Que Dina Barile (@dinabarile) é uma mulher extraordinária e à frente do seu tempo nós não temos dúvida. Destemida, Dina caiu no mundo a desbravar continentes e países, ao todo já foram 140. E não satisfeita, Dina é a primeira e única mulher brasileira a ir para a Estratosfera ultrapassando a barreira do som com a façanha de voar a 1.870 km por hora. “Quando cheguei a 16.700 metros de altitude, pude observar o contraste do espaço completamente negro à minha direita e as cores do nosso lindo planeta à esquerda. Levei nossa bandeira comigo”, comentou Dina ao longo dessa entrevista para a MENSCH.
Você é a primeira, e única, mulher brasileira a ir para a estratosfera, quase uma astronauta (risos). Conte como foi essa aventura? Tudo começou lá atrás, quando o homem pisou na lua pela primeira vez. Aquilo ficou gravado no meu imaginário e o espaço virou um projeto de vida. Eu sonhava em ver a Terra redondinha, azul, branca e verde. Quando os primeiros voos comerciais para o espaço começaram a ser vendidos, eu pensei que meu sonho se realizaria. Porém, o valor do voo era inviável para mim. Então, comecei a pesquisar outras maneiras de fazer algo relacionado com o espaço e conheci a agência de viagens que o astronauta brasileiro Marcos Pontes montou para promover diversas experiências radicais. Eu conversei com o seu sócio e disse que adoraria ir para o espaço e também realizar uma aventura em gravidade zero. Então ele me ofereceu a viagem para a Estratosfera, de onde eu poderia ver a curvatura da Terra e um voo de gravidade zero. Para realizar as duas aventuras, o destino ideal seria a Rússia. Assim, a agência organizou tudo para mim. Para chegar à estratosfera, embarquei em um caça MIG 29, na base de Sokol, e ultrapassei a barreira do som com a façanha de voar a 1.870 km por hora. Cheguei na Rússia, durante um rigoroso e chuvoso inverno. Mas depois de ultrapassar as nuvens, o sol me proporcionou visões estonteantes do nosso planeta Terra. Na volta, fiz diversas manobras radicais, as mesmas que são realizadas em combate e fui submetida a uma força que chegou a 7G (sete vezes o peso do meu corpo contra meu próprio corpo). Quando cheguei a 16.700 metros de altitude, pude observar o contraste do espaço completamente negro à minha direita e as cores do nosso lindo planeta à esquerda. Levei nossa bandeira comigo.
Como foi sua preparação para fazer a viagem à estratosfera? Eu me preparei durante seis meses com uma médica especializada em esportes radicais. Tomei vitaminas, passei por vários exames e também fiz academia, o que detesto. No fim desse preparo, ela me forneceu um relatório médico atestando que eu poderia sofrer no máximo a força 4G. Mas o piloto do caça sugeriu manobras que exigiriam forças superiores, como contei acima. Eu, que gosto muito de um desafio, aceitei na hora, bem feliz.
Você fala vários idiomas e já conheceu 140 países em todos os Continentes, conte sobre sua paixão por viagens? Minha primeira viagem foi para levar minha mãe à Itália para rever seu pai. Desde que ela deixou seu país de nascimento, em 1954, ela ainda não havia retornado para visitar seu pai e parentes. Comprei passes de trem e pudemos fazer um tour pela Itália e por alguns países na sua fronteira – Suíça e Áustria. Isso foi o suficiente para me contaminar com o prazer de desbravar novos horizontes. A partir daí, viajava sempre nas férias: uma vez por ano dentro do Brasil e no ano seguinte para o Exterior. Conheci lugares instigantes e exóticos como Butão, Índia, Madagascar, Islândia, Namíbia, Etiópia, Tailândia, Antártica e Tunísia. Amo viajar e conhecer lugares diferentes, mas, principalmente, conhecer pessoas e culturas. É o que mais me motiva.
