CAPA: PÉRICLE MUITO ALÉM DO SAMBA

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Muito além do samba…

Péricles é o que podemos chamar do novo “gigante gentil. “Ele não é só grande no tamanho de sua voz ou de sua presença. Esbanja musicalidade e elegância. Sempre disposto a construir mais pontes do que muros, ele leva o samba da melhor qualidade para o mundo inteiro. E, faz todo mundo participar deste movimento que teve seu auge nos anos 90, mas nunca deixou de existir. Com uma carreira sólida e um público fiel que conquistou desde os tempos do “Exaltasamba” ele vive a sua melhor fase. Durante o intervalo da agenda lotada ele nos recebeu para uma entrevista onde falou sobre os 40 anos de carreira e a responsabilidade de ser uma das vozes mais importantes do cenário musical brasileiro.

Por Patricia Alves

Você acabou de lançar a segunda parte do “Pagode do Pericão” com grandes parcerias com Maria Rita, Seu Jorge e Tiaguinho. Como foi dividir o palco com eles? Uma emoção sem fim… Acho sempre que a música não tem fronteiras e devemos construir mais muros do que pontes. A ideia do projeto é mostrar o quanto a música é plural. São artistas que admiro demais e me sinto privilegiado em poder mostrar várias releituras de músicas cantando junto com eles.

Como você vê o cenário “multiplataforma” para os artistas de hoje? Nossa, mudou demais. Brinco que aprendi esta palavra a pouco tempo. Mas, hoje o artista precisa estar em várias frentes. Existe desde a nostalgia e o som puro do vinil, até as plataformas onde levamos a música para o mundo. A tecnologia veio para ajudar e expandir nossos horizontes.

Hoje a gente assiste uma influência negra na TV, na música, nos filmes… E, você, é uma grande referência e espelho para as novas gerações. Como é isso? Ao mesmo tempo que é um grande orgulho, é uma enorme responsabilidade. Sei que os meninos da periferia que sonham em ser artista se espelham em mim. Sou um artista negro, que veio da periferia e venceu. Quero sempre levar mensagens boas e bons exemplos. Ë muito importante saber a responsabilidade de ter um microfone em mãos e ser espelho para meninos e meninas, muitas vezes, tão carentes. E, quanto aos negros estarem tomando os espaços, isso me emociona e, tenho certeza de que em todas as áreas, este é só o começo de uma linda história, onde grandes talentos serão revelados.

O samba nos anos 90 teve um papel comportamental também colocando o homem em um lugar mais sensível falando de amor e sem vergonha de estar apaixonado e expor suas fragilidades. Fala mais sobre isso… Patrícia, realmente… As músicas falavam de amor e, também, ajudaram a mudar – sim – o comportamento de uma geração onde tinha uma “coisa” mais machista do homem não chorar, não demonstrar afeto e amor. Com certeza depois deste “movimento” vamos chamar assim, os homens puderam se ver nas músicas. Onde suas dores, separações, amores e reencontros foram cantadas. E sem vergonha de demonstrar e viver os sentimentos em sua plenitude.

Você vai tocar em um dos palcos de um dos maiores festivais do mundo o “THE Town”. Como é ver o samba tomando espaços tão importantes como este? Nossa, será uma emoção sem fim. Nunca tive dúvida que o samba chegaria e preencheria todos os espaços. Mas, será um show histórico por ser um festival tão renomado e importante. E, estar ao lado de grandes nomes será histórico, tenho certeza!

Os “exalta maníacos” pedem incessantemente uma volta ou um show da formação original comemorativo. Eles ainda podem sonhar com isso? (risos). Acho muito difícil pelo rumo que nossas carreiras tomaram… as agendas. Para você ter uma ideia estou já planejando 2027! Tenho grandes projetos e eles também. Acho que ficaremos sempre com este carinho do público que nos acompanha, mas acho, de verdade, inviável este show acontecer.

Qual sonho que o Pericles ainda não realizou ainda? Já realizei muita “coisa” através da música. Mas, certamente ainda tenho muitas a realizar. Já fui indicado duas vezes ao Grammy, mas nunca ganhei. Este seria um grande sonho a ser realizado, mas chego lá! (risos).

O samba vive um grande momento, principalmente, em São Paulo, com muito locais investindo em rodas de samba e trazendo artistas. O samba voltou a ser a bola da vez de fato? O samba vive um momento muito bom, mas ele na verdade sempre esteve e está presente com muita maestria e propriedade no cenário musical. Tenho notado este movimento no Brasil todo não só em São Paulo – o que em deixa muito feliz, pois certamente, destas rodas vão surgir novos talentos que, junto com os que já compõem a cena, vamos – como sempre digo – ultrapassar fronteiras e levar música de qualidade para o mundo independente do estilo.

Você ficou conhecido como o rei da voz por conta de seu potencial vocal. Fica nítido também a sua cultura musical ampla e apurada. Como foi a preparação para chegar até aqui? Quem me deu esse apelido de foi o Mumuzinho e eu vejo como um enorme presente. Gosto muito de cantar, mas desde cedo, percebi um potencial diferenciado para o canto, e minha genética me ajuda muito. Faço fono, aulas de canto e tenho todo cuidado para manter a voz. Tenho enorme prazer em cantar e em ouvir todo tipo de música. Cresci em um ambiente simples, mas muito musical, o que me deu este gosto diverso de repertório. Cantar é minha grande paixão, faço o que amo e o que me deixa feliz. Talvez este seja o grande segredo.

Como é olhar para trás depois de 40 anos de carreira. Que reflexão você faz? Sou um grande vencedor e tenho profunda gratidão por todo caminho que trilhei. Embarco agora para uma turnê internacional pelos EUA. Minha música vem ganhando o mundo, projetos sólidos, com gente tão boa sendo lançado. Orgulho e gratidão. E que venham mais 40 anos! (risos) – pelo menos.

Fotos Rodolfo Magalhães

Revisora Sheila Santos