
Início dos anos 1980 e Silvia Pfeifer viajou para Europa pela primeira vez como modelo. Morou em Paris e Milão onde nesse período desfilou para grandes grifes como Giorgio Armani, Christian Dior e Chanel. Era o auge de sua carreira como modelo. Período de grandes desfiles, capas de revistas e campanhas publicitárias. Mesmo com esse sucesso todo, Silvia queria mais e novos desafios. Foi aí, já no início dos anos 1990, que veio o convite para estrear na TV na minissérie Boca do Lixo. Na época choveram críticas por uma modelo se tornar atriz. O preconceito era grande na época, porém Silvia segurou a onda e seguiu conquistando seu espaço na TV com dedicação e talento. Foram diversos programas e novelas, cada vez mais Silvia era requisitada e cada vez mais o público se encantava com sua presença nas telas. Alguns filmes e peças depois, Silvia continuava um ícone de inabalável elegância. E agora, dez anos após sua última aparição em uma novela da Globo, ela está de volta. Trazendo charme e elegância para sua Rebeca na atual novela “Dona de Mim”, na Globo. Nós não perdemos tempo e fomos bater um papo rápido e convidá-la para novas fotos que ilustram essa matéria. Afinal, Silvia é sempre um deleite aos olhos de quem sabe vê-la por completo. Inabalável pelo tempo.
Silvia boa nova é sua volta às novelas. Como está sendo essa volta à Globo 10 anos depois do último trabalho? Percebe muitas mudanças? Voltar a Globo está sendo maravilhoso, já fiz tantos trabalhos lá, estou feliz de estar voltando em uma novela que já é sucesso. Quando fui convidada a novela já era um sucesso, a história e o elenco são ótimos. Estou fazendo uma participação bacana com mais de 50 capítulos, em um núcleo maravilhoso. Estou muito feliz, a única diferença dessa novela para as outras que já participei, é que nessa não estou desde o início. Mas está sendo maravilhoso. Fui muito bem recebida.


E como surgiu o convite para interpretar Rebeca em Dona de Mim? Algum preparo específico para a personagem? O convite surgiu diretamente da produção de elenco, me ligaram falando que a Rosane Svartman gostaria muito que eu fizesse. O personagem é ótimo, não tive tempo de fazer uma preparação específica, por que me ligaram, e eu comecei três dias depois.
Ainda mais trabalhar ao lado de veteranos como Tony Ramos e Cláudia Abreu. Já tinha trabalhado com eles? É maravilhoso trabalhar com quem admiramos, com quem temos histórias lindas. O Tony, eu já tinha trabalhado, mas muito rápido em “Torre de Babel”, mas não tinha contracenado com a intensidade de agora. Sempre o admirei como pessoa, colega, ator. Ele é completo, já nos brindou com tantos personagens. E o que falar da Claudia Abreu… talentosa, linda, está fazendo um personagem belíssimo. Sueli Franco é sempre um exemplo pra nós de brilho, de pessoa, com uma energia linda, sempre muito divertida. Também estou adorando conhecer tantos novos talentos. Reencontrar Marcos Pasquim e Marcello Novaes também está sendo muito bom.
E a nova geração que você encontrou nesse trabalho, como é a relação de vocês e como observa a maturidade artística de agora em relação há décadas atrás? Estou contracenando com atores que eu não conhecia, novos talentos. Assim que eu entrei, elogiei muito o elenco, acho que a novela está muito bem escalada, e todos os atores estão muito bem nos papéis, existe um equilíbrio muito grande entre eles. Isso é mérito tanto do autor como da direção, quando se tem uma história bem escrita, o personagem flui melhor. Reencontrei rapidamente o Pasquim, a Juliana Martins com quem sempre tive uma relação mais pessoal do que profissional. Sempre é bom ter novos talentos, onde aprendemos e trocamos com eles.


Falando nisso, na sua estreia na TV teve esse preparo que você percebe hoje? O que mudou na TV ao longo dos anos neste sentido? Quando eu comecei na TV em “A Boca do Lixo”, eu tive que aceitar na condição de três dias depois estar em São Paulo para gravar, e eu não tive preparo. Acredito que são oportunidades na vida, acho que muita gente tem oportunidades como eu tive, e às vezes não dá tempo de você se preparar. Hoje em dia existe o coach, uma pessoa que está ali para te ajudar, acho muito bom poder ter essa ajuda.
Lembro que na época você foi criticada por ser uma modelo “tomando espaço” de atores. Coisa que hoje em dia é comum até atores vindos de outras áreas como da música e realitys. Como enxerga isso? Eu entrei na televisão com o meu nome muito forte como modelo internacional, e foi para ser protagonista em uma minissérie. Foi uma oportunidade maravilhosa que recebi, e acho normal que a crítica tenha sido proporcional a expectativa que essa oportunidade criou nas pessoas. Tudo que consegui é mérito do Roberto Talma, que me dirigiu, logicamente tenho meu mérito, no sentido de ter uma sensibilidade e jeito para atuar. Depois fui fazer cursos de atuação e preparação de voz. Hoje em dia o mundo mudou muito, e é normal que as pessoas transitem em outros meios.


