CAPA: FERNANDO FERNANDES E SEUS NOVOS DESAFIOS

Que Fernando Fernandes é um cara de grandes desafios, seja por aqueles impostos pela vida, seja pelos que ele mesmo vive procurando para superá-los – o que faz dele um belo exemplo de que, realmente, é possível dar a volta por cima e criar uma nova história. Em seu mais novo desafio, Fernando foi no limite. Alias, o No Limite foi ao encontro dele mais uma vez. Só que, dessa vez, no meio da Amazônia, onde os desafios são ainda maiores, tanto para a equipe, quanto para os participantes  e para o apresentador. Mas, com Fernando é – desafio feito, desafio aceito! E, lá foi ele, de canoa mata a dentro da grande floresta, para apresentar a mais nova temporada do programa. E cá pra nós, tá tirando de letra.

Conte pra gente como foi apresentar o No Limite e o que podemos esperar para a nova edição desse ano. Quando recebi o convite para apresentar o No Limite, na verdade, foi algo que, ao mesmo tempo uma mistura de felicidade, mas com medo e receio, porque por mais que eu tenha meus quadros e meu programa no Canal Off e venho me preparando há muito tempo, a gente sempre tem aquele medo lá dentro. Nossa, e agora? Vou assumir um programa onde eu vou estar à frente, ser o responsável por ele acontecer da melhor forma. Então, a cobrança – os olhos estarão todos em cima de você, para o que você vai apresentar de diferente. Mas, ao mesmo tempo, estar no limite, sempre fez parte da minha vida. Sempre vivi no limite, eu sempre vivi rodeado por pessoas onde eu tento extrair o melhor dessas pessoas para as quais eu tento criar possibilidades, mostrar que podem ser pessoas fortes, independentemente de corpos, ou de condição física. Então, estava ali dentro do meu contexto – se eu fosse um pouco ou bastante Fernando, eu conseguiria trazer isso.

E a gente teve a minha primeira temporada quando foi uma luta, onde foi tudo muito novo, e agora eu parti para uma temporada para a qual eu me preparei muito para ela.        Passei um bom tempo com fonoaudióloga – um bom tempo me preparando fisicamente, porque o No Limite é na Amazônia, um lugar novo, um lugar diferente, onde eu não tenho controle sobre esse lugar como eu tinha lá no Ceara, onde eu moro. Que é onde eu conheço tudo. Aqui, tudo é novo. Aqui, tudo, tudo é difícil para todos – para os participantes, para a equipe, para mim. Nós estamos falando da Floresta Amazônica, em um  momento em que o rio Amazonas está mais cheio. Você tem um volume de água que sobe de 10 a 15 metros a mais do que o normal. Então, é água e mata fechada. E como eu vou me adaptar a tudo isso? A gente vem se reunindo há muito tempo – desde o fim do ano passado, para pensar nessas mudanças nas adaptações, no que a gente vai fazer.

Acabou que eu voltei para um lugar no qual eu sempre amei estar, que é em cima de um caiaque. O caiaque tem sido uma grande ferramenta de liberdade para mim. Muitas  vezes – adiantando até um pouco do que vai acontecer no programa, muitas vezes estarei em cima de um caiaque e, dentro do caiaque, dentro da água, eu me sinto em casa. Então, isso também ajudou muito nessa forma de apresentar, porque aqui não é só questão de apresentar – é você lidar com todas as dificuldades que a natureza impõe. Mas a gente está de uma forma muito orgânica aqui, respeitando muito a floresta, respeitando todos os ribeirinhos, todos os povos originários, os povos ancestrais que estavam aqui muito antes de alguém chegar. Está todo mundo nesse contexto, fazendo parte disso tudo. Assim, isso ajuda muito a gente para estar aqui, dentro da floresta amazônica.