Você entrou para o Rank Brasil, entidade que homologa recordes brasileiros, com reconhecimento nacional e internacional, como aconteceu? O Rank Brasil é uma entidade, com reconhecimento nacional e internacional, que faz pesquisas minuciosas para homologar recordes brasileiros. E em 2019, recebi um troféu pelo recorde de ser a primeira brasileira a ir para a estratosfera. O voo aconteceu em 10 de novembro de 2015, em um caça MIG 29 e, até hoje, eu continuo sendo a única brasileira a ter ido tão longe na vertical.
Você é vista como exemplo de superação e determinação. Como foi sua infância e adolescência? Sou filha de imigrantes italianos que saíram da Itália durante o caos pós-guerra. Vivi uma infância bem humilde, quando dependia de boas notas escolares para conseguir bolsas de estudos para poder estudar e ainda aprender outras línguas. Por isso, estudei muito para entrar em faculdade federal gratuita, de prestígio e reconhecimento e poder competir com outros profissionais em disputas por vagas no mercado de trabalho. Então, durante a infância e adolescência eu dei prioridade aos estudos e desenvolvimento profissional, sempre pensando na minha carreira e já vislumbrando até mesmo a minha aposentadoria. Como meus pais não tiveram oportunidade de estudar, sempre batalharam para trabalhar e minha mãe me incentivou muito a estudar e pensar no futuro. Eu era sempre a primeira da classe e mesmo de todo o colégio. Sempre tirava 10 em tudo, me matando de estudar. Se tirasse um 9,5, já no mês seguinte, estudava mais ainda. E quando as pessoas me elogiavam para minha mãe, dizendo que eu era inteligente, ela respondia: “ela não é inteligente, ela é esforçada”.
Você fala inglês, italiano e espanhol e cursou duas faculdades – Bacharelado em Estatística, na USP; e Ciências Atuariais, na PUC como desenvolveu sua carreira? Comecei minha carreira prestando concurso para bolsa de mestrado na USP e passei em primeiro lugar, o que exigia dedicação exclusiva à Universidade. Porém, como tinha que trabalhar para meu próprio sustento e o da família, desisti da bolsa e procurei emprego no mercado de trabalho. Trabalhei inicialmente na área de Recursos Humanos num Banco de Desenvolvimento, utilizando o diploma de Estatística e depois passei para a área de Previdência Privada, onde exerci atividades como Atuária para desenvolvimento de sistemas para cálculos atuariais e elaboração de análises e planos de aposentadoria. Aposentei-me nesta profissão.
Você embarcou em um caça MIG 29 chegou à estratosfera. No dia seguinte, realizou um voo em gravidade zero! Qual a sensação de ser pioneira nessas empreitadas? Depois de chegar à estratosfera, o voo de gravidade zero foi uma agradável brincadeira. Embarquei em um avião, que serve de treino para os astronautas russos, com um grupo de 20 rapazes russos, todos fantasiados de super-heróis. Foi muito divertido e gratificante. Depois de realizar cada um desses sonhos, eu agradeci muito. Na hora, eu não pensei na condição de ser pioneira, mas sim de ter tido sucesso em realizar um sonho.
Você não esconde o desejo de realizar novas experiências, o que é preciso para conquistar Dina Barile? Eu sempre digo que eu gostaria de ter um companheiro, e não apenas uma companhia, que curtisse as mesmas atividades e viagens, que eu. Já estive em compromissos sérios, mas não cheguei a me casar, porque sabia que não daria certo e preferi minha liberdade a um compromisso que não teria futuro. Além disso, eu dou muito valor à sinceridade, honestidade e amizade. Meu companheiro precisaria, antes de tudo, ser meu melhor amigo, sem espaço para mentiras ou joguinhos. Caso contrário, prefiro continuar solteira.
Qual o seu próximo sonho de consumo, que você pretende realizar? Minha próxima viagem será para Uganda, onde realizarei um trekking para procurar famílias de gorilas e observar seus hábitos e convivência. É permitida uma aproximação, nunca inferior a 100 metros e no máximo por uma hora. Eu adoro a natureza e tudo que se refere a animais, desde que vivam em liberdade.