A TV, em especial a Globo, tem resgatado veteranos para seus novos projetos. Seria uma forma de fortalecer seu elenco equilibrando com novos talentos. Você acha que encontrar esse equilíbrio é um ponto forte para elevar a audiência? Eu acho que chamar veteranos é um ponto forte para o equilíbrio de elenco em qualquer trabalho. O veterano trás uma bagagem profissional e inteligência emocional, que sempre acrescenta em um trabalho. Isso é um ponto forte para tudo, reflete na audiência, assim como colocar pessoas veteranas não só pelo tempo de trabalho, mas por idade é importante.
Ao lado das atrizes Helena Fernandes e Adriana Garambone fizeram uma campanha contra o etarismo no audiovisual. Percebe alguma mudança de mentalidade nesse aspecto? Ou ainda é uma luta grande? Ainda é uma grande luta a respeito do etarismo, tanto na nossa profissão como em outras. Como eu citei acima, eu acho que os veteranos trazem além da “bagagem” uma inteligência emocional, gerando uma troca muito importante. Fala-se muito sobre diversidade, sobre etarismo, mas graças a deus o cenário está começando a melhorar em todos os sentidos, mas ainda existe esse tipo de preconceito em qualquer profissão.
Você sempre foi vista como ícone de beleza e elegância. Isso gera alguma cobrança interna? Que por sua vez pode gerar frustrações. Como desviar disso sem perder esse aspecto? Nós que somos referência, acabamos nos cobrando, mas eu tento não me cobrar em excesso. Eu avalio o que acho válido, realmente importante, até para o meu próprio conforto. Ter a liberdade de não seguir o que te cobram, é uma felicidade.

Onde mora sua vaidade? Do que não abre mão? O que eu aprendi com o tempo, e ainda trabalho muito isso em mim, é que as coisas não dependem apenas de mim. Eu tenho pressa para resolver as coisas, quero agir, mas tem coisas que podemos fazer e outras não. Me orgulho de sempre ter levado com comprometimento tudo que propus a fazer. Já fui jogadora de vôlei, já dancei ballet, além da minha carreira de modelo, sempre levei a sério e comprometimento, chegando no horário, sendo focada, levando a sério. E como atriz é a mesma coisa, não se faz nada sozinha, então temos que ter comprometimento com o que escolhemos e com quem está trabalhando com a gente.
Na hora de relaxar, o que procura? Na hora de relaxar gosto de meditar, ler, apreciar a natureza e ver um filme. Quando fico muito cansada fisicamente, gosto de massagem, também curto ir a museu.
Para conquistar Silvia basta… Não existe fórmula para uma conquista entre homem e mulher. Sermos genuínos, sinceros, mostrar quem realmente somos é muito importante. Ser, estar, se entregar, acreditar que está junto!

UMA HOMENAGEM A SILVIA
Falar sobre Silvia Pfeifer é falar sobre mim. Sobre o jovem que a perseguia nos desfiles que ela estava, mas não chegava perto. Apenas olhava fixamente por segundos e sumia logo. Ver me bastava. Em um desfile dos anos 80 para as vítimas da AIDS (ainda era assim que se chamava), coordenado por Monique Evans que foi a pioneira dos eventos em prol da causa no Brasil lá estava eu de novo. Convite a postos. Naquele mesmo dia vi todas as modelos que eu achava lindas mesmo ainda sem saber que um dia trabalharia com moda. O mundo da moda havia perdido um maquiador chamado JR Brazil, era uma homenagem a ele em uma noite na Lagoa.
Silvia entrou com um look de tricô com styling inspirado na Chanel e fiquei babando. Neste mesmo desfile conheci Lorna Washington, ator transformista que passou a ser minha musa, minha maior inspiração. Os tempos eram outros, uma top model não se fazia de likes e publis. Eram desfiles, editoriais para revistas, campanhas, o quadro Ponto de Vista apresentada pela editora de moda Cristina Franco na TV Globo aos sábados no Jornal Hoje.
Cristina era o que se esperava de uma editora de moda, falava de brasilidade quando não se falava nisso, de sustentabilidade falava do norte e nordeste. Cabelos pretos azulados e maxipulseiras. Silvia era figura presente no seleto time do Ponto de Vista.
No meu primeiro trabalho com Silvia anos depois entendi que minha carreira viraria alguma coisa. Que eu poderia ser algo mesmo chegando algumas horas atrasado. Mal inicio e excelente continuidade. Anos de capas de revistas e matérias em 25 anos de parcerias. Trocas de roupa no meio da rua. Todos tinham medo de Silvia, eu também tinha, mas disfarçava. E fazia o bonde correr.
Precisei me ausentar alguns anos atrás. Tinha um projeto com ela envolvido, era o projeto da minha vida, eu achava. Peguei o laudo do médico que me proibia por tempo indeterminado de trabalhar. Mandei aos três. Dois foram cruéis, Silvia disse: você precisa de alguma coisa? Está bem cercado? Às vezes a gente precisa parar mesmo! Eu estava exausto e precisava parar mesmo. Se precisar de alguma coisa estou aqui.
Já que é possível ter amor em São Paulo, é possível ter coração no mundo da moda! Obrigado Pfeifer, até breve.
Marco Antônio Ferraz

Fotos Priscila Nicheli
Produção executiva e Styling Samantha Szczerb
Beleza Zuh Ribeiro
Agradecimentos Hotel Nacional Rio, Nayane, Bianca Gibbon