O No Limite, neste ano vai para a Amazônia, o grande pulmão do mundo, onde reina uma grande diversidade ambiental e também um grande desrespeito à natureza, como você vê as questões ambientais? A gente veio para a floresta amazônica, para onde os olhos do mundo estão todos voltados, onde a gente considera esse coração, esse pulmão do mundo. A gente sabia que isso não iria ser fácil, mas estamos em um momento importante – é o momento de dar voz à Amazônia, de dar voz a nossa forma de tratar a natureza, o quanto a gente precisa mudar um pouco nossos costumes, o quanto a gente precisa entender que a natureza nos dá muitas coisas e que a gente não precisa eliminá-la, para habitar esse espaço. A gente tem que estar dentro e o que a gente fez aqui foi escutar os povos originários, os ribeirinhos – a gente entrou de forma orgânica. Os desafios são dentro da floresta, dentro dos igarapés, fazendo parte daquele contexto todo e não abrindo um clarão no meio da floresta para fazer um desafio. Então, tudo está sendo feito de uma forma orgânica sustentável. A própria equipe aqui, ninguém tem copinho de plástico. Todo mundo tem seu cantil. São os pequenos detalhes, de tudo. A gente sabe que, chegar com uma equipe de 200, 300 pessoas aqui, vai, de alguma forma, mexer com tudo isso. Mas, de que forma podemos mexer sem impactar?

O No Limite é uma competição em meio a muito perrengue e até circunstâncias inusitadas onde os ânimos, por vezes, podem se exalter. Já viveu alguma situação onde precisou ter mais controle e firmeza no comando do programa? Quando as pessoas estão no limite, elas estão à flor da pele. Então, todo o sentimento aqui está mais aflorado e eu, como apresentador e como condutor dessas pessoas, tenho que ter esse controle – tenho que saber onde eu posso apertar mais, quando eu devo apertar, quando eu devo dar um pouco mais de flexibilidade. Quando eu devo dar um pouquinho de motivação também, pra eles. Para continuarem nessa batalha, não é só o apresentando estar conduzindo 15 pessoas que estão em busca de um treino. Sim, eles estão no limite o tempo todo, estão à flor da pele o tempo todos. Dentro disso, vai ter discussões, choros de saudade, vai ter fome. Isso tudo faz parte de uma experiência da qual você tenta extrair o melhor de cada um. Eu acho que é isso que eu faço muito bem.

Como lida com as redes sociais e o pacote de coisas que vem com elas, desde carinho e homenagens até cancelamentos e discursos de ódio? Costuma ser muito ativo? Como eu lido com as redes sociais? De forma natural, dentro das redes sociais, a gente sabe que tem pessoas atrás de um celular ou de um computador onde elas se expressam da forma que elas querem e elas são importantes, sim. Importantes na condução do programa, na formação do programa, até porque, neste ano, algumas coisas foram mudadas devido aos pedidos do público – como a final, por exemplo. Não  vai mais ser decidida pelo publico – vai decidida entre eles. Isso porque o público pediu e, ao mesmo tempo, a gente vai trazer um programa no qual o público vai ser muito participativo. Na  questão da torcida, eles vão se envolver muito mais na convivência dos participantes, em tudo que acontece – os desafios têm seu peso aqui, que são as provas. Mas quais são? De obter uma vantagem ou uma desvantagem – o que vai ser a grande força dessa edição. Questões  da convivência entre eles que a gente quer trazer muita à tona e, com certeza, isso vai pegar todo mundo na Internet. A gente está falando de pessoas, seres humanos que vão entrar em conflitar, se amar. Que vão se odiar e o apresentador, conduzindo isso – e claro, não vem só carinho a gente sabe que vai receber de tudo porque, às vezes, a opinião de um, não é opinião do outro. Mas, isso serve mais como um termômetro para a gente acompanhar do que interferindo, por meu lado pessoal.

Como artista e atleta considera importante usar a sua voz em algumas causas? Como atleta e como apresentador dos meus programas no Canal Off e nos meus quadros no Esporte Espetacular, eu sempre procurei dar voz para as pessoas e para quem precisa dessa voz. Porque, eu vivo e convivo com todas essas dificuldades e vejo meu lado também – atletas, pessoas com deficiência que precisam de um espaço. Essa minha luta sempre foi para mostrar que independentemente de condição física, de estar sentado ou em pé, você é capaz de conquistar sim, suas coisas. Muitas vezes, eu procuro mostrar o lado da vitória, o lado das conquistas sim. A gente está tão acostumado a ver a derrota, as dores, as dificuldades, e falta um caminho de esperança.

