria fazer. Eu não tinha noção do que poderia seguir como profissão, só queria me divertir, jogar futebol e brincar com os colegas. A partir do momento que entrei no teatro, eu me apaixonei e aí fui seguindo. Minha rotina era escola, teatro, final de tarde o lazer, o curso de inglês que fazia na época e voltava pra casa para descansar e no outro dia, tudo se repetia. Quase todos os dias eu ia para o teatro. Trabalhei com grandes professores, atores, artistas que são do Nós do Morro, que admiro e com quem me identifico. Minha base artística veio do grupo, mesmo! Acho que sou o primeiro artista da minha família. Sou muito grato ao Nós do Morro – aos professores, colegas, todo mundo que vem me ensinado e que também está nessa luta. Sou muito feliz e grato! E como aprendizado eu levo a disciplina – o Nós do Morro é muita disciplina. É uma casa de artes e os professores/mestres sempre ensinam que temos que cuidar da nossa própria casa, pra gente levar pra fora nosso aprendizado, pra poder ensinar, dar exemplo, ser referência. O grupo desde sempre me ensinou a ter disciplina, a desenvolver o convívio com as pessoas, me comunicar melhor, cuidar da higiene. Se a gente tá montando uma peça, todo mundo participa, ajuda a arrumar o cenário, a luz, a varrer, zelar pelo espaço, equipamentos, figurino. O Nós do Morro me ensinou a ter disciplina com a vida, a respeitar as pessoas e a diversidade. É uma escola grandiosa, tenho um amor enorme por ela. Se todas as comunidades tivessem a oportunidade de ter um Nós do Morro ali, uma sede de teatro, não só de teatro, mas também esporte para ocupar a cabeça dos jovens periféricos, seria ótimo. É muito importante para o nosso crescimento e desenvolvimento como pessoa. Guti Fraga, fundador do Nós do Morro, sempre fala “Estudar é bom e ler, é melhor ainda”. E minha professora Fátima Domingues também diz “Para você ser um artista interessante, você precisa ser uma pessoa interessante”.  Vem tudo daí, essa é a filosofia.  

Falando nisso, você ainda mora no Vidigal. Como é transitar entre essas duas realidades da vida no morro e a vida no asfalto, sendo conhecido nacionalmente? Moro, sim. É indiferente para mim. Aqui no Vidigal, todos me conhecem. Todo mundo se trata da mesma forma, se olha de igual para igual. Uns torcem pelos outros, se orgulham. Vem o reconhecimento. Todo mundo se conhece. É um sentimento recíproco. Tem colegas que já foram competir nas Olimpíadas e o morro se uniu para ver os jogos, torcer para o atleta que é da comunidade, que está na correria seguindo seu sonho. Aqui tem várias referências, e elas se unem para dar continuidade ao nosso trabalho, realizar nossos sonhos para continuar. Tem uma outra geração que vai nos ter como espelho, como motivação. Quanto ao asfalto, fico feliz com o carinho das pessoas desconhecidas que me abordam na rua, para falar de meu trabalho. É um lugar que busco por tratar as pessoas também de igual para igual e com respeito. Gosto de conversar. Tem pessoas que já vieram conversar comigo sobre o meu trabalho e que acabaram virando amigos. Essa é minha relação, entendendo que isso é um trabalho e que as coisas acontecem no momento em que têm que acontecer. Também entendo que isso tudo vai passar e o que vamos levar é a amizade e o reconhecimento. Quero continuar correndo atrás, ter os pés no chão e poder mostrar para o Brasil minha arte no audiovisual, na TV e no teatro. Estou muito feliz!

Depois desse sucesso com Ravi, os olhos de todos caíram sobre você. “Quem é o ator que interpreta Ravi?”. Como responderia a esta pergunta? O Juan Paiva ator/artista é diferente do Juan Paiva pai, com a família. Sou dedicado ao meu trabalho, posso dizer que sou muito crítico. Estou sempre buscando atingir e atravessar a alma de alguém com a minha arte. Me dedico muito e estudo bastante para que, justamente, as pessoas se sintam tocadas por meu trabalho. Poder dar vida a um personagem que toca e atinge outras pessoas, é o poder da arte. Todo dia eu acordo buscando ser melhor do que o dia anterior. Esse é o cara que interpreta o Ravi, um cara dedicado que está sempre na luta, descobrindo sua personalidade e suas características para transbordar na tela, no placo, onde for. A arte é sinceridade, verdade. Eu acredito nisso.

