FOTOGRAFIA: AS “SEREIAS” DE ANGELO PASTORELLO

O que pudemos constatar ao admirar o trabalho do fotógrafo Angelo Pastorello, é o poder de captar com muita criatividade e elegância belíssimas imagens da sua forma de olhar por trás das lentes. Com técnicas apuradas e olhos sensíveis Pastorello tem se destacado aqui no Brasil e no exterior, seja com fotos simples de uma viagem ao Chile à um ensaio sofisticado para um editorial de moda, de um nu para revista ou um simplesmente um portrait, a marca da elegância e bom gosto está registrada junto à foto. Angelo, fez para a MENSCH ensaios incríveis com o cantor Paulo Ricardo e o ator Carlos Casagrande, recentemente produziu o calendário da Sirena (que você confere aqui algumas fotos) e sempre nos surpreende com algo inesperado. Um homem tão simples quanto eficiente no que faz se mostra nessa entrevista um cara comum querendo criar e realçar a beleza das coisas de forma marcante. Tão marcante quanto essas belas imagens que ilustram essa matéria.

 

O que você busca com a fotografia que já realizou e o que ainda busca através dela? A busca é para sempre, a melhor foto é sempre a que eu “ainda” não fiz! Existem muitos trabalhos que me deram satisfação, portanto eu me realizei com estes trabalhos, a “busca” mais importante, além da conceitual, é a busca por condições “ideais”, tempo e remuneração e equipamentos adequados, assim como trabalhar com profissionais que realmente entendam de suas áreas, diretores de arte, editores. Continuar fazendo exposições e publicar livros também fazem parte desta busca.

Qual a marca dos seus trabalhos? Qual sua característica? Eu prefiro que as pessoas falem sobre o meu trabalho, o que elas vêem e sentem nas minhas fotos!! O grande “desafio” para a maioria dos fotógrafos é ter esta “marca”, uma “assinatura”, que não é a técnica simplesmente, mas o conceito, o olhar. Isso é um “debate” amplo, pois conceito, olhar, originalidade são “conceitos” subjetivos. Técnica é importante saber e podemos estudar, até para podermos “desprezar”!!! Sensibilidade, “intuição empírica” e senso geométrico é mais difícil, são muitos fatores que vão compor cada fotógrafo. Em relação ao meu trabalho, uma característica forte é a minha preocupação com volumes e dimensões, através de uma iluminação elaborada, enquadramento e direção quando eu fotografo pessoas. Em trabalhos profissionais onde eu tenho um briefing, um layout, eu “tento” incorporar estas características “técnicas”. Em trabalhos autorais, desde a concepção até a execução, a responsabilidade é totalmente minha. Da escolha do ‘tema”, como “olhar” este tema, escolha da câmera, filmes, como vou revelar estes filmes, como vou ampliar, em que tipo de papel. Enfim, todos os detalhes. Nestes casos acredito que minha maneira de olhar e resolver este olhar esteticamente fique mais evidente.

 

 

Você uma vez citou que fotografar um nu para exposição te dava mais liberdade. Por quê? O que diferencia de um nu para uma revista? Porque no trabalho autoral eu sou o responsável por tudo, portanto tenho liberdade total, a proposta é minha para mim mesmo! Quando eu fotografo para uma revista eu divido esta responsabilidade com uma equipe, com a direção de arte da revista, com a produção, com o make e na maioria das vezes eu sigo um briefing e o “estilo” da revista. Isto não significa que é melhor ou pior, apenas que é um trabalho de equipe. Uma foto não é “melhor” ou “pior” por ter sido feita para uma exposição em Museu ou para uma revista. Muitas fotos que foram publicadas em revistas poderiam estar expostas num museu…e muitas exposições não poderiam estar publicadas em nenhuma revista!

Como foi a concepção desse novo calendário da Sirena? E em que esse se diferencia dos demais? Foi a quarta vez que eu fiz o Sirena, acho que este calendário é uma evolução natural, ele tem uma única foto de cada modelo, o que torna a escolha mais difícil. E a decisão de fazer tudo em P&B também contribuiu p deixar as fotos mais elegantes.

 

Que dicas você daria ao leitor MENSCH que está iniciando no universo da fotografia? Não se forma um profissional em pouco tempo, em área nenhuma, e em fotografia também. A “revolução” digital trouxe uma facilidade e uma “democratização” da imagem fotográfica, o acesso a câmeras é mais fácil, a fotografia migrou para telas de iPod, iPad, celulares e computadores. Barateando todo o processo e nivelando as imagens em resoluções baixas que “enganam” os olhos quando vistas “virtualmente” nestas telas. Por outro lado existe uma “banalização” da fotografia, sem critério nenhum. Vejo pessoas se dizerem fotógrafos sem ter idéia do que é Luz e sem ter os pré-requisitos básicos da fotografia. Aprendem um básico de photoshop e se intitulam fotógrafos. A dica é: estudem!! Procure um curso, sejam assistentes de profissionais com história, leiam muito, se informem cronologicamente, história da fotografia, estudem fotógrafos de diversas áreas, para os digitais, entendam o que é, e como funciona um Fotodiodo (pixel), aprendam a fotometrar e a interpretar a luz, estudem Zone Sistem, amplie suas imagens em papeis fotográficos, e principalmente, não se ache importante!!

Quem é Angelo Pastorello sem a câmera fotográfica? Um observador…