– Como é que vence sentado numa cadeira de rodas? Como que é o caminho da vitória? Se eu só vejo dificuldades, problemas, como que é que a gente consegue? Então, às vezes, precisamos de uma referência um pouco diferente do que é colocado. Eu tenho minhas dores, como todos que estão sentados, como todos que estão com uma lesão medular – tenho os meus problemas também, que não são poucos. Mas eu tento trazer um pouco de esperança, de falar que independentemente de estar sentado ou em pé, você consegue vencer sim. Você vai chegar onde você quiser, se você acreditar em você, se você criar caminhos diferentes que nunca foram mostrados e vistos. E agora, como apresentador, ter esse propósito de falar sobre a natureza, que é algo que sempre envolveu minha vida também é algo… Acho que, quando a gente tem um propósito na vida, a sua luta fica muito mais centrada, você fica muito mais certo de que você vai cumprir aquele objetivo, porque você tem um porquê e não, simplesmente, porque você vai vencer e ótimo. E aquilo vai lhe trazer um retorno, porque você sabe que seu retorno e sua vitória vão favorecer e vão ser a vitória de muitas pessoas.

Aliás, como começou sua carreira de apresentador, foi algo que você buscou ou chegou até você e você foi embarcando? Fez ou faz algum preparo para lidar com a câmera, participantes? A minha carreira de apresentador, eu posso dizer que começou lá atrás, quando eu ainda era um moleque fazendo publicidades com 12 anos, fazendo campanhas publicitárias onde eu fui aprendendo a lidar com as câmeras. Só que sempre fui um cara muito tímido, por incrível que pareça. Sempre fui moleque muito tímido e o esporte era uma forma de eu me expressar. Eu sempre me expressei através do físico, sempre fui muito habilidoso, sempre conquistei meu espaço através  da bola, do futebol, do boxe, da condição física.

O esporte sempre foi minha grande paixão e, quando eu sentei numa cadeira de rodas, eu vi que eu tinha que criar uma nova historia. Eu ia ter que criar novos caminhos, eu ia ter que contar uma historia de forma diferente do que vinha sendo contada e não poderia só executar aquilo. Que iria executar, desbravar esportes adaptados para quem nunca foram feitos. Abrir portas como se eu entregasse a maçaneta ou a chave na mão de outras pessoas. Para contar a historia de como minha porta foi aberta, porque eles não iriam saber contar – eu precisava contar de uma forma diferente, para quebrar esses paradigmas, para quebrar esses preconceitos. Então, eu entendi que a comunicação era importantíssima, não só em relação ao físico, de fazer e realizar coisas que ninguém imaginava. Também a comunicação verbal, e foi quando eu comecei a assumir esse papel de não ser só o atleta, mas ser um atleta que se comunica e que conta a história de uma forma diferente.

Chega de exemplo de superação, agora eu vou mostrar que eu consegui conquistar isso porque eu tive capacidade, que eu me uni a boas pessoas, porque eu consegui formar uma equipe ao meu redor muito boa que acreditasse no meu propósito, e que nós somos capazes, todos nós somos capazes. Então, essa minha linguagem, essa minha forma de comunicação foi ganhando força até eu chegar num programa onde eu tento extrair exatamente isso das pessoas.

Quem era o Fernando de 20 e poucos anos nos relacionamentos amorosos e quem é agora, nos 40? O que a passagem do tempo trouxe nesse sentido? O Fernando de 20 e poucos anos era um moleque que queria viver a vida loucamente, viajar o mundo. Loucamente,  no bom sentido. Mas viajar pelo mundo, praticar esportes, conhecer novos lugares, conhecer pessoas e o Fernando de 40, de 42 é um cara mais calmo, mais centrado, mais certo de quem é – tem mais consciência de quem é o Fernando, o que ele quer da vida. Eu, hoje, quero minha casa, quero meus amigos, eu quero usar a minha voz para transformar o mundo da minha maneira. Da maneira que eu acredito e  que eu possa trazer muita gente para esse caminho do bem. Sou um cara que adora praia e AMA o que faz – eu não poderia me ver de uma forma melhor. Eu acho que, se eu estou onde estou, meus erros e meus acertos me trouxeram ate aqui. Então, se eu tentar voltar atrás em qualquer coisa que passou eu não vi, vou  estar honrando a pessoa em que eu me tornei. Então, meus erros e meus acertos me trouxeram ate aqui e eu não trocaria nada para estar onde eu estou, da forma que estou da forma que estou vivendo.

