PERFIL: MARCELA ZAIDEM: CORAGEM NA PRÁTICA

A FUNDADORA DA CNP PEOPLE SOLUTIONS NÃO TEM MEDO DE FALAR O QUE É PRECISO E REVELA OS PRINCÍPIOS QUE SUSTENTAM SUA TRAJETÓRIA DE SUCESSO, TRANSFORMANDO CULTURA ORGANIZACIONAL EM RESULTADOS TANGÍVEIS.

Por Isabella Barros

Marcela Zaidem não se intimida diante de desafios. Quando falou com a MENSCH, a fundadora da CNP – People Solutions estava se preparando para viajar à China, a fim de realizar uma mentoria com um grupo de empreendedores da construção civil, o FNX Club. “Tenho muito orgulho da história que estou construindo. Ir na posição de mentora dá um gostinho a mais”, contou. A passagem pela Ásia é a consequência de uma trajetória profissional bem-sucedida, ajudando a construir culturas organizacionais fortes em empresas como a Disney, Cosan Lubrificantes, FOX Sports e G4 Educação. Agora, como empreendedora, Marcela aplica o que aprendeu em 15 anos de carreira, criando soluções estratégicas para a área de pessoas.

Para entender essa história, é preciso voltar ao começo. Mais precisamente, a Feira de Santana, na Bahia, onde a executiva nasceu e morou até parte da sua adolescência. “Minha forma de lidar com o mundo é batalhando sempre. Não gosto de me vitimizar. Foi assim que meus pais me criaram. Quando eu era criança, minha mãe tinha uma lanchonete e meu pai era motorista. Meus pais sempre deram muito valor ao estudo, e eles deixaram claro que gastariam todo o dinheiro que pudessem para me proporcionar uma boa educação. Estudei em escola pública até a quarta série e, a partir daí, passei a estudar em escola particular, como bolsista. Saí da minha cidade aos 16 anos para estudar Psicologia em Salvador. Inicialmente, pensei em fazer artes cênicas, mas minha mãe, Dona Nalva me desencorajou, por questões financeiras. Depois pensei em cursar Direito, mas, no fim das contas, continuei na Psicologia até me formar”.

Ao longo do curso, Marcela procurou alternativas que mais se adaptavam à sua personalidade mais objetiva e resolutiva. Logo se deu conta de que a psicologia clínica, com atendimento a pacientes, não era uma opção interessante para ela. No fim do curso, a executiva engravidou do filho mais velho e isso a impulsionou ainda mais a encontrar uma solução. “Estudei quais seriam minhas possibilidades e passei a olhar para o mundo da gestão de pessoas. O ambiente corporativo me atraiu por ter mais o meu jeito. É mais prático, com obtenção mais rápida de resultados, com feedback mais claro”.

Embora tenha começado a carreira corporativa no recrutamento e seleção, Marcela passou rapidamente a atuar como business partner e a galgar posições, passando de analista para coordenadora – depois para gerente, diretora, sócia e, agora, fundadora da CNP – People Solutions. Quando atuava como coordenadora de Recursos Humanos na Cosan, ela teve a oportunidade de fazer uma especialização em gestão de negócios na Fundação Dom Cabral, uma das escolas de negócios mais renomadas do Brasil. “Vi que essa era uma virada de chave. Em vez de me especializar ainda mais em gestão de pessoas, estudar gestão de negócios me faria sentar nas grandes mesas e debater com grandes empreendedores. Percebi que esse era o meu caminho”.

A fundadora da CNP – People Solutions também reflete sobre o que significa “sentar nas grandes mesas”, com insights que podem servir para qualquer profissional. “Não adianta querer chegar nesses lugares sem se preparar. Se você não fizer isso, não vai compreender os desafios que vai enfrentar. Quando você está em um ambiente de negócios de alto nível, não é o momento de você se questionar o porquê de estar lá. Se você chegou, seu trabalho é se adaptar a essa nova situação, entendendo como vai se sustentar e se validar nessa posição. É preciso sair do seu mundo, do seu umbigo, e estudar outras coisas. Não é porque você é de RH, por exemplo, que tem que falar apenas de RH. Você precisa se responsabilizar por aprender, sem medir esforços, tudo o que está ao seu redor e usar isso de forma estratégica”.

