
Nossa estrela Gabriela Duarte estreou na TV aos 15 anos na novela Top Model (1989). Filha de uma das atrizes mais emblemáticas da TV brasileira, no início de sua carreira ela sentiu que o peso de ser filha de Regina Duarte era muito maior do que ela imaginava. “É um peso sim, mas não necessariamente negativo, ele me colocou pra frente muitas vezes, eu senti que precisava dar tudo que podia de mim mesma na minha profissão, na minha carreira, e ela é um exemplo muito forte, que tem muito valor pra mim como mãe, como pessoa, como profissional.” Comentou Gabriel ao longo desta entrevista exclusiva para MENSCH. Mas o tempo é o senhor da razão e deixou bem claro que Gabriel estava ali por merecimento e talento. Tanto que a cada novo trabalho ela se revelava muito mais potente do que já era. E foi assim ao longo de novelas, séries, filmes, peças e livro (que ela lança dia 08 na Livraria Argumento Leblon). Falando em peça, sua atual “O Papel de Parede Amarelo e Eu”, que foi escrita no século 19 e trata de temas bem atuais, está fazendo um grande sucesso por onde passa. Essa entrevista é isso, um pouco dessa mulher talentosa, determinada e de sorriso largo. Leia e apaixone-se!
Gabriela da sua estreia com Top Model, em 1989, até hoje já se vão mais de 35 anos de carreira. Entre filmes, novelas, séries e peças, o que foi mais marcante até aqui? O que te tocou mais fundo? Então, olhando pra trás eu vejo que é uma carreira bastante longa, já com seus quase 40 anos mesmo de profissão, e eu comecei com 15 fazendo Top Model então, pra citar um trabalho muito importante entre vários né que eu fiz até hoje, mas acho que esse início da carreira, que foi tão feliz, com um elenco assim tão maravilhoso, com pessoas da minha idade, né? Uma novela solar, literalmente, uma novela na praia, e então ter começado assim me colocou numa trajetória muito bacana, que eu tenho muito orgulho. E depois disso, teve muito investimento, informação mesmo. Na minha época, quando eu comecei, você tinha que se preocupar bastante com essa formação artística, e acho que eu fiz isso direitinho, fui sempre muito disciplinada com as coisas, com os estudos, com os cursos. E depois chegamos em Por Amor, uma novela que me colocou também em outro lugar importante, eu sou muito grata ao Maneco pela Eduarda e, enfim, uma novela que tá aí até hoje, um clássico da teledramaturgia. Então, no geral, é difícil. Eu fiz muitas coisas mesmo, é difícil eleger alguém. Eu acho que já fiz com certeza mais televisão do que qualquer outra coisa, do que o cinema e teatro, mas as minhas experiências no teatro foram sempre muito, muito, muito importantes e maravilhosas. E já produzi alguns projetos, estou produzindo agora “O Papel de Parede Amarelo e Eu”, com direção da Denise Stoklos e da Alessandra Maestrini, e esse é um grande prazer também. Um lugar onde o ator pode se sentir mais dono daquilo que está fazendo e do seu próprio trabalho. Eu tenho muito orgulho de onde eu cheguei, realmente acho que é uma carreira bonita e bem honesta.



Qual a sua maior satisfação como atriz diante de um trabalho? O que você deseja? A minha maior satisfação como atriz, antes de um trabalho, primeiro, eu sou uma atriz que gosta muito de pesquisa, gosto de pesquisar, acho que aproveito a oportunidade dessa profissão maravilhosa pra crescer mesmo como ser humano, então eu gosto de entender a época, os costumes, o jeito de falar, de pensar, a política, tudo isso molda muito um ser humano e a gente tá ali dando vida, corpo e emoção a seres humanos, né? Isso eu acho que é uma grande satisfação, sempre foi. E no final das contas eu desejo me divertir, desejo que as pessoas se emocionem com o que eu estou fazendo, se identifiquem de alguma forma, mas, principalmente, se transformem, mesmo que seja de uma forma pequena, mas que exista uma transformação pessoal, emocional. Qualquer tipo de transformação que eu consiga causar numa outra pessoa, o meu trabalho foi bem feito, e é o que me dá mais satisfação e prazer.