Como foi o concurso que escolheu você para ser uma das pessoas a carregar a Tocha Olímpica? Eu já vinha pesquisando como conseguir carregar a Tocha Olímpica, que era outro sonho do meu imaginário. E descobri que o Comitê Olímpico Brasileiro estava realizando um concurso entre os 50 mil voluntários escolhidos para os Jogos. E eu, que já tinha sido voluntária na Copa do Mundo, também tinha sido escolhida como voluntária das Olimpíadas e das Paralimpíadas, nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Cada voluntário, que quis participar, enviou um vídeo falando de suas motivações e pedindo o voto. Foi escolhido um voluntário de cada estado. O meu vídeo foi o mais votado no estado de São Paulo e, assim, fui a voluntária escolhida para conduzir a Tocha Olímpica, como a representante de São Paulo.Foram por apenas 200 metros do percurso. Sou apaixonada por esportes e levar a tocha me tornou, de certa forma, além de voluntária, uma atleta desses jogos tão importantes. A Tocha Olímpica passou por 250 cidades de todos os estados brasileiros. Foram percorridos 20 mil quilômetros. Ao total, 10 mil pessoas carregaram a Tocha.
Quais são os países mais instigantes e viagens mais inesquecíveis que você fez? Eu adoro conhecer lugares exóticos e seus costumes. Dentre esses países, destaco os relacionados abaixo:
– A Islândia ainda conserva sua identidade e tem points deslumbrantes a cada curva. Dentre suas paisagens, destaco cachoeiras muito altas, gêiseres, geleiras e vulcões. Foi neste país que visitei o interior de um vulcão, pela primeira vez.
– Os desertos sempre me atraíram, e quando visitei a Namíbia, conheci o deserto com as dunas mais altas do planeta, que chegavam a 400 metros. Além disso, os safáris são incríveis, porque alguns animais só são encontrados neste país.
– Madagascar é muito interessante, com sua fauna e flora endêmicas. Só neste país são encontradas 11 espécies diferentes de lêmures. A culinária deles é muito saborosa e suas lindas paisagens proporcionam dias de encantamento puro.
– No Turquemenistão é possível visitar O PORTAL DO INFERNO que é especial por dois motivos – por sua peculiaridade e pela curiosa história que o rodeia. Um grupo de geólogos foi enviado à cidade de Darvaza, para que realizassem diversas prospecções em busca de petróleo e gás. Porém, durante essas escavações, uma das crateras afundou e engoliu muitos operários, exalando um gás durante muitos dias. Como solução, resolveram colocar fogo, para apagá-lo. Porém, o inverso aconteceu: esse gás queima interruptamente um “fogo” há 45 anos.
– Na Zâmbia é famosa a Piscina do Diabo no Parque Nacional das Cataratas Vitória. Trata-se de uma das quedas mais famosas no mundo, espetacularmente bonita e pelo “privilégio” de possibilitar um banho numa piscina natural a poucos centímetros de um penhasco de mais de 100 metros.
– Na Etiópia, fiquei impressionada com as igrejas. Elas se diferenciam, pois foram construídas ao contrário, de cima para baixo: cavava-se um grande buraco numa pedra maciça. Um grande bloco de rocha era isolado e, a partir daí, esculpia-se cada igreja. Elas continuam sendo o centro espiritual de uma comunidade há quase um milênio. A lenda diz que foram necessários 20 mil homens, sendo que os homens trabalhavam de dia e os anjos, à noite.
– Tromso, na Noruega onde foi possível observar a aurora boreal, fenômeno natural belíssimo com luzes coloridas, que é causado pela interação dos gases que estão na nossa atmosfera com os elétrons de ventos solares.
Você também é jornalista e criou um Portal, chamado Spot Life conte um pouco do seu trabalho como jornalista? Durante os últimos 10 anos em que trabalhei em banco criei um site, chamado Spot Life, www.spotlife.com.br. O site era para divulgar e ajudar ONGs e entidades assistenciais que não tinham verba para se promover. O site cresceu e agora é um portal de variedades, onde falo de Gastronomia, Turismo, Moda, Comportamento, Beleza, Celebridades, Entretenimento, Esportes e Lifestyle.
