ESTRELA: WALKIRIA RIBEIRO, O FURACÃO EM “FUZUÊ”

Walkiria Ribeiro é uma daquelas mulheres espetaculosas. E sua personagem Rejane Miranda, na novela Fuzuê (Globo) é um verdadeiro furacão. Mulher forte, independente, que sabe o que quer e que arranca suspiros por onde passa. Algo em comum entre a personagem e a atriz, que já vem de uma longa trajetória que começou no Carnaval, passou pelo humor da Praça é Nossa, até chegar em novelas marcantes como o remake de Escrava Isaura e atualmente o sucesso no horário das 19h. Walkiria é pura apoteose de alegria, garra e talento.

Walkiria quer dizer que o início de tudo (como atriz) veio com o samba? Quando você foi eleita Rainha do Carnaval de São Paulo em 2000? Daí em diante sua carreira como atriz deslanchou? Sim, o samba me deu oportunidade ao primeiro palco, a minha primeira oportunidade de atuação veio em filmes publicitários e depois a Praça é Nossa e ambas às vezes. Fui descoberta por produtores dançando, até então eu fazia trabalhos e eventos como dançarina e modelo! 

Sua estreia na TV veio acontecer em Escrava Isaura em 2004 né isso? Como foi esse início? Na verdade, meu começo considero na Praça é Nossa, lá foi a minha grande escola, em 2000, fiz parte do elenco até o teste de escrava Isaura, na dramaturgia foi como Juliana, em Escrava Isaura. Herval Rossano me disse, vou lhe dar um papel que não tivemos na primeira versão, o papel é muito bom para lançar uma atriz e você morre no primeiro capítulo. Fui do céu ao inferno, parecia até uma piada e assim me garantiu 10 anos de contrato com a emissora e um primeiro capítulo de 60 minutos contando esta história inédita escrita por Tiago Santiago.

Mesmo tendo mais de 20 anos de carreira, poderia dizer que Rejane Miranda de Fuzuê é um divisor de águas na sua carreira? Acredito que Rejane Miranda entra no meu hall das minhas protagonistas (risos), porque todas as minhas personagens são minhas protagonistas. E o que mais me impressiona são as abordagens com as crianças, elas falam todos os bordões da Rejane e eu morro de rir! 

Como surgiu o convite e como foi sua preparação para viver essa mulher voluptuosa? Eu fui convidada para testar Rejane e no dia eu já senti que eu tinha o borogodó que ela exigia e me divirto e aprendo muito com ela, a rainha do fuzuê é a rainha da autoestima! 

Você tem uma veia cômica mais aguçada. É isso mesmo? É onde se sente mais livre como atriz? Eu tenho uma família de humor bem peculiar e ácido. Meu pai era de um sarcasmo ímpar, eu abro a boca e amigos me acham engraçada, tenho uma franqueza sincericida (os mais chegados que o digam), então mesmo falando sério as pessoas riem! Mas, com certeza, tudo que aprendi foi com os grandes comediantes na Praça é Nossa, Carlos Alberto de Nóbrega, José Miziara, Golias, Jorge Lafond, Catifunda, Moacyr Franco, Jorge Loredo e parte toda a nata do humor brasileiro, um humor de extrema inteligência e sensibilidade! É o tipo de aprendizado que fica entranhado na alma. 

O que faz você se desafiar num novo trabalho? O que espera dele? É exatamente o que me move não criar a expectativa, eu não o espero eu o sinto, todo personagem que chega eu o recebo primeiramente como expectador e começo a decupar aí, as minhas sensações como ouvinte e espectador que me conduz, o ator tem de saber sentir e o ápice deste jogo é realmente quando você é desafiado pelo lugar não visitado ainda. O melhor trabalho é sempre aquele que estamos fazendo no presente.