O quanto a crítica e o público influenciaram na sua carreira? Quando a gente é mais novo a crítica influencia bastante. Você precisa ter muita base, algum lugar para se apegar, realmente alguma coisa muito forte, pra que essas críticas que vão viram – faz parte – não te coloquem num lugar onde você não consiga botar a cabeça pra fora. Entender que aquilo muitas vezes é uma opinião, e que não é isso que vai definir o teu talento, o teu trabalho, muito menos o seu caráter como ser humano. Mas a gente, o ator, acaba fazendo confusão muitas vezes. Críticas são normais e vão acontecer na profissão. Pra mim teve sim, tiveram momentos muito complicados de críticas, por exemplo, na época da Maria Eduarda, mas, ao mesmo tempo, hoje, olhando pra trás, eu vejo como cresci, como amadureci, como me tornei uma atriz melhor e uma pessoa melhor. Então eu não consigo nem olhar pra isso e achar que foi uma questão grave, um problema na minha vida, eu acho realmente que está tudo certo. Tudo vai depender também da ótica pela qual você analisa as coisas e hoje sei que, sempre fazendo meu trabalho, sem me preocupar tanto com isso, eu quero ter prazer na minha profissão.
Você é de uma geração de atores que faziam sucesso no audiovisual sem isso de likes, cancelamentos ou exposição da vida pessoal nas redes sociais. Ou até o fechamento de um trabalho depende do número de seguidores ou engajamento. Como você, como atriz, percebe e lida com isso? Eu sou de uma geração analógica, a gente não tinha ideia de no que se transformaria nossa profissão, assim como ninguém tem ideia do que virá pela frente, a gente não tem bola de cristal pra saber como as coisas vão se dar na vida. Mas eu acho que a gente tem que ter abertura pra encarar os novos tempos e com a jornada mais leve, sem tanto saudosismo. Eu acho que as coisas são como são, e eu, do meu jeito, tentei me melhorar, tentei me resignar, me aperfeiçoar. Claro que continuo dando muita cabeçada, isso é geracional mesmo. Adoro dizer isso porque tenho uma filha de 19 anos e um filho de 13, e eles me mostram o tempo todo o quanto é preciso acompanhar esse momento, mas também me mostram como tenho dificuldade em acompanhar esse momento, muito rico, e seguir. Tem que seguir, tem que fazer isso. Eu gosto de fazer tudo com alegria e com orgulho mesmo, de quem eu me tornei, de quem eu sou. Nada vai mudar muito o meu jeito. Eu não me tornei uma outra pessoa porque a gente está vivendo numa era mais digital, eu sou a mesma pessoa e tentando melhorar, me divertir com o que eu estou vivendo neste exato momento, no aqui e agora.



Você sempre procurou ser discreta sobre sua vida íntima. Foi assim com o término do seu casamento, assim como foi com o início do namoro. Como administra o que é público e o que é privado? Eu acho que administro bem o que é público e o que é privado. Hoje menos, né? Hoje as coisas estão pedindo, implorando, pra estarem mais expostas. Acho que a partir do momento que a gente tem essa ferramenta maravilhosa que são as redes sociais, a gente também tem essa perda, digamos, da nossa da nossa vida mais privada, da nossa intimidade. No final das contas, acaba que você se expõe mais. Mas eu tento fazer tudo isso com bastante equilíbrio e acho que continuo sendo uma pessoa reservada com relação a minha vida pessoal. Não acho que ninguém tem que ficar se expondo naquilo que não quer ou não concorda. Pra mim é assim com tudo, com a minha vida, com os meus relacionamentos, com política, com tudo. O que eu acho que posso abrir e dividir com as pessoas, eu abro, dividido, sem problema. Não tenho nada a esconder, não gosto muito dessa situação de que na vida privada você é uma coisa e na vida pública você é outra. Eu sou a mesma pessoa, a pessoa física e a jurídica. Não consigo ver muita diferença e sinto que os meus amigos também não veem essa diferenciação. Isso de ser uma coisa num lugar e outra no outro é muito cansativo, e eu não tenho essa energia então eu prefiro ser eu mesma.