Como é a sua rotina em casa, sua alimentação, prática de exercícios e cuidado com a mente, além da vida em família, com amigos e trabalho? Fala um pouco dos bastidores, do que a gente não vê, mas tem curiosidade em saber. Minha vida em casa é exatamente o que as pessoas veem nas redes sociais. Eu amo praticar meus esportes, eu amo estar na praia, eu amo estar cercado de pessoas boas, eu amo dividir coisas boas com pessoas boas, eu amo esporte, eu amo musica… Então,  podem ter certeza que tudo que vocês veem nas redes sociais é o que eu sou e o que eu vivo. Tenho meus problemas? Sim… E resolvo eles do mesmo jeito que eu resolvo nas redes sociais. Lá na minha cama que é um lugarzinho quente onde e eu falo comigo mesmo, onde eu converso com Deus.

Ter participado do The Masked Singer Brasil foi mais um desafio para sua coleção? Como foi a experiência de cantar por baixo daquela fantasia toda? O que foi mais difícil? The Masked Sing foi uma baita de uma experiência. Quando acabei a primeira temporada de No Limite como apresentador, eu pensei comigo, ahh eu quero fazer alguma coisa… acho até engraçado. Eu tenho medo das coisas que peço para Deus e que ele me entrega. Eu acho que vou fazer uma aula de dança sentado, uma aula de canto para aperfeiçoar e melhorar a voz. Na verdade, ai surgiu o convite. Isso eu não falei com ninguém – foi eu e Deus e aí surgiu o convite, eu falei cara…vamos nessa, e mais uma vez um desafio tremendo, porque toda a equipe de tecnologia da Globo, já tinha pensado numa cadeira daquele jeito. A gente foi transformando-a pra chegar onde chegou, pra que ninguém percebesse que ali tinha um cadeirante. E sim, que tinha uma pessoa ali, uma fantasia. Me surpreendeu tudo que eu vivi ali. Foi  tudo rápido, mas muito intenso – foi uma bela de uma escola de vida.

No seu dicionário existe a palavra medo? Como lida com ele? Existe a palavra medo. O medo é minha bússola. O medo é quem me direciona. É mentira a gente falar que não o tem. Quem fala que não tem medo tá mentindo. Quem fala que não tem medo, tenta fugir dele. Quando você foge de seus medos, é quando você vai ter mais que enfrentar eles. Eu nunca tive medo dos meus medos, mas quando eu sentei numa cadeirinha, eu decidi que eu tinha que olhar nos dele e aprender a controlá-lo porque, senão, eu não iria fazer nada da minha vida. Quando eu saio na rua e abro a porta da minha casa, eu já sinto medo. Eu sinto medo de não saber se eu vou chegar de onde eu me propus ir, mas eu sei que eu vou chegar, eu aprendi a controlar o medo. Eu tenho medo de quantos obstáculos vão aparecer na minha frente. Eu tenho uma serie de medos – todos nós temos medo, mas quando você aprende a controlá-lo, a sua vida muda.

Qual o segredo de se viver? Acho que a gente não vai descobrir nunca porque, sempre teremos nossas duvidas, nossos receios, nossos medos, nossas alegrias, mas alguns segredos a gente vai descobrindo no meio do caminho. Acho que o grande barato dessa vida, que eu aprendi, é entender que a vida é feita de problemas. A vida é feita de coisas a serem solucionadas. A vida é feita de desafios o tempo inteiro, seja um desafio financeiro ou físico, ela tá o tempo inteiro. Se você quiser viver uma vida, uma vida extraordinária, você vai ter que pagar um preço. Você vai ter que se colocar em situações que vão mexer com você. Só que, você tem que enfrentar isso como um desafio, ter tesão, nesses problemas do dia a dia. Eu aprendi a ter tesão nos problemas do dia a dia e lidar com eles de uma forma o mais natural possível, sabendo que ele faz parte do meu cotidiano. É saber que você vira um solucionador de problemas e quando você soluciona isso com mais agilidade, com mais clareza, acho que as coisas boas começam a acontecer. Mas, acho que o grande segredo de tudo, é ter gratidão por tudo! Gratidão!

Fotos Gabriel Wickbold 

Direção de Produção e Styling Ju Hirschmann 

Beleza André Florindo

Agradecimentos de moda Studio Orla @studioorla