Marcela também frisa que o empoderamento de um profissional está diretamente relacionado à autorresponsabilização sobre a própria carreira e isso inclui o que é temido tanto por muitos  líderes quanto por liderados – as conversas difíceis. “Independentemente do que você deseja para o seu futuro, se responsabilizar por suas escolhas é o mínimo. O padrão, atualmente, é que as pessoas coloquem a culpa em alguém. É preciso separar o que é seu do que é do outro, até para saber o que está sob seu controle ou não. Quando isso não acontece, temos um problema. Por isso, não se pode ter medo das conversas difíceis – elas são necessárias para que as pessoas prestem contas do que realmente fazem”.

A coragem de fazer o que precisa ser feito também levou a executiva a tomar uma decisão crucial na sua carreira – sair de uma carreira consolidada no ambiente corporativo, para empreender. Marcela compreendeu que havia chegado a hora durante sua atuação na G4 Educação, onde ingressou em 2022, como sócia e diretora de pessoas, e passou a ser diretora de eventos, parcerias e patrocínios. “Quando tomei a decisão de ir trabalhar na G4, no meio de empreendedores, quis avaliar o quanto eu seria capaz de fazer a mesma coisa. Fiz a migração para o setor de eventos dentro do próprio G4 porque quis me aprofundar em uma área mais voltada para negócios. Eu queria entender como se montava um produto. Por muito tempo, tive dúvidas sobre minha capacidade de estar à frente da minha própria empresa, mas me senti preparada para superar o medo e dar esse passo. Então,  pedi demissão”. Dessa forma, em setembro de 2024, surgiu a CNP – People Solutions.

Foi a partir dessas experiências em 36 anos de vida e mais de 15 anos de carreira, que Marcela estabeleceu os quatro princípios fundamentais da Cultura na Prática. O primeiro vem de um ditado popular ‘compromisso é lei, e combinado, não sai caro’. O segundo parte de uma constatação, crescer dói.  O terceiro postula que é preciso transformar o intangível em comportamento e o quarto é expresso por uma frase direta – sem métrica, sem resultado. “Se você combinou algo, precisa dar um jeito de cumprir. Outra atitude importante é não se esconder atrás de nada, nem permitir que o liderado faça isso, porque um bom líder quer ver a equipe se desenvolver, mesmo que seja por meio de um feedback duro. Além disso, é fundamental sair de palavras vagas para ações práticas, a fim de gerar exemplos práticos, que possam ser medidos”.

Para Marcela, esses princípios precisam se alinhar aos dois elementos que, na sua visão, compõem uma cultura organizacional forte – consistência e disciplina. Para esses conceitos se transformarem em prática, as pessoas em posição de liderança têm papel fundamental. “A CNP – People Solutions tem um grande diferencial, por sua missão de extrair ou consolidar a visão de cultura organizacional dos empreendedores que atendemos. Infelizmente, para a maioria das pessoas, esse conceito ainda é muito vago. Acreditamos em uma área de pessoas estratégica, que deixa de ser um custo e passa a ser um investimento que traz resultados financeiros. Para isso, é necessário ter clareza em relação aos comportamentos que você aceita e, principalmente, aos que você não tolera. Mas essa mudança só funciona se as pessoas em posição de liderança sustentarem esses conceitos no dia a dia. Por isso, é necessário contratar líderes alinhados aos valores que os empreendedores querem ressaltar em seus negócios”. O crescimento da CNP – People Solutions faz com que Marcela fique em trânsito constantemente. Logo antes de viajar para a China, a empreendedora passou por quatro cidades em cinco dias: São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre e Fortaleza. De acordo com ela, a rotina corrida faz parte do preço de expandir sua empresa. “Não adianta crescer sem sentir a dor do crescimento. Sei que essa vida mais corrida é temporária, porque estou pensando no futuro e construindo algo muito maior. Hoje, eu sei qual é o ônus e o bônus de ser uma pessoa extremamente trabalhadora, de ir atrás das coisas, mas percebo que a grande maioria dos empreendedores não entendem isso e querem ser o que não são por querer agradar a todos. Esse é o grande ponto – agradar a todos, é impossível. O mais importante é saber encontrar pessoas que estejam alinhadas ao seu propósito”.