
Nascido em Santos, Christian Malheiros é um dos atores mais promissores do cenário atual do audiovisual brasileiro e vem consolidando uma carreira marcada pela diversidade e força dramática de seus papéis em produções reconhecidas nacional e internacionalmente. Christian iniciou sua trajetória artística no teatro, aos nove anos de idade, participando de sucessos como “Medéia”, “Bailei na Curva” e “O Inspetor Geral”. Sua primeira aparição nas telas foi com seu protagonismo no filme “Sócrates”, em 2018, em que interpretou um jovem em situação de vulnerabilidade. Christian é internacionalmente reconhecido por seu personagem Nando, protagonista da série “Sintonia” (2019-2025). Ao longo das cinco temporadas, a maior franquia brasileira original Netflix, idealizada por KondZilla, se tornou um fenômeno global, retratando a vida na periferia paulistana por meio da amizade, fé e música. Com uma trajetória artística que transita entre o cinema, a televisão e o teatro, Christian reafirma seu lugar como um dos principais nomes na dramaturgia atual. Com apenas 26 anos, coleciona personagens, prêmios, reconhecimentos e uma carreira que traz representatividade do Brasil no cenário cultural mundial com autenticidade e talento.
Christian podemos dizer que você foi um garoto prodígio que bem criança já sabia que queria ser ator? Como foi essa percepção do que desejava fazer? Eu não fui uma criança que olhou para a televisão e achou que poderia ser artista. Eu fui uma criança que descobriu o ofício da atuação através de uma oficina dentro de uma escola pública na periferia. Então, isso para mim é um lugar que é muito sagrado. E desde pequeno o mundo era estranho pra mim, eu sempre tinha essa sensação que estava desencaixado, e essa vontade de querer mudar o mundo, de me comunicar com as pessoas e transmitir uma ideia. Isso estava dentro de mim e acabou se traduzindo no que eu faço hoje.

Em casa sempre teve apoio? Alguma inspiração ou influência? Eu só sou um artista que hoje comunica com milhões de pessoas e de uma forma honesta e sincera, porque a minha mãe me ensinou o que é ter humanidade, o que é ser generoso e o que é ter empatia pelo outro. E ela é minha maior inspiração, e maior influência por causa disso, porque ela me deu as principais qualidades que um artista precisa ter para ser de verdade. Então, ela é tudo para mim.
Seu início como ator foi pelo teatro e na sequência foi para o cinema, algo digamos, mais cult, e na sequência já vieram indicações a prêmios. Isso te pegou de surpresa? Esperava já começar assim? A minha trajetória começa no teatro, ela nasce no fazer teatral. Eu sou formado em Artes Cênicas e aprendi a trabalhar o ofício do ator na sua essência. Fiz muito teatro amador, muito teatro profissional, rodei espetáculos pelo Brasil inteiro e participei de inúmeros festivais. No teatro, eu aprendi a costurar meus figurinos, e o que é trabalhar no coletivo, o teatro faz isso, a gente tem que aprender de tudo um pouco.
Então teatro é, para mim, o meu grande início. O lugar onde aprendi de fato o ofício. A partir do momento em que o cinema também me encontra, também muito cedo, foi uma alegria enorme. Eu não esperava que tantas coisas viessem em tão pouco tempo. Sou muito grato, Mas entendi que o artista, ainda mais no cinema, cumpre uma função social. Sou muito feliz com tudo que o cinema me proporciona e sempre recebo cada conquista com surpresa e gratidão.

“Sessão de Terapia” digamos que foi seu primeiro trabalho para o grande público e “Sintonia” seu grande fenômeno? Qual a importância de cada um desses trabalhos teve/tem para você? São dois personagens com histórias fortíssimas, mas cada um tem um caminho totalmente diferente, e isso é muito interessante. “Sessão de Terapia” é um trabalho de ator em sua essência. É um processo em que você precisa mergulhar profundamente, se perder e se reencontrar o tempo todo. Foi uma experiência transformadora para mim, tanto como artista quanto como pessoa. Ali eu pude entender muito do meu ofício, da minha entrega e da minha capacidade como artista. Já “Sintonia” é um feito que eu tenho muito orgulho, porque me comunicar com tantos jovens, falar sobre a periferia de São Paulo, que até então não era retratada na nossa dramaturgia, já que o foco sempre esteve na periferia do Rio de Janeiro e trazê-la para o centro do palco, é algo muito poderoso. A gente acabou de lançar a quinta temporada, que foi um sucesso, e isso mostra cada vez mais o quanto o público brasileiro se sente bem quando se vê representado na tela. Eu acredito que nós, que fazemos cinema e televisão, temos esse poder. É muito bonito quando acontece.
Em “Sessão de Terapia” você interpreta um motoboy meio revoltado com sua condição e o meio onde vivia. Com diálogos que quase pareciam monólogos. Como foi seu preparo para isso e como a cada episódio surgia um novo desafio? Como o Tony te surpreendia? Eu, como ator, gosto de trabalhar todas as possibilidades possíveis para chegar na melhor interpretação de um personagem. Mas Sessão de Terapia tem uma peculiaridade, porque o Tony era um personagem muito intenso e cheio de reviravoltas então, mínimas coisas já mudavam o rumo de tudo. Eu encontrava essas possibilidades, mas também precisava me desprender delas. Tive que me jogar em muitos abismos que eu não conhecia, e isso foi um grande desafio pra mim. Por outro lado, também me surpreendeu, porque acabei descobrindo muitas coisas sobre mim mesmo nesse processo que eu ainda não conhecia, e ter o Selton Mello como diretor, alguém que eu já admirava como ator, fez com que a coisa fosse uma contribuição mútua. A gente conseguia encontrar os melhores caminhos, inclusive os inesperados. Eu me surpreendia a cada dia com tudo que acontecia, porque qualquer coisa poderia acontecer naquele set. E o Selton, com um coração gigante, estava sempre aberto a isso.