Segundo o site Viajologia, Voce foi classificada como “Pós Doutorada em Viajologia”? Já conheci 23 estados em nosso lindo país e 140 países, em todos os continentes, acumulando conhecimento através do contato direto com outras culturas. E o site Viajologia montou um teste para medir seu nível de viajante, através dos lugares que você conheceu e de fenômenos que você enfrentou. Eu já encarei um ciclone na Venezuela, um tornado no Hawaii, um vulcão nas Ilhas Canárias etc. Com isso, conquistei o título de pós Doutorada em Viajologia.
Dina você celebrou aniversário na Antártida em um ano e no Polo Ártico no outro? Conte como foi isto? Em um dos meus aniversários, eu fui para a Antártida, num cruzeiro para um passeio cênico, quando conheci e comecei a namorar um Inglês, que mora numa cidade entre Manchester e Liverpool. Esse namoro durou 7 anos e hoje somos apenas bons amigos. Gostei tanto da Antártida, que voltei 2 anos depois para fazer uma expedição em um pequeno barco para apenas 70 passageiros, quando pudemos participar de passeios em terra firme, para observar de perto pinguins e seus pequenos filhotes, focas e leões marinhos.
Em outro aniversário, eu fui para o Ártico, no Polo Norte, para realizar um cruzeiro numa pequena embarcação, e qual não foi minha surpresa quando descobri que o barco era o mesmo em que me hospedei quando fui para a Antártida? Sim, o barco era o quebra gelo Ocean Nova e até o capitão e a tripulação eram os mesmos. Esse barco passa o verão no Polo Sul, depois se desloca até o Polo Norte, onde aproveita o verão de lá, onde realiza expedições diárias, para observar de perto ursos brancos e morsas. Foi emocionante acompanhar os ursos que, na maioria, estavam com pequenos filhotes, depois de longas hibernações. As morsas são animais enormes e conseguimos observá-las em grandes grupos, normalmente, em blocos de gelo.
Aos 66 anos e solteira, adora viajar e é aventureira, mas no amor como você é? Adoro viajar e viver grandes aventuras, mas no amor prefiro relações estáveis. No Brasil não dei muita sorte com namorados, e estou solteira até hoje. Ainda não encontrei o meu companheiro ideal, que descrevi acima. Mas nunca se sabe o que o futuro nos reserva. Por enquanto, estou bem sozinha, e até curto essa solidão porque posso fazer o que quero, na hora em que achar mais conveniente. Se eu conhecer a pessoa certa, posso até me adaptar para ficar mais tranquila e sossegada no nosso lindo país ou, até quem sabe, fora do Brasil.
Deixe uma mensagem aos leitores da MENSCH… Durante esta entrevista, falei muito sobre meus sonhos. Eu sou uma sonhadora. Mas não dessas pessoas que vivem em um mundo imaginário, que não passa de desejo e de pura fantasia. Eu sou uma realizadora, especializada justamente nisso: concretizar os meus sonhos. E é isso que eu queria passar para os leitores da MENSCH – permita-se sonhar, sempre e muito, e se dê uma chance de realizar seus sonhos. Eu lhes desejo toda a sorte do mundo em realizá-los e toda a felicidade do mundo em vivê-los.
Da minha parte, pretendo continuar viajando e quero ser um agente transformador para que o Brasil atraia turistas e possamos trocar conhecimento, cultura e informações. Eu me considero uma embaixadora voluntária do Brasil. Sou determinada em divulgar o País, incentivando todas as pessoas que conheço ao redor do mundo a vir conhecê-lo. Pode não ser muita coisa, mas adoro saber que faço a minha parte. Considero o Brasil o país mais belo do mundo e o melhor lugar para se viver. Temos todos os atributos para ser o país mais visitado do planeta e transformar o turismo na nossa maior fonte de renda.
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