Mãe de dois filhos, uma filha que é a sua semelhança… Como é Gabriel mãe e filha? Que ensinamentos aprendeu com sua mãe que repassa para seus filhos? Eu acho que a maternidade a educação de filhos é a coisa mais desafiadora realmente que existe, pelo menos pra mim. O maior desafio, a maior aventura da vida tem sido ser mãe, educar, criar, e ao mesmo tempo que amo loucamente essa função eu me cobro bastante, tenho muitas dúvidas, perco sono, muitas vezes. A Manu tem 19 anos, já é uma quase adulta e eu sinto que às vezes cobro demais, às vezes eu podia deixar ela um pouco mais solta, no sentido de fazer as suas próprias escolhas, mas acabo não conseguindo me segurar em dizer o que penso. Claro, sempre na tentativa de me proteger, não quero que ela seja igual a mim. Nenhum deles, nem ela, nem meu filho, mas fico um pouco ansiosa nesse lugar de querer me assegurar que eles são pessoas de bem, e isso eu não tenho dúvida, porque valores você não ensina, você passa por, sei lá, pelo ar que você respira ali na sua casa. Eu aprendi coisas importantíssimas com a minha mãe, valores como respeito, empatia, olhar no olho das pessoas, e é isso que eu quero passar pros meus filhos, os valores básicos, e o resto eles vão aprender muito com a vida, isso eu tenho certeza, e vão ser moldados pelo ambiente também.



Ser filha de Regina Duarte por algum tempo significava muita cobrança na carreira. Isso em algum momento pesou ou foi algo que você foi aprendendo lidar com o tempo e as cobranças? Essa questão de ser filha é uma questão que já gerou muita coisa controversa que eu não concordo, até algumas vezes, embora talvez eu mesma tenha me colocado dessa forma e é quase como se pra mim fosse um peso negativo, e não é um peso negativo. É um peso sim, mas não necessariamente negativo, ele me colocou pra frente muitas vezes, eu senti que precisava dar tudo que podia de mim mesma na minha profissão, na minha carreira, e ela é um exemplo muito forte, que tem muito valor pra mim como mãe, como pessoa, como profissional. Eu agora acabei de lançar um livro onde conto tudo isso, acho que agora as pessoas vão poder entender melhor essa trajetória no lugar de Gabriela mãe e Gabriela filha de Regina Duarte. Acho que esse livro vem num momento muito interessante pra que isso fique claro para as pessoas, o quanto de admiração eu tenho, como eu respeito, valorizo, ela como mãe, como profissional, mas, apesar de ter escolhido a mesma profissão que ela, eu consegui dar um direcionamento pessoal pra minha carreira e isso é uma grande satisfação, é uma alegria e eu estou muito feliz com a forma com que as coisas aconteceram até agora.