E falando em “Sintonia”… qual a razão desse sucesso todo da série? Esperava por isso? Eu sempre acho que vou conseguir chegar a uma resposta do porquê o Sintonia faz tanto sucesso, mas toda vez que a gente lança alguma temporada, as respostas mudam, porque a gente vai descobrindo coisas diferentes que as pessoas vão nos contando sobre o que faz essa série ser tão especial. Então, tem vários motivos. Eu poderia listar aqui milhões de razões para o Sintonia fazer tanto sucesso, mas eu acho que o público sempre vai ter a melhor resposta.
O que eu posso dizer, do fundo do meu coração, é que as pessoas entendem o dilema daqueles personagens, porque são dilemas reais, da vida real que eu, você e todo mundo no Brasil tem. Em lugares, formas e níveis diferentes, é óbvio. E não, eu não esperava por isso. E eu sou muito grato por esse sucesso e por esse carinho todo que o público tem com a gente. Se não fosse isso, a gente não estaria onde está hoje. E eu falo “a gente” porque é coletivo, não sou eu, o Christian. É uma galera que faz tudo isso acontecer. Mais de 200 pessoas colocam o Sintonia em pé a cada temporada.
Agora você está gravando o spin off do seu personagem Nando. O que podemos esperar desse novo capítulo da trajetória de Nando? A ficção tem o poder de falar do presente, mas também pode ser usada como ferramenta para a gente falar de um futuro que pode, sim, ser possível. Eu acho que esse spin-off é um capítulo bem importante para fechar, com chave de ouro, a trajetória desse personagem que foi tão emblemático na história de Sintonia.


Em um de seus trabalhos mais recentes você interpretou Maurinho, amigo muito próximo de Senna. Como foi viver o universo Senna sem ter vivido e “era Senna”? Já tinha alguma referência ou interesse na vida dele ou foi descobrindo ao longo do trabalho? O Senna vive em um inconsciente coletivo, né? Então, até pessoas como eu, que não viveram essa época, se sentem muito próximas, porque ele fez parte da história dos nossos pais. E os nossos pais passaram isso pra gente e a gente vai passar isso pra frente. Eu acho que o Senna é essa lenda que sempre vai ser contada. Ter sido chamado para fazer parte dessa história, pra mim, foi um privilégio muito grande. O carinho pelo Senna vem de família. Mas foi com a série que eu pude me aprofundar ainda mais na trajetória dele. Um carinho que vem desde criança se tornou um amor. Hoje eu falo que sou muito fã do Senna. Esse cara é um dos nossos heróis mundiais.
Você é um ator incrível, premiado e aclamado com apenas 26 anos. O que deseja / planeja para o futuro da sua carreira? Por onde deseja passar? A única coisa que eu desejo são boas histórias para contar. Eu sou uma pessoa extremamente apaixonada pelo que faço. E, para eu decidir contar uma história, eu preciso ter paixão por ela também. Então, eu desejo para o futuro histórias apaixonantes. Que histórias apaixonantes cruzem o meu caminho como tem sido até hoje.

E o que falta para a TV aberta “te descobrir”? Deseja fazer uma novela? Olha, eu estou em um lugar que eu amo estar. Eu olho pra trás e vejo o que conquistei até agora e acho muito bonito tudo o que fiz e quero continuar nisso. Eu não tenho essa ansiedade de ir pra televisão aberta. Eu já recebi alguns convites para novelas, mas acabou não rolando por diversos motivos. O dia que tiver que rolar, vai rolar. Eu só não tenho pressa pra que isso aconteça. Acho que, quando tiver que acontecer, vai acontecer e vai ser muito bonito. E se não acontecer, vai ser maravilhoso também. Porque eu sou um contador de histórias, independente do veículo, do palco ou do canal. Eu só preciso do público do outro lado me assistindo.
Fora dos estúdios o que curte fazer? Onde você se diverte e recarrega as baterias? Eu, como bom curioso, gosto de viajar. Porque gosto de conhecer coisas novas, gosto de ouvir histórias novas, gosto de ver pessoas novas e de enxergar a vida por ângulos que eu ainda não conheço, por perspectivas que ainda não vi. Então, eu recarrego as baterias indo conhecer coisas que ainda não conheço, ouvindo e vendo beleza em lugares onde ainda não pisei.
Qual sua maior vaidade como ator e homem? Querer ser o melhor, sempre.

Fotos @fabioaudi