Rejane Miranda é uma espécie de vedete. Você acha que se vivesse nos anos 50 / 60 poderia trabalhar em teatro de revista? Se identifica com esse universo? Eu sou do carnaval e as vedetes por anos fizeram parte do meu imaginário, para além do carnaval eu fiz parte do último elenco do Plataforma, casa que tinha um dos maiores espetáculos do folclore brasileiro. Eu dancei com muito em bailes acompanhada de grandes bandas como a Super Sim, e tenho muito orgulho de ter sido parte de uma das mais respeitadas companhias internacionais, o Oba Oba, de Franco Fontana, que teve temporadas na Broadway, Austrália, Nova Zelândia, Mônaco e tantos países que tive a honra de levar o melhor deste Brasil pro Mundo! Eu vivi esta magia de alguma forma nos anos 90 e não tem nada tão genuíno e inspirador do que o Teatro Revista, o Brasil tem uma cultura dançante e estas mulheres (vedetes) abriram muitas portas para o que apreciamos até hoje e sempre foram minhas referências, quando o assunto é elegância , presença de palco e glamour! E Rejane carrega muito deste universo, sem dúvidas! 

Como você enxerga esse protagonismo negro hoje em dia? Acredita que é uma mudança de fato que vai além de uma tendência? Mas sim de um lugar de pertencimento que demorou a acontecer? A resposta já está em sua pergunta, demorou sim, entretanto, sinto que toda esta espera nos fortaleceu de gana e mais potência, esta espera nos colocou em movimento e temos muitos de nós contando nossas histórias, nunca foi tendência, passamos séculos silenciados e agora o silêncio acabou, e não tem mais tempo para se fazer de desentendido, nosso povo está sedento por representatividade, somos mais de 70% de uma população que quer ser vista no áudio visual e este é um caminho sem volta! 

No início da carreira de atriz sentiu algum tipo de preconceito ou não se sentia confortável com alguns trabalhos que foram oferecidos? Sou uma privilegiada de ter sido contemplada com bons personagens durante minha carreira, pra mim não existe papel pequeno ou personagem ruim, todos são os meus protagonistas! Já fui invisibilizada dentro de um estúdio onde o diretor falou com todo o elenco, menos comigo, naquele momento eu sabia que meu poder estava no meu ofício, este dia fui aplaudida em cena aberta por toda equipe (momento raro para um ator e sublime ao mesmo tempo) e ele não teve outra atitude, veio se desculpar, se apresentou e se rendeu aos aplausos! Meu pai me ensinou desde pequena, dê o seu melhor, faça o que tem de ser feito e nunca desista, sempre terá alguém te olhando e prestes a te reconhecer! E continuo oferecendo o meu melhor. 

Como lida com o espelho e a idade? Quando você tem o corpo como ferramenta, a vaidade é aliada, o carnaval é um ambiente vaidoso! O que mudou com a maturidade, foi entender o que é mesmo vaidade ou ego, a maioria de nós, se perde no ego e ele é efêmero! Estou como Rejane Miranda, estou na porta dos 50, entrando no climatério, não posso brigar com meu eu. Tenho a consciência que meu corpo não é mais o corpo dos 20 ou 30 anos e aprecio tudo nele, me redescubro todos os dias. Porque não tinha a malícia que tenho hoje e nem a sabedoria, posso te dizer que o autoconhecimento é libertador e estou pronta para esta mulher de meia idade que se apresenta. Pode ser clichê, mas nunca me senti tão poderosa e dona de mim, não me troco por duas de 25 mesmooooo!! (risos)  

Algum traço em comum com Rejane Miranda?  Bom humor, autoestima e a certeza de que merecemos ser amadas! Somos intensas, eu sou geminiana e Rejane Miranda é gêmeos com ascendente e lua em gêmeos (risos). 

Na hora de recarregar as baterias, o que procura? Os braços do meu namorado Robson e o afeto dos meus amigos! Não tem preço você estar próxima e acolhida por quem te ama e te respeita do jeito que você é. 

E para conquistar Walkiria basta… “Não pode ser visita tem de ser participação especial”! Já fui do grupo dos muitos, hoje, aprecio os de verdade e eles são raros.

Fotos Rodrigo Lopes (@rodrigolopes)

Beleza Paula Cris (@paulacrismakup)

Stylist Gustavo Rocha (@da.rocha_gustavo)

Looks Zany Assessoria (@zanyassessoria)

Joias Lavish (@lavishbytm)

Assessoria Julyana Caldas (@julycaldas)