Vocês duas ao longo da carreira já trabalharam juntas… Como foram as experiências? Gostaria que essa parceria em cena se repetisse? Sempre foi muito bom trabalhar com a minha mãe, sempre teve muita cumplicidade, muita risada, a gente sempre se divertiu muito, sempre com muita leveza. Ela é uma pessoa muito leve e ao mesmo tempo muito segura. É muito firme quando precisa passar algo de ensinamento, como já aconteceu várias vezes, não só comigo mas com as pessoas com quem ela trabalhou ao longo da vida. Sempre teve muita paciência, muita firmeza, mas também muito afeto, ela é muito carinhosa, então as experiências sempre foram ótimas. É claro que durante um tempo eu senti que precisava fazer outras coisas não só com ela, porque teve realmente um momento onde eu me via sendo chamada pra sempre fazer coisas com ela, e isso começou a me deixar meio entediada. Talvez meio cansada, então fui buscar outras coisas na minha carreira, onde ela não estivesse envolvida, mas isso era uma coisa minha, comigo mesma, nada a ver com a dupla, com a parceria que eu sempre tive com ela. E hoje finalmente eu tenho muita saudade de trabalhar com ela, quero muito fazer alguma coisa com ela, e a gente tá buscando sim um texto no teatro pra fazermos juntas e celebrar essa carreira dela e a vida ao longo disso, de uma forma bonita e bacana.


Atualmente você está no teatro com um monólogo. Sente o peso que é estar em cena sozinha e prender a atenção do público até o fim. Como tem sido a experiência? Esse monólogo também está me ensinando muita coisa, eu sempre soube que fazer um monólogo seria diferente, no mínimo, pra não dizer um grande desafio. Fica meio clichê, mas, olha, tem sido uma experiência quase surreal em vários sentidos. Ao mesmo tempo que tem muita liberdade, por você estar ali sozinha, muito dona do espaço, dona da cena, dona daquele momento ali tão sagrado que é estar no palco, você e o público, tem a solidão da pessoa que está fazendo um monólogo. Eu subestimei esse sentimento de estar sozinha e isso envolve muita coisa, a coxia e, enfim, estou aproveitando cada minuto desse trabalho, mas sentindo as delícias e as dores do que tem sido essa trajetória. Mas não me arrependo de nada, acho que tem sido uma experiência muito maravilhosa, não só pra mim, mas para o público também.
Depois de passar por São Paulo, agora Rio… Quais os próximos destinos? Por onde podemos esperar Gabriela? Bom, depois dessas duas temporadas em São Paulo, aí em seguida o Rio de Janeiro, foram quase dois meses no Rio, voltamos para São Paulo para mais um fim de semana dias 26, 27 e 28 de setembro e depois viajo. Em outubro viajo pra algumas cidades, Curitiba, Salvador, São José dos Campos, algumas cidades do interior de São Paulo e paro no final de outubro, vou descansar um pouco porque preciso desse tempo pra mim mesma e para voltar com energia porque me consome bastante. Sou produtora também, e agora sinto que preciso dar uma parada pra retomar ano que vem.
E quais os planos em curto e médio prazo? Novela ainda te interessa? O que quer do audiovisual ainda? Eu não tenho muitos planos a curto e médio prazo. Eu tenho pensado muito na peça, estou lançando meu livro, tenho ficado muito feliz em fazer palestras, que também adoro, acho que é um mercado novo que se abre e tem me deixado muito contente nessa conversa direta com as pessoas. E o audiovisual sempre vai me interessar, eu adoro, eu curto muito, sou inclusive uma telespectadora, eu assisto muitas séries e gosto das novelas, mas não tenho nada que possa dizer “isso aqui vai acontecer”. Por enquanto estou bem assim, acho que as coisas acontecem na hora certinha.
Para conquistar Gabriel basta… Para conquistar Gabriela, basta ser sincero, justo e claro com aquilo que se quer dizer, com as intenções. Quanto mais objetivo, mais me conquista, eu sou ariana, né? Acho que talvez tenha isso, assim, uma falta de paciência um pouco pra coisas muito elaboradas demais, então eu gosto de pessoas objetivas e claras, e tudo na mesa. É como eu falo, eu trabalho com a verdade, a verdade é a minha maior aliada na vida.

Fotos Priscila Nicheli
Produção executiva e styling @samantha_szczerb
Beleza Lais Regia
Agradecimentos Nayane, Ellus e Hotel Pestana Rio