Sucesso, assédio e fama, te assustam? Como procura lidar com isso? Não, de jeito nenhum. Talvez há um tempo atrás, por ser imaturo, posso ter chegado no lugar de ter um certo medo. Só que agora, vivendo isso neste momento, sinto de forma totalmente diferente. Acho super de boa, isso não me assusta. Com respeito, a gente consegue viver sem melindres. Estou sempre com minha família e meus amigos, gosto de passear e me comunicar com as pessoas. Quero continuar estudando, mantendo minha postura e exaltando minha essência. Isso faz parte de mim – quem quiser me conhecer estou aberto, mas quem não quiser, eu também respeito, não tem problema nenhum.  Isso tudo faz parte de meu trabalho. Eu poderia ser médico, advogado, mas escolhi ser ator, e essa profissão tem esse lado, essas consequências da fama, como o assédio, o sucesso entre o público. Foi o que eu escolhi e é o que eu gosto. É um lugar interessante.  

Saindo dos holofotes da mídia, você vive uma vida pacata com sua mulher (casados há 8 anos) e sua filha de 6 anos. Com apenas 23 anos, como você se permite curtir coisas típicas de sua idade? Nós somos muito jovens, mas sinto que venho crescendo, inclusive, crescendo junto com a minha filha, de certa forma. Por mais que ela seja bem mais nova que eu, vivemos coisas de jovens. E por mais que eu e minha companheira tenhamos nossas responsabilidades, com ela e nossos amigos, faço os rolês de adulto – curtimos o nosso lazer com tranquilidade, buscamos nos divertir de forma leve. Com nossa filha, fazemos atividades que sejam cabíveis para uma criança da idade dela. Mas também tem a parte da responsabilidade, da filha ir para a escola, de cuidar depois dela em casa, da mãe precisar trabalhar e eu ficar com ela, ou vice-versa, enfim… Isso tudo faz parte. Como somos jovens, o clima é bem de boa – às vezes, parece que ela é nossa irmã (risos). Estamos vivendo!

Como foi ser pai aos 17 anos? Foi mais um susto ou empolgação? Ou uma mistura de tudo? Quais as dificuldades desse início de paternidade, sendo tão jovem? No início, foi bem preocupante, porque a gente não sabia como planejar a vida, eu ainda estava terminando meus estudos. Então, para mim, naquela época era desesperador. Foi mais um susto, com certeza, uma mistura de tudo… Mas depois, virou empolgação. Quando descobrimos o sexo do bebê, fomos acompanhando a barriga crescendo, as coisas foram se ajeitando e a empolgação aumentou. Mas ter que lidar com a notícia de cara, com tudo isso, é bem desesperador, mesmo. Dentre as maiores dificuldades que tivemos foi a preocupação e a busca pelo lado financeiro, porque já éramos eu, meus pais e meus dois irmãos, além da minha companheira. E com minha filha nascendo, a família aumentou… Então, foi desesperador. E ainda tinha o desejo de concluir meus estudos, e ainda fazendo teatro, tudo isso junto…. Mas graças a Deus tive ajuda da minha família, que nos ajudou muito e com quem tenho uma relação de muita reciprocidade. A gente se ajuda muito! E hoje é bem tranquilo, estamos buscando nosso caminho e tocando a vida.

Quais lições você aprendeu com seus pais que levou para vida e aplica como pai? A educação que recebi de meus pais, baseada na humildade, simplicidade, respeito, em ser alegre, buscar a minha felicidade e dedicar o meu tempo a coisas boas. Isso tudo eu trago pra minha vida e ainda estou aprendendo, estou me construindo – a toda hora penso em algo novo e descubro coisas novas sobre mim. Estou caminhando na terceira década da minha vida e o que eu acho que é útil e válido, eu passo para a minha filha. Ela é tímida de início, mas é muito disponível, aberta, tranquila, comunicativa, inteligente… Me deixa muito orgulhoso ter aprendido com meus pais para, agora, passar pra minha filha – e também de aprender coisas com ela e levar até os meus pais, uma vez que somos de gerações diferentes. E isso é muito legal!

Antes de ser um cara famoso por conta de sua projeção na TV, já tinha sentido na pele o tal preconceito de cor e social? Como lidou com isso? Várias vezes. E isso causa indignação e revolta. Mas eu aprendi que minha arma será o conhecimento e o estudo. Preciso ter voz ativa, mas também ser sábio e inteligente, debater e falar sobre isso. Já passei por situações complicadas que me deixaram triste e chateado, mas busquei rebater como deve ser rebatido, ação e reação. É uma situação em que o outro não entende que é cruel, o que é muito cansativo pra gente, ter que ensinar pro outro que isso é cruel. Então, tem horas que a gente perde a paciência e fica indignado, e aí a reação vai depender do temperamento de cada um. Eu sou muito tranquilo, mas existem situações em que a minha reação é diferente. Casos de racismo e preconceito não passam batidos por aqui, não! A gente fala, debate e luta contra, mesmo, porque isso deve acabar!

O seu personagem Ravi levanta muito essas questões de classe e racismo que infelizmente é uma realidade em nosso país. Qual a importância disso para você como ator e cidadão? É exatamente ter a oportunidade de dar voz e mostrar essas questões. A arte tem esse poder, tem esse lugar de ensinar, de educar, de deixar explícito algo que na sociedade algumas pessoas preferem tapar os olhos e não enxergar, e tentam passar pano. Não! Essas coisas devem acabar, pra gente conseguir viver em paz. Numa boa, sabe, no respeito, precisamos viver tranquilamente. E eu vou me dedicar sempre a isso porque é o poder que eu tenho, de mostrar através de um filme, de uma novela, de um projeto as coisas que precisam ser debatidas. E isso não é um trampo só meu, é de uma galera! Eu tenho o maior orgulho e sou grato pela oportunidade de ter feito o filme M8 – Quando a morte socorre a vida, porque é um filme que foi feito por pessoas negras, empoderadas, referências dentro e fora da tela. Aprendi muito com essas pessoas. Estávamos todos conectados, o M8 é um filme muito poderoso. Agradeço imensamente ao Jeferson De e a toda a equipe pela troca, porque é um filme que me ensinou e segue me ensinando. E nele eu pude dar um pouquinho do que eu sei, também, para dar vida ao Maurício. Como ator, é de muita importância ter um público me assistindo e poder dizer a eles que eu sou um homem negro, favelado, que essa é a minha essência. E é preciso agir no respeito. Precisamos nos amar de verdade, acima desses estigmas. Então, eu luto mesmo contra o racismo e o preconceito. Estamos no século XXI e isso já deveria estar enterrado, mas ainda precisamos continuar lutando para mudar.

Chega a hora de relaxar, o que curte? Como anda esse período pós-novela? Depois de gravar a novela eu já fiz outros trabalhos, mas também aproveitei para dar uma descansada e sair da vivência do Ravi. Voltei para o meu modo carioca favelado, para minha essência, e aproveitei para curtir a família, descansar, fiz vários rolês… Gravação de novela é uma rotina muito cansativa, mas agora estou tranquilo. Estamos no começo do ano e já quero voltar aos trabalhos de novo, porque, quando a gente ama a profissão, o nosso trabalho também se torna um lazer.

E planos para o futuro, algo em vista que possa nos adiantar? Existem trabalhos previstos para o cinema, mas ainda estamos resolvendo pela questão de datas de filmagens, essas coisas. Aliás, aproveito o espaço, para estimular as pessoas a consumir e valorizar mais o cinema nacional. Temos produtos com conteúdo muito bom!

Para conquistar Juan Paiva basta… Ser verdadeiro. Ser de verdade. SER! Para me conquistar, seja você mesmo, tenha sua própria personalidade. Isso é de se admirar. Acredita!

Fotos Márcio Farias

Beleza Daianne Martins

Styling Paulo